Snaps

Cavalheiros a beber Snaps, Suécia, advento do séc. XX.

Os Snaps[1] (termo comum às línguas dinamarquesa e sueca) são bebidas alcoólicas fortes, que se bebem em copos de pequenas dimensões (copos de shot) à refeição. Há todo um ritual tradicional escandinavo (sentido mais demarcadamente na Dinamarca e na Suécia), associado ao acto de beber os snaps, no ensejo de festividades tradicionais, seja o Natal, as festas juninas ou a Páscoa.[2][3]

Este ritual descreve-se nos seguintes termos:

Um grupo de pessoas reúne-se à volta da mesa, para um almoço tradicional, que inclui uma série de pratos diferentes e bebidas claras e fortes. O anfitrião serve o líquido gelado em copos cónicos de pé alto e fino (cálices) arrefecidos. A dada altura, levanta o copo e os demais convivas fitam-se nos olhos, assegurando-se de que ninguém fica posto de parte. «Skål!» atroa o anfitrião e, de seguida, todos tomam um gole. Mais uma vez, todos se fitam e os copos regressam à mesa, não se voltando a levantar, até que o anfitrião volte a levantar o seu. O líquido é aquavit. Este ritual é virtualmente o mesmo por toda a Escandinávia.[4]

Na Dinamarca, os snaps são sempre aquavit, sendo certo que há inúmeras variedades. Na Suécia, porém, os snaps são um termo mais abrangente; embora, regra geral, possa ser aquavit, também pode ser vodka, lícores amargos ou brännvin (lit."vinho queimado", bebida alcoólica destilada de batatas e cereais)[5]. Bebidas brancas, como o whisky ou o brandy raramente se bebem como snaps. [6]

Uma das bebidas alcoólicas mais fortes da Finlândia, que é servida como snaps, é o «Marskin ryyppy» (lit. bebida do marechal), crismada em honra do Marechal Carl Gustaf Emil Mannerheim[7].[8]

O termo «snaps» também tem relevo na língua alemã, sob a grafia schnaps, reportando-se ambiguamente a qualquer tipo de bebida alcoólica forte.[9]

Cultura

Junfru tradicional, usada para servir brännvin

Para acompanhar os snaps é comum servir alguns aperitivos e acepipes tradicionais, como arenque curado com batata ou o famoso surströmming sueco.

Os suecos, dinamarqueses e os finlandeses sueco-falantes têm certas tradições de cantar determinadas cantigas especiais as "snapvisor" ou "snap-visas", antes de beber snaps. As snaps-visas normalmente são odes à alegria de beber snaps, podendo louvar o sabor dos snaps ou exprimir o desejo de os beber.[10]

Os snaps e as ''snaps-visas'' são elementos essenciais das tainadas do lagostim, que são celebrações marcadamente ebrifestivas.[3] No decurso desta tainada podem cantar-se dúzias de ''snaps-visas'', sendo que cada uma dessas cantigas pressupõe escorropichar uma rodada de snaps, logo de seguida.[11]

Volume

A unidade de medida mais comum para as snaps era a Jungfru (lit. gaiata)[12], que correspondia a 8.2 cl, mas que, entretanto, caiu em desuso depois de 1850. Em meados do século XX, o snaps-padrão pedido num restaurante sueco teria um volume médio de 7.5 cl. Dois snaps perfaziam 15 cl, o que correspondia à ração diária permitida pela legislação sueca da época.[13]

Os snaps dinamarqueses, amiúde alcunhados com o hipocorístico de "pequeninos" noutras partes do mundo nórdico, podem chegar a volumes tão diminutos como 1 cl, o que permite pouco mais do que molhar os lábios, para saborear o licor.[13]

Confecção caseira destes licores

Selecção de diferentes tipos de snaps aromatizados, designadamente: snaps de amendoa; snaps de avelã; snaps de endro; snaps de alcaçuz

Salvo autorização legal para o efeito, é proibido destilar bebidas alcoólicas em casa, nos países escandinavos.Porém, as destilarias domésticas são uma tradição que grassa por inúmeras localidades rurais da Suécia, Finlândia e Noruega.[14]

A tradição de aromatizar snaps existe na Escandinávia há séculos[15]. Esta tradição tem maior expressão nas regiões austrais desses territórios, particularmente na Dinamarca. Os aficionados dos snaps podem comprar snaps de fabrico comercial e depois adicionar sabores, juntando-lhes ervas aromáticas silvestres ou cultivadas no jardim. Por exemplo, no Norte da Dinamarca, é confeccionado o bjesk ou bäsk (lit. «amargo»)[16], uma versão dos snaps, que leva especiarias variegadas.[14]

Em Hirtshals está o museu da história do bjesk.

