De uma família nobre, era filho de Metello Bichi, marquês de Rocca Albenga e Vittoria Piccolomini d'Aragona.[1] Foi destinado, ainda criança, a uma carreira eclesiástica e confiado desde 1677 aos cuidados e proteção do seu tio Carlo Bichi, bispo de Soana e cardeal, que o chamou a sua casa em Roma e o fez estudar pela primeira vez nos Jesuítas do Pontifício Seminário Romano e depois com os somascanos no Collegio Clementino.[2] Ele então se formou em direito civil e canônico em Roma, na Universidade "La Sapienza".[1]
Foi nomeado na sequência como núncio apostólico na Suíça em 5 de janeiro de 1703.[1][3] Em 1705, ele compareceu à nomeação do Príncipe-bispo de Constança, Johann Franz Schenk von Stauffenberg. Para acalmar as rivalidades entre as facções opostas dentro do capítulo, reivindicou a presidência para a eleição de bispos e abades. Em 1707, por ocasião da nomeação de Ignaz am Rhyn como prior de Beromünster, ele não conseguiu garantir o direito de investidura.[4]
A nunciatura suíça foi caracterizada por sua participação nas disputas entre os cantões católicos e protestantes, especialmente por ocasião da polêmica sobre os direitos de senhorio territorial da abadia de St. Gall, na qual ajudou a obter aos cantões católicos o apoio do imperador José I.[2][4]
Portanto, quando Clemente XI, cuja atitude favorável para com Filipe de Bourbon na questão da sucessão da Espanha fez o imperador e arquiduque Carlos hostil à Santa Sé, temendo uma iniciativa dos Habsburgos contra os Estados Papais, recorreu aos cantões católicos para obter o recrutamento de um contingente de infantaria, Bichi apoiou os cantões católicos em sua recusa, tanto porque não perderam seu apoio imperial, quanto para não privá-los das milícias tanto mais necessária quanto a controvérsia com os cantões protestantes. O pontífice finalmente cedeu aos argumentos de Bichi e renunciou ao projeto.[2]
Nunciatura em Portugal
Em 27 de setembro de 1709, foi nomeado núncio apostólico em Portugal, deixando a nunciatura suíça em 2 de dezembro do mesmo ano e regressando a Roma por um breve período, de onde partiu para Lisboa em outubro de 1710.[2][5] Foi fortemente criticado pelo clero português pelo seu escandaloso comportamento em Lisboa, que passava por abusos vários, nomeadamente na avultada venda de indultos. Essas queixas acabariam por levar Dom João V a queixar-se à Santa Sé. Bichi foi chamado ao Vaticano para se justificar. Depois de ser severamente avisado pôde regressar a Lisboa, mas o seu comportamento não melhorou, passando mesmo a ignorar ordens pontificas.[2][5]
Queria Dom João V que, quando Bichi fosse substituído, apesar de ser indesejado na Corte, lhe fosse dada a dignidade de um cardinalato, como era costume em Roma dar a núncios regressados de Madrid, Paris, e Viena e tal como aconteceu com o seu antecessor, Michelangelo dei Conti, de forma recorrente. Em setembro de 1720, Clemente XI chamou Bichi a Roma e nomeou o napolitano Giuseppe Firrao novo núncio em Lisboa. Dom João V, no entanto, manteve-se firme e não autorizou nem Bichi a deixar Lisboa, nem Firrao a entrar. E no início de 1721 morreu Clemente XI, sendo seu sucessor o antigo núncio em Portugal, o Papa Inocêncio XIII. No entanto, em maio de 1721, Inocêncio XIII confirmou Firrao como núncio, sem ceder quanto à questão do cardinalato. O monarca português recusou reconhecer a nomeação de Firrao, e continuou a exigir o cardinalato para Bichi, ameaçando mesmo cortar as relações diplomáticas.[2][5]
Inocêncio XIII morreria pouco depois, em 1724. O novo Papa Bento XIII via-se pressionado por um lado pelo cardeal português José Pereira de Lacerda, que tentava usar a sua influência na Cúria em favor do seu rei, e pelo lado contrário por um grupo de cardeais do Sacro Colégio liderados pelo embaixador francês, o cardeal Melchior de Polignac, que argumentavam que não seria correto premiar o mau comportamento e desobediência de Bichi.[2][5]
Finalmente, Dom João V concretizou em 1728 as ameaças que tinha feito alguns anos antes: encerrou a nunciatura em Lisboa, ordenou a todos os seus súditos em Roma que deixassem a cidade, e proibiu todos os portugueses, eclesiásticos e leigos, de manter relações diretas com a Santa Sé. Isto motivou Bento XIII a pedir a mediação de Filipe V de Espanha na questão, mas esta mediação foi categoricamente recusada por Dom João V. Por fim, no outono de 1730 o novo Papa Clemente XII, eleito poucos meses antes, cedeu totalmente aos desejos do Dom João V, comprometendo-se a promover Bichi ao cardinalato.[2][5]
Morreu em 11 de fevereiro de 1750, de apoplexia, em seu palácio na Via Lata, em Roma. Foi velado na igreja de San Marcello, em Roma, onde se realizou a capella papalis com a participação do Papa Bento XIV em 13 de fevereiro de 1750; e à tarde seu corpo foi transferido para a igreja de Santi Venanzio ed Ansovino e sepultado na tumba de seus ancestrais naquela igreja sem qualquer memorial.[1][3]