A Freguesia de Valongo, com sede na cidade que lhe deu o nome, é uma freguesia portuguesa do Município de Valongo com 20.24 km² de área[1] e 25882 habitantes (censo de 2021)[2], tendo, por isso, uma densidade populacional de 1 278,8 hab./km².
História
Pré-História
A região da atual freguesia de Valongo, há cerca de 570 milhões de anos, estava submersa, o que deu origem a uma rica história geológica. Com o recuo do mar, rochas como xistos, grauvaques, quartzitos e conglomerados foram expostas, sofrendo ainda movimentações tectónicas. O mar avançou novamente no período Ordovícico, depositando sedimentos grossos que formaram ardósias e outras rochas xistentas com fósseis abundantes, especialmente trilobites,[3] que são atualmente uma mascote da freguesia.
Já durante os períodos Paleolítico e Mesolítico, a região de Valongo revela os vestígios remotos da presença humana. Artefactos primitivos, como machados, pontas e facas testemunham a passagem dos primeiros hominídeos por essas terras. Durante o Neolítico, houve um desenvolvimento cultural e artístico, com a utilização de instrumentos de xisto, osso e a produção de pequenas peças de cerâmica, e, desde então, diversos povos habitaram a atual freguesia de Valongo,[4] de entre os quais se destaca a cultura castreja, que floresceu na região antes da chegada dos Celtas e pode estar na origem da aldeia do Susão.[5]
Um exemplo do passado histórico da freguesia é a Casa da Orca, na Serra de Santa Justa, uma caverna esculpida pelo Homem numa imponente rocha.[4][6]
Ocupação romana e idade média
A partir das campanhas de Décimo Júnio Bruto, no século II a.C., o processo de romanização começa a fazer-se sentir nas comunidades nativas e, com a conquista definitiva do Noroeste Peninsular, no final do século I a.C., a região nunca mais seria a mesma.[6] O domínio romano está bem patente nos inúmeros fojos das Serra de Pias e de Santa Justa, que constituem prova da exploração do ouro e prata, riquezas que a região oferecia. Mas, mais importante ainda é o próprio nome da freguesia, que teve origem nas palavras latinas Vallis Longus (Vale Longo).[4] Durante a ocupação romana, Valongo tinha bastante importância política.[7] E pela atual zona de Susão passava uma estrada, vinda de Cale que seria parte do caminho mais utilizado para Roma.[5][8]
Esta região seria ainda ocupada por povos bárbaros, como suevos e visigodos, e mais tarde pelos Árabes e Mouros. Segundo relatos do Padre Lopes dos Reis, natural de Valongo, é provável que os habitantes locais não tenham oferecido resistência aos mouros, sendo deixados em paz durante esse período.[9] No entanto, chegaram aos dias de hoje bastantes lendas do tempo da ocupação muçulmana.[4]
Pinho Leal refere que a freguesia de Campo era conhecida em 897 por S. Martinho de Valongo e que a atual freguesia de Valongo (incluindo a "aldeia de Susão") pertencia de facto a S. Martinho de Valongo. Certo é que em 1062, a freguesia de São Mamede de Valongo (atual freguesia de Valongo) existia como padroado, concedido às freiras de S. Bento de Rio Tinto, e que verosimilmente teria a Capela de Nossa Senhora da Hora como Igreja Matriz.[4][10][11]
Nas Inquirições de 1295, é referido que a freguesia de Valongo incorporava o Julgado da Maia, onde continuaria inserido até à criação do concelho de Valongo, no século XIX.[4] Aparecen também as designações de Valongo de Cima (ou Susão) e Valongo de Baixo (ou Jusão).[5] Graças a essas Inquirações, sabe-se ainda que a indústria panificadora começava a crescer na região, havendo referência à construção de moinhos e açudes nas tais inquirições.[12]
Idade Moderna e Contemporânea
No século XVI, Valongo Susão passa a designar-se apenas Susão e Valongo Jusão ganha o nome Valongo da Estrada,[4] contando juntos com 583 habitantes.[10] Nesta altura, apesar de Valongo se situar num fértil vale irrigado pelos rios Ferreira e Leça, a produção local começou a mostrar-se insuficiente para sustentar a crescente população, levando ao aparecimento dos almocreves, que eram a maioria da população ativa e estabeleciam comunicação com outras terras do país e mesmo do estrangeiro. Por outro lado, Valongo também se tornou conhecido pelo trabalho feminino: a terra das padeiras, das roscas e dos biscoitos, cuja comercialização contribuiu para o desenvolvimento sócio-económico da freguesia e levou a que, no século XVII, Valongo fosse o centro abastecedor de pão à cidade do Porto.[10][5]
Os séculos XVII e XVIII desenrolaram-se de uma forma mais ou menos pacífica, proporcionando-se assim o crescimento populacional desta região. Já o século XIX ficou caracterizado pelos seus conflitos, devido às invasões francesas e à Guerra Civil Portuguesa. Em 1836, é finalmente criado o concelho de Valongo, com sede na freguesia homónima.[4]
Em 1875, com inauguração da Linha do Douro, entram em funcionamento a Estação de Valongo e o Apeadeiro de Suzão. E, ainda no século XIX, começa a extração de ardósia destinada essencialmente à exportação para Inglaterra e Estados Unidos.[4] A 8 de dezembro de 1883, é inaugurada a iluminação pública na vila de Valongo, mas esta é interrompida em 1885 devido ao seu elevado custo, só sendo retomada em 1888. Em 1887, já tinha sido inaugurada a primeira Estação Telégrafo-Postal da freguesia, na vila de Valongo.[13]
