A construção é de importância inegável no "mythos" sobre Palladio. Em 1994, a UNESCO designou a Villa Trissino como parte do lugar Património da Humanidade designado como "Vicenza, Cidade de Palladio". Dois anos mais tarde, o lugar foi ampliado de forma a incluir as villas palladianas fora da área central, passando a chamar-se Cidade de Vicenza e Villas de Palladio no Véneto.
Não deve confundir-se esta villa com uma outra que, embora incompleta, também é denominada como Villa Trissino, desenhada por Palladio para Ludovico e Francesco Trissino, como documentado em I Quattro Libri dell'Architettura, e que está localizada na comuna de Sarego, a cerca de 20 km de distância.
História e arquitectura
Esta villa não é, seguramente, obra de Palladio, mas é um dos lugares do seu mito; na verdade está na sua origem. A tradição, de facto, diz que foi mesmo aqui que, na segunda metade da década de 1530, o nobre vicentino Gian Giorgio Trissino (1478-1550) encontrou o jovem pedreiro Andrea di Pietro empenhado nas obras de reforma da villa. Intuindo, de algum modo, a potencialidade e o talento do jovem, Trissino encarregou-se da sua formação, introduzindo-o na aristocraciavicentina e, no espaço de poucos anos, transformou-o num arquitecto que impõe o áulico nome de Palladio.[1]
Gian Giorgio Trissino era um letrado, autor de obras teatrais e de gramática, e em Roma tinha sido acolhido no restrito círculo cultural do Papa Leão X (membro da família Médici), onde havia conhecido Raffaello. Hábil amador de arquitectura (estão conservados os seus desenhos do próprio palácio na cidade e um esboço de tratado sobre arquitectura), é, provavelmente, responsável na primeira pessoa pela reestruturação da família em Cricoli, logo à saída de Vicenza, herança do seu pai.
Trissino não demoliu o edifício preexistente, de formas góticas, mas redesenhou, em primeiro lugar, a frente principal virada a sul, que se transformou numa espécie de manifesto de adesão à nova cultura construtiva fundada sobre a redescoberta da Arquitectura da Roma Antiga. Entre duas torres já existentes insere-se uma loggia com dupla ordem de arcadas, a qual se inspira directamente na fachada da Villa Madama, em Roma, de Raffaello, de acordo com o publicado por Sebastiano Serlio no Terzo libro dell’architettura (editado em Veneza em 1540).
O que Palladio terá desenhado realmente deste edifício ainda é objecto de debate. Algumas das proporções usadas são típicas do famoso arquitecto; na reorganização dos espaços interiores, a sequência das salas laterais, de dimensões diferentes mas ligadas por um sistema de proporções inter-relacionadas (1:1; 2:3; 1:2), identifica um esquema que se tornará num tema chave no sistema de projecto palladiano. O estaleiro estava, certamente, concluido em 1538. No final do século XVIII, o arquitecto vicentino Ottone Calderari interveio pesadamente no edifício e, na década de 1910, uma segunda campanha de trabalhos removeu os últimos vestígios da construção gótica.