Virgínia Torres Schall de Matos Pinto (Montes Claros, 2 de junho de 1954 — Belo Horizonte, 29 de abril de 2015) foi uma divulgadora de ciência, psicóloga, pesquisadora e educadora brasileira. Trabalhou na área de pesquisa e divulgação científica da Fundação Oswaldo Cruz, em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro.[1] Além da carreira na pesquisa, também foi escritora infantil e poetisa. Recebeu prêmios tanto por sua atividade literária quanto por seu trabalho de divulgação científica, incluindo o Prêmio José Reis de Divulgação Científica, em 1990.
Cooperou ativamente com órgãos públicos, como os Ministérios da Saúde e da Educação, a CAPES, o CNPq, a FAPERJ e a FAPEMIG, além de ter atuado internacionalmente em comitês da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS),[1] buscando sempre promover a divulgação do conhecimento científico e da educação. Sua perspectiva multidisciplinar permitiu o desenvolvimento de trabalhos sobre diversos temas, dentre eles: prevenção e controle de doenças infecciosas e parasitárias, educação e promoção da saúde, tecnologias educacionais e de informação sobre saúde, ambiente e ciências, ensino de ciências e espaços formais e não formais de aprendizagem.
Biografia
Nascida em Montes Claros-MG, Virgínia era a mais velha entre as cinco filhas da família. Quando jovem, estudou num colégio de freiras em Alvinópolis-MG, onde começou a desenvolver seu interesse pelo conhecimento e, a partir do contato com a Teologia da Libertação praticada por algumas de suas professoras, começou a se interessar por questões sociais e de igualdade que formaram a base de seus estudos em Saúde Coletiva posteriormente.[1]
Durante sua graduação (1973-1978) em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, se interessou por estudar os aspectos fisiológicos e biológicos do comportamento humano, o que a levou a participar como bolsista de iniciação científica de uma pesquisa coordenada pelo professor Fernando Pimentel de Souza que usava caramujos como modelo experimental para o estudo do cérebro humano.[1] Tal participação lhe rendeu o Prêmio Jovem Cientista do Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura e deu as bases para que continuasse os estudos nessa área durante o Mestrado (1978-1980) em Fisiologia e Biofísica na UFMG. Em 1996, Virgínia concluiu o doutorado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, com uma tese que de certa maneira se aprofundava menos nos temas estudados anteriormente e voltava-se mais para a educação infanto-juvenil em saúde e ciência.
Fiocruz
Em 1980, Virgínia mudou-se para o Rio de Janeiro para dar aulas no Departamento de Ciências Fisiológicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), mas pouco tempo depois, em 1981, tornou-se pesquisadora do Departamento de Biologia no Instituto Oswaldo Cruz (IOC).[1] Na Fiocruz, foi responsável por criar o Laboratório de Educação em Ambiente e Saúde (LEAS) em 1990, primeiro laboratório dedicado à educação e saúde da instituição, além de participar ativamente da construção do curso de pós-graduação de Ensino em Biociências e Saúde em 2004. Seu trabalho no LEAS foi muito inspirado pelos estudos de Paulo Freire e Vygotsky, os quais forneceram uma base teórica para a criação de uma nova linha de pesquisa que buscava produzir, editar e avaliar coleções[2] de livros e jogos para o público infanto-juvenil e possibilitava o ensino de ciência e saúde em ambientes formais e não-formais de ensino.[3]
Em 1999, Virgínia retornou a Minas Gerais para trabalhar no Centro de Pesquisas René Rachou (atual Instituto René Rachou - IRR), sede da Fiocruz-MG, onde criou o Laboratório de Educação em Saúde e Ambiente (LAESA) para desenvolver estudos sobre doenças negligenciadas e doenças infecciosas e crônicas, além de pesquisas sobre saúde sexual e reprodutiva de jovens e adolescentes.[1] Além do laboratório, Virgínia também foi fundamental na criação de dois programas de pós-graduação (o de Ciências da Saúde e o de Saúde Coletiva em 2011), os quais existem até os dias atuais.
Poesia
Paralelamente à carreira de cientista, Virgínia publicou alguns livros sobre poesia e recebeu prêmios por poesias de sua própria autoria.[1] Em 2002, foi eleita membra efetiva da Academia Feminina Mineira de Letras,[4] onde continuou a escrever e desenvolver seu lado literário.
Virgínia Schall formou-se em Psicologia na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (1978). Obteve o mestrado em Fisiologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1980) e doutorou-se em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1996).[3][5] No doutorado, voltou-se para o estudo da divulgação científica para crianças, tema caro à pesquisadora e que a inspirou a desenvolver muitos projetos direcionados ao público infantil e adolescente.