Em 1911, a freguesia de Valongo era constituída por 4 localidades: Valongo (2961 habitantes), Susão (602 habitantes), Couce (70 habitantes) e Pereiras (23 habitantes).[14] Na segunda metade do século XX, Valongo viu um crescimento sem precedentes, levando a que os aglomerados de Susão e Valongo, previamente relativamente isolados, ficassem bastante mais conectados.[15] É também nesta época que surge o fascínio do hóquei em patins na freguesia, depois do grande resultado da equipa portuguesa no campeonato mundial de 1947, culminando com a fundação da Associação Desportiva de Valongo em 1955.[16]
Nos finais do milénio, a Câmara Municipal criou o projeto da "Nova Valongo", que pretendia criar um novo centro urbano onde se fixariam entre 17 a 20 mil pessoas, começando pela zona da Quinta da Lousa.[17] O projeto obteve forte oposição,[18][19] e acabou por ser abandonado antes de estar completo.[20]
No século XXI, Valongo destacou-se no seu trabalho ambiental e de sustentabilidade, tendo sido reconhecida com o prémio European Green Leaf 2022.[21]
Demografia
A população registada nos censos foi:[2]
População da Freguesia de Valongo[22] |
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Ano | Pop. | ±% |
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1864 | 3 002 | — |
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1878 | 3 312 | +10.3% |
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1890 | 3 587 | +8.3% |
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1900 | 3 643 | +1.6% |
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1911 | 3 718 | +2.1% |
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1920 | 3 605 | −3.0% |
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1930 | 3 986 | +10.6% |
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1940 | 5 914 | +48.4% |
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1950 | 6 738 | +13.9% |
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1960 | 6 124 | −9.1% |
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1970 | 7 871 | +28.5% |
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1981 | 10 351 | +31.5% |
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1991 | 13 103 | +26.6% |
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2001 | 18 698 | +42.7% |
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2011 | 23 925 | +28.0% |
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2021 | 25 882 | +8.2% |
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Distribuição da População por Grupos Etários[23]
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Ano
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0-14 Anos
|
15-24 Anos
|
25-64 Anos
|
> 65 Anos
|
2001
|
3496
|
2936
|
10792
|
1474
|
2011
|
4476
|
2613
|
14465
|
2371
|
2021
|
3887
|
2905
|
15264
|
3826
|
Património Cultural
Personalidades ilustres
Festas e Romarias
4º Domingo da Quaresma
- Festa de Santa Justa e Santa Rufina
Penúltimo Domingo de julho
- Festa de Nª Senhora da Saúde
último Domingo de julho
- Festa de S.Mamede (Padroeiro) - 17 de agosto
Referências
- ↑ «Carta Administrativa Oficial de Portugal, versão de 2017». descarrega ficheiro zip/Excel. Consultado em 24 de maio de 2023
- ↑ a b Instituto Nacional de Estatística (23 de novembro de 2022). «Censos 2021 - resultados definitivos»
- ↑ «História do Concelho de Valongo - Introdução». Regional Editora. Cópia arquivada em 25 de outubro de 2009
- ↑ a b c d e f g h i «História do Concelho de Valongo». Regional Editora. Cópia arquivada em 11 de fevereiro de 2011
- ↑ a b c d AZEVEDO, Maria - A igreja matriz de Valongo : arquitectura 1794-1836 (1999)
- ↑ a b «Livro Parque das Serras do Porto» (PDF)
- ↑ Simão Rodrigues Ferreira (1875). Antiguidades do Porto. [S.l.: s.n.]
- ↑ Vieira, José Augusto (1886). O Minho Pitoresco. [S.l.]: Livraria de António Maria Pereira
- ↑ Ferreira, Nuno (2016). Igreja Matriz de Sobrado- O Segredo da Memória. Valongo: Edição de Autor
- ↑ a b c Valongo, um salto para a modernidade... Valongo: Anégia Editores. 2000
- ↑ «Paróquia de Valongo». Arquivo Destrital do Porto
- ↑ «Plano de Gestão do Parque das Serras do Porto» (PDF)
- ↑ Ferreira Mata, Joel Silva (2021). História Económica, Social e Administrativa do Concelho de Valongo (1836-1926) Volume I. [S.l.]: Câmara Municipal de Valongo. ISBN 978-989-99837-1-7
- ↑ Augusto Dias, Manuel (2021). Valongo na Primeira República. [S.l.]: Câmara Municipal de Valongo. ISBN 978-989-54573-3-5
- ↑ PEREIRA, Carlos - As identidades do território invisível - paisagens de Valongo "entre serras" (2016)
- ↑ Neves, João Castro (2023). O Hóquei em Valongo - Resumo histórico 1953 - 1980. [S.l.]: Câmara Municipal de Valongo. ISBN 978-989-54573-9-7
- ↑ «Nova cidade nasce em Valongo». Público. 14 de julho de 2000. Consultado em 25 de setembro de 2023
- ↑ «CDU defende abandono do projecto da "Nova Valongo"». Público. 2 de setembro de 2005. Consultado em 25 de setembro de 2023
- ↑ «"Projecto da Nova Valongo não passou de um mito"». Jornal de Notícias. 27 de agosto de 2005. Consultado em 25 de setembro de 2023
- ↑ «Valongo, entre o ser e o não querer ser um cemitério de prédios inacabados». Público. 2 de dezembro de 2012. Consultado em 25 de setembro de 2023
- ↑ «Congratulations to Tallinn, Valongo and Winterswijk, the new winners of European Green City awards!». European Commission. 10 de setembro de 2021. Consultado em 13 de setembro de 2022
- ↑ Instituto Nacional de Estatística (Recenseamentos Gerais da População) - https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes
- ↑ INE. «Censos 2011». Consultado em 11 de dezembro de 2022