Tebas (arquiteto)

Tebas
Nascimento 1721
Santos, SP, Brasil
Morte 11 de janeiro de 1811
São Paulo, SP, Brasil
Cidadania Brasil Colônia
Etnia Afro-brasileiro
Ocupação Artesão e arquiteto

Joaquim Pinto de Oliveira (Santos, 1733São Paulo, 11 de janeiro de 1811)[1] também conhecido como Tebas, foi um artesão e arquiteto brasileiro.

Escravizado, obteve sua alforria, tornando-se arquiteto em São Paulo durante o Brasil Colonial, onde contribuiu para a mudança arquitetônica do centro da capital.[1][2]

Biografia

Joaquim ou Tebas, como acabou conhecido, nasceu escravizado na vila de Santos, provavelmente em 1733.[3] Era filho de Clara Pinta. Em algum momento foi levado para a capital, São Paulo, pelo mestre-pedreiro português, Bento de Oliveira Lima, que detinha sua propriedade juntamente com sua esposa, Antonia Maria Pinta, de quem, provavelmente, assumiu o sobrenome.[4]

Como mestre de cantaria, parte de seu trabalho era o de talhar blocos de rocha bruta para a construção de edifícios.[5] Isso o tornou fundamental na modernização de uma São Paulo construída basicamente com taipa, técnica ancestral de utilizar barro para moldar edificações, mas com limitações de estilo e arquitetura. Tebas trabalhou principalmente para as diversas ordens religiosas da capital paulista, como os beneditinos, franciscanos, carmelitas e católicos na ornamentação de igrejas, como o Mosteiro de São Bento e a antiga Catedral da Sé (1778).[4][6]

Alforria

Sé, São Paulo, 1862. Foto de Militão de Azevedo

Tebas teria conseguido sua alforria aos 44 anos de idade, ainda que a documentação a respeito apresente contradições. Alguns dizem que a alforria foi entre 1777 e 1778, depois de uma ação judicial contra a viúva de Bento de Oliveira Lima. Outros acreditam que Tebas já trabalhava com certa autonomia na época, assinando contratos e recebendo diretamente por seus trabalhos, o que o teria levado a comprar sua liberdade em troca. Outra fonte diz que a alforria estava juramentada no testamento de Bento de Oliveira Lima.[6] Outras indicam como idade de sua alforria como 58 anos.[7]

Obras

Um de seus trabalhos mais importantes, o Chafariz da Misericórdia, erguido no que é hoje a rua Direita, no centro da capital, foi demolido em 1866. Trata-se do primeiro chafariz público da cidade, construído quando Tebas já era alforriado e contava com sistema hídrico que canalizava as águas do ribeirão Anhangabaú. Era ali que escravizados se reuniam para buscar água e abastecer as casas de seus senhores.[6][8]

Embora tenha tido seu talento reconhecido em vida, sua história caiu no esquecimento, sendo resgatada pelas faculdades de arquitetura. Obras como as fachadas da Igreja da Ordem 3ª do Carmo e da Igreja das Chagas do Seráfico Pai São Francisco, ambas no centro da capital, resistem ao tempo e continuam de pé.[6][8]

Morte

Joaquim exerceu seu ofício até os 90 anos. Morreu na capital paulista, em 11 de janeiro de 1811, devido a uma gangrena possivelmente causada por acidente de trabalho.[6] Ele foi sepultado na Igreja de São Gonçalo, localizada na Praça João Mendes, centro de São Paulo.[4]

Reconhecimento

O apagamento de suas obras levou a um reconhecimento tardio, mais de 200 anos depois, em 2018, pelo Sindicato dos Arquitetos no Estado de São Paulo (Sasp), depois que documentos oficiais localizados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) revelaram as relações de trabalho entre o arquiteto e as ordens religiosas.

Em 10 de setembro de 2020, o então prefeito de São Paulo, Bruno Covas, anunciou a construção de uma estátua em homenagem a Tebas, no centro da cidade, por seu influente trabalho na arquitetura da capital paulista.[9]

Homenagem a sua memória

Na 13ª Semana de Design de São Paulo, uma das cinco exposições que ocorreram em endereços específicos do centro histórico da cidade, homenageou a memória do arquiteto. Intitulada Misericórdia e Algazarra[10], a exposição localizada no edifício da Misericórdia trouxe Joaquim Tebas como homenageado e buscou evidenciar contribuições de pessoas negras por meio do conceito Seiva e Cidade.[7]

Ver também

Referências

  1. a b «Arquiteto escravizado do século 18 tem história recuperada na Jornada do Patrimônio, em SP». Folha de S.Paulo. 16 de agosto de 2019. Consultado em 1 de novembro de 2019 
  2. Secretaria Municipal de Cultura (ed.). «Lançamento - Tebas: um negro arquiteto na São Paulo escravocrata». Prefeitura da Cidade de São Paulo. Consultado em 30 de junho de 2020 
  3. «A trajetória de Joaquim Pinto de Oliveira, o Tebas: trabalho, escravidão, autonomia e liberdade em São Paulo colonial (1733-1811).». Unifesp. Consultado em 1 de fevereiro de 2021 
  4. a b c Regiane Oliveira (ed.). «Tebas, o negro escravizado que marcou a arquitetura de São Paulo». El País. Consultado em 30 de junho de 2020 
  5. Raquel Freire (ed.). «Tebas, arquiteto escravizado, ganha homenagem do Google com Doodle». Techtudo. Consultado em 30 de junho de 2020 
  6. a b c d e f g Ferreira, Abilio (2018). Tebas: um negro arquiteto na São Paulo escravocrata (PDF). São Paulo: IDEA. p. 132. ISBN 978-65-80005-01-7 
  7. a b «Retrofit chega ao calçadão histórico de São Paulo com exposição principal evidenciando vozes negras». TV Cultura. Consultado em 20 de março de 2024 
  8. a b «Conheça a história de Tebas, o arquiteto escravizado que esculpiu ícones de São Paulo». Casa Vogue. Consultado em 30 de junho de 2020 
  9. «São Paulo construirá estátua em homenagem a Tebas, arquiteto escravizado no século XVIII». ArchDaily. Consultado em 12 de setembro de 2020 
  10. «Caminhada 'São Paulo do arquiteto Tebas'». DW!. Consultado em 20 de março de 2024 

Bibliografia

Ligações externas