Docência e divulgação científica
Virgínia Schall dedicou boa parte de sua carreira à docência, conferindo igual importância aos ofícios de professora e pesquisadora. Empenhada em promover a inserção de jovens na educação científica, foi responsável pela implantação de programas como o Programa de Vocação Científica na Fiocruz-RJ (1988) e posteriormente a Iniciação Científica Júnior no CNPq.[1]
Ingressou na Fundação Oswaldo Cruz em 1985. Nessa instituição foi professora de Ciências da Saúde e Saúde Coletiva e pesquisadora do Laboratório de Educação em Ambiente e Saúde e do Centro de Pesquisas René Rachou.[6][7]
Em 1990, Schall recebeu o Prêmio José Reis de Divulgação Científica.[8] A comissão avaliadora assim justificou a premiação: "Pelo conjunto de seus trabalhos destinados a divulgar, principalmente entre crianças cursando o 1º grau, informações sobre higiene e doenças infecto-contagiosas, iniciado em 1983 com um trabalho sobre esquistossomose e que evoluiu para a coleção 'Ciranda da Saúde' e, depois na criação da 'Ciranda do Meio Ambiente'".[9] Na ocasião da entrega do mesmo prêmio para a Fiocruz, onde Schall trabalhou, este foi-lhe dedicado, em reconhecimento a sua atividade em prol da divulgação científica no Brasil.[10]
Em 2002, ela foi agraciada com o Prêmio Francisco de Assis Magalhães Gomes, da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado de Minas Gerais.[3]
Na Fiocruz, foi responsável pela criação de ciclos de teatro sobre a temática científica, chamados "Ciência em Cena"[11], e do jogo Zig-Zaids, para a conscientização sobre doenças sexualmente transmissíveis, como a Aids. Também criou a Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente, em 2001.[12][13]
Pesquisa
Sua trajetória profissional foi considerada "fundamental na constituição de inúmeras linhas de pesquisa no Brasil, tal como a Educação em Saúde, Saúde Coletiva, Ensino de Ciências e Divulgação Científica".[3] Destacou-se sua atuação no conhecimento e controle da esquistossomose, pela qual recebeu do Ministério da Saúde a Medalha Pirajá da Silva, em 2008.[14] Na área de pesquisa sobre a divulgação científica, buscou enfatizar a importância da representação emocional e das atividades lúdicas para a educação científica.[15]
Sua produção acadêmica alcançou um total de 564 registros, sendo 313 itens sobre Educação em Saúde.[3] A característica mais forte em todas as suas obras é a interdisciplinariedade, uma vez que Virgínia buscava unir diversas áreas do conhecimento para produzir trabalhos que conseguissem dialogar com o maior número de pessoas possíveis.
Museu da Vida
A Casa de Oswaldo Cruz, unidade responsável pela preservação do patrimônio histórico da Fundação Oswaldo Cruz e pela pesquisa em História das Ciências e da Saúde, inaugurou, em maio de 1999, o Museu da Vida, com o objetivo de promover divulgação e educação em ciência e saúde[16]. Por este motivo, valoriza a avaliação de suas iniciativas como uma oportunidade de aperfeiçoar suas propostas e conhecer quais elementos são importantes considerar na elaboração de novas atividades educativas em saúde.[17] As atividades oferecidas ao público visitante são frutos de uma construção coletiva de profissionais da Fiocruz (pesquisadores, técnicos, administradores) e de consultores que contribuíram para conceber e implantar os espaços temáticos de visitação como se encontram atualmente.[17]
O Museu recebe diariamente um público diversificado, como famílias, jovens, idosos, turistas, professores e principalmente grupos escolares de ensino fundamental e médio, que o frequentam nos dias de semana. Ciente de que as escolas são grandes promotoras do acesso de jovens a museus e centros de ciência do Rio de Janeiro, o Museu valoriza a relação com a educação formal e propõe projetos e programas específicos, visando a um intercâmbio que vai além da abertura das portas do museu às escolas.[17]
A Tenda da Ciência do Museu da Vida recebeu o nome de "Virgínia Schall" em 2016, em reconhecimento à atuação da pesquisadora na construção do museu e nas áreas de educação e divulgação científica.[11][16][18]
Literatura
Publicou livros infanto-juvenis, alguns dos quais para divulgar ciência.[5] Também escreveu livros de poesia, para adultos e crianças.[3] Por sua obra poética, recebeu vários prêmios: Concurso de Poesias Vinicius de Moraes, da Prefeitura do Rio de Janeiro (1994); Concurso Poesia na Vale da CVRD (1994); Prêmio Raul de Leoni, de poesia, da União Brasileira de Escritores (1995); Prêmio de Poesia da Academia Feminina Mineira de Letras (1998 e 2000).[3]
Integrou a Academia Feminina Mineira de Letras, na cadeira 25.[19]
- In Minas Memoria (2009)
- Cedo ou Tarde (2007)
- Contos de Fatos: histórias de Manguinhos (2001)
- Coleção Ciranda da Vida (1994), 4 volumes: Sem lugar na Arca de Noé, Segredos que crescem, Vida, viagem infinita e O mistério da caverna de luz
Reconhecimento
Homenagens
- Medalha Virgínia Schall de Mérito Educacional[21]
- Tenda da Ciência Virgínia Schall[11][18]
Prêmios
- Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social, 2011[22]
- Medalha Pirajá da Silva, 2008[14]
- Prêmio de Divulgação Científica Francisco de Assis Magalhães Gomes, 2002[3]
- Prêmio Anual de Poesia da Academia Feminina Mineira de Letras[23]
- Prêmio José Reis de Divulgação Científica, 1990[9]
Referências
- ↑ a b c d e f g h Pimenta, Denise Nacif; Struchiner, Miriam; Monteiro, Simone (outubro de 2017). «A trajetória de Virgínia Schall: integrando Saúde, Educação, Ciência e Literatura». CONSTRUTORES DA SAÚDE COLETIVA. 22 (10): 3473–3480. ISSN 1413-8123. doi:10.1590/1413-812320172210.33932016 – via Scielo
- ↑ As coleções mais relevantes da linha de pesquisa foram: Ciranda da Saúde (1986), Ciranda do Meio Ambiente (1989), Ciranda da Vida (1994).
