Vovô do Ilê (Salvador, 1952), nome pelo qual é conhecido o músico Antônio Carlos dos Santos Vovô, fundador e presidente do bloco afro do Carnaval de SalvadorIlê Aiyê, e considerado "importante personalidade do movimento negro brasileiro" e "uma lenda do Carnaval baiano".[1]
Biografia
Filho da sacerdotisa Mãe Hilda,[2] ganhou o apelido "Vovô" quando ainda era criança e ia ao colégio usando um terno num tamanho maior que seu corpo;[1] ele tinha, então, nove anos de idade e ganhara o paletó de um primo de forma que as outras crianças, e até professores, diziam que ele parecia um velho e passaram a chamá-lo de vovô; ele não gostou do apelido e, com isso, o epíteto ganhava mais força.[3] Depois incorporou o apelido oficialmente ao seu nome.[1]
Vovô formou-se em técnico em patologia clínica e ainda em engenharia eletromecânica.[2]
Em 1974, apesar de ter um bom emprego no polo petroquímico, Vovô fundou o Ilê Aiyê, que fez sua estreia no ano seguinte, tendo Vovô a tocar um timbau, e abandonou o trabalho assim que o bloco começou a ganhar uma projeção maior do que esperava; percussionista conhecedor dos tambores dentro do contexto da religiosidade afro-brasileira, Vovô é ogã no Candomblé.[1]
No trabalho de organização do Ilê teve a ajuda dos irmãos Dete, Vivaldo Benvindo e Hildelice, aos quais se juntaram vizinhos, filhos, sobrinhos; teve ainda o apoio de Mãe Hilda na sua decisão de abandonar o emprego e se dedicar exclusivamente à causa que abraçou, onde "o que ele pensou para o Carnaval deu sentido à vida de seus familiares, produziu orgulho em uma comunidade, propagou a beleza de um povo".[1] No começo ele empregava boa parte do salário que recebia como encanador caldeireiro para custear os ensaios do bloco.[3]
No momento da fundação do Ilê Vovô teve que enfrentar uma primeira resistência que vinha da ditadura militar, para quem trabalhos como o que fazia no movimento negro era visto como comunismo; num primeiro momento o bloco chegou a se chamar "Poder Negro", em referência direta ao movimento Black Power que surgira nos Estados Unidos; Vovô tem um histórico de luta pela valorização do povo negro, contra a discriminação, sobretudo contra o racismo institucionalizado na própria população negra, como declarou: " existe o ranço da escravidão mental. Tem muito negão aí, preparado intelectualmente, com a vida resolvida, mas que tem muita atitude contra seu irmão. Eu tento lembrar o pessoal mais jovem que essa briga não é minha, é nossa, é coletiva. Não é uma luta social, é racial."[3]
Dentre suas realizações centralizadas sobretudo no bairro da Liberdade, região com maior concentração de população afrodescendente na capital baiana, estão o Projeto de Extensão Pedagógica e a Escola Profissionalizante do Ilê, das quais é o responsável.[2]
Em 2020 Vovô chegou a se lançar pré-canditado à prefeitura de Salvador, mas desistiu.[4] Em dezembro desse ano Vovô e outras pessoas vivas tiveram seus nomes retirados da lista de nomes das "Personalidades Negras" da Fundação Palmares, a exemplo da desembargadora Luislinda Valois, Gilberto Gil ou Milton Nascimento, seguindo portaria do diretor indicado por Jair Bolsonaro para quem caberia tal homenagem apenas a quem já tenha falecido; a escolha dos nomes da lista criada em 2011 era feita de forma participativa e democrática, e não levava em conta o fato de a personalidade estar viva ou não.[5]