- ↑ a b c d e f g h Pimenta, Denise Nacif; Borges, Leandro da Conceição; Araújo, Kizi Mendonça de; Guimarães, Maria Cristina Soares; Silva, Cícera Henrique da (29 de dezembro de 2016). «Repositórios temáticos e memória: a constituição da educação em saúde no Brasil por meio da trajetória de Virgínia Schall». Cadernos BAD. 0 (2): 145–152. ISSN 1645-2895
- ↑ «Virgínia Schall - AFEMIL - Academia Feminina Mineira de Letras». sites.google.com. Consultado em 30 de novembro de 2017
- ↑ a b «Virgínia Torres Schall». www.fiocruz.br. Consultado em 5 de fevereiro de 2017
- ↑ «Falecimento da pesquisadora da Fiocruz Virgínia Schall - Informe ENSP». www.ensp.fiocruz.br. Consultado em 5 de fevereiro de 2017
- ↑ «Nota de pesar pelo falecimento de Virgínia Torres Schall | ABRAPEC – Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências». abrapecnet.org.br. Consultado em 5 de fevereiro de 2017
- ↑ «CNPq escolhe ganhadores do Prêmio José Reis 1990». Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo. 33 (3): 240–240. 1 de junho de 1991. ISSN 0036-4665. doi:10.1590/S0036-46651991000300014
- ↑ a b «PREMIADOS - Portal Premios». premios.cnpq.br. Consultado em 5 de fevereiro de 2017
- ↑ «Fiocruz conquista Prêmio José Reis de Divulgação Científica 2015». Fiocruz
- ↑ a b c Almeida, Carla; et al. (9 de maio de 2019). Ciência em Cena: teatro no Museu da Vida (PDF). Rio de Janeiro: Fiocruz - Coc
- ↑ «Instituto Oswaldo Cruz - Ciência para a Saúde da População Brasileira». www.fiocruz.br. Consultado em 5 de fevereiro de 2017
- ↑ Silva, Miranda, Érica da; Torres, Schall, Virgínia; Brasil, Fundação Oswaldo Cruz. Centro de Pesquisas René Rachou. Belo Horizonte, MG,; Brasil, Fundação Oswaldo Cruz. Centro de Pesquisas René Rachou. Belo Horizonte, MG, (1 de janeiro de 2003). «Olimpíada brasileira de saúde e meio ambiente: relato de uma experiência inovadora na área do ensino fundamental e médio na região Sul-Minas»
- ↑ a b «Relação dos pesquisadores da FIOCRUZ agraciados com a Medalha Pirajá da Silva». pide.cpqrr.fiocruz.br. Consultado em 5 de fevereiro de 2017
- ↑ Schall, Virgínia. «Divulgação científica sobre saúde e ambiente para crianças: o valor da literatura, do lúdico e das experiências significativas em Museus de Ciência» (PDF). Divulgação científica e educação
- ↑ a b Bevilaqua, Diego; et al. (27 de abril de 2017). Museu da vida: ciência e arte em Manguinhos (PDF). [S.l.]: Fiocruz - Coc
- ↑ a b c SCHALL, Virgínia Torres; ROCHA, Vânia; LEMOS, Evelyse dos Santos (2010). «Avaliação da aprendizagem sobre saúde, em visita ao Museu da Vida». História, Ciências, Saúde. Consultado em 21 de janeiro de 2018
- ↑ a b «Tenda da Ciência recebe nome da pesquisadora Virgínia Schall». Portal da Casa de Oswaldo Cruz
- ↑ «Virgínia Schall - AFEMIL - Academia Feminina Mineira de Letras». sites.google.com. Consultado em 5 de fevereiro de 2017
- ↑ «Currículo Lattes de Virgínia Torres Schall». Centro Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. 6 de abril de 2016. Consultado em 21 de janeiro de 2018
- ↑ «Medalha Virgínia Schall de Mérito Educacional». Fiocruz. Consultado em 12 de março de 2018
- ↑ Informação, Working Minds Tecnologia da. «Jogo Educativo Transação: Sexo e Sexualidade na Adolescência». tecnologiasocial.fbb.org.br. Consultado em 28 de novembro de 2017
- ↑ «Lattes»