Os sabores adicionados mais populares são: o abrunho; murtinho; endro; noz; hipericão e absinto.[16] Regra geral, as ervas aromáticas em questão são adicionadas individualmente, mas há quem as goste de as misturar umas às outras, em busca do "sabor perfeito".[11][17]

Nomes

Tradicionalmente, os snaps são denominados em função da ordem em que são servidos à refeição. O nome mais famoso é o Helan[18], o snaps da estreia, o qual goza de uma snaps-visa epónima, a Helan går[19][20].

Subsegue-o em popularidade o nome Halvan, que se remete aos segundos snaps[18]. Historicamente, contudo, há listas que arrolam até 17 snaps diferentes, para se poderem tomar no transcurso de uma ceia. Há muitas variantes possíveis dessa lista, mas os nomes dos snaps tendem a coincidir grosso modo na mesma ordem.[21]

A seguinte lista é considerada um exemplar clássico de um rol de nomes de snaps a tomar numa refeição festiva, no século XIX. Não existe nenhuma lista oficialmente estabelecida, as listas modernas acabam por ser feitas ad hoc.

Nomes dos snaps[6]:

  • Helan
  • Halvan
  • Tersen (terceira)
  • Kvarten (a quarta)
  • Kvinten (quinta)
  • Sexten (sexta)
  • Septen (sétima, também dita «Finsk-sexan» lit. "sexta à finlandesa")
  • Rivan
  • Räfflan (a curva)
  • Rännan (aljeroz, também chamada «Repetitionen» lit. "ensaio")
  • Smuttan
  • Smuttans unge (o filho de smuttan)
  • Lilla Manasse (pequeno Manasés)
  • Lilla Manasses broder (irmão do pequeno Manasés)
  • Femton droppar (quinze pingas)
  • Kreaturens (åter)uppståndelse (ressurreição do bicho)
  • Absolut sista supen (derradeira ceia)

Referências

  1. «snaps | SAOB» (em sueco). Consultado em 6 de dezembro de 2020 
  2. «Snaps - Systembolaget.se». web.archive.org. 9 de novembro de 2014. Consultado em 6 de dezembro de 2020 
  3. a b Christina Johansson Robinowitz & Lisa Werner Carr (2001). Modern-Day Vikings: A Practical Guide to Interacting with the Swedes. [S.l.]: Intercultural Press. p. 123. ISBN 1-877864-88-9 
  4. Blue, Anthony Dias (2004). The Complete Book of Spirits: A Guide to Their History, Production, and Enjoyment. New York: HarperCollins Publishers. p.  42. ISBN 0-06-054218-7 
  5. Sandklef, Albert (1978). Trettio sorter kryddat brännvin. Stocolm: Norstedts. 114 páginas. ISBN 917-842-036-9 
  6. a b «Allt om snaps | Svenska Snapsar». web.archive.org. 26 de agosto de 2014. Consultado em 6 de dezembro de 2020 
  7. «Etusivu». kansallisbiografia.fi. Consultado em 7 de dezembro de 2020 
  8. Uola, Mikko (2002). Marskin ryyppy: marsalkkamme juomakulttuuria chevalier-kaartista ylipäällikön ruokapöytään. Seura: Suomalaisen Kirjallisuuden. 174 páginas. ISBN 951-746-385-5 
  9. Haugen, Einar (1965). Norwegian-English Dictionary. Madison: University of Wisconsin Press 
  10. «Drinking song – Snapsvisa». archive.is. 3 de março de 2009. Consultado em 6 de dezembro de 2020 
  11. a b Lyngby Jepsen, Hans (1981). Kold, sød, stærk og brændende. København, Danmark: Gyldendal. ISBN 87-00-49021-0 
  12. «1441-1442 (Nordisk familjebok / 1800-talsutgåvan. 7. Hufvudskål - Kaffraria)». runeberg.org (em sueco). 1884. Consultado em 6 de dezembro de 2020 
  13. a b «Aftonbladet mediecenter: 100 ºr med Aftonbladet». wwwc.aftonbladet.se. Consultado em 6 de dezembro de 2020 
  14. a b «denstoredanske.dk | lex.dk». Om lex.dk (em dinamarquês). Consultado em 6 de dezembro de 2020 
  15. Hellquist, Elof (1922). «808 (Svensk etymologisk ordbok)». runeberg.org (em sueco). Consultado em 6 de dezembro de 2020 
  16. a b «Shenet - Malörtstinktur». www.shenet.se. Consultado em 6 de dezembro de 2020 
  17. «Allt om snaps | Svenska Snapsar». web.archive.org. 26 de agosto de 2014. Consultado em 6 de dezembro de 2020 
  18. a b «helan och halvan - Uppslagsverk - NE.se». www.ne.se. Consultado em 6 de dezembro de 2020 
  19. «Helan går (melodi: Helan går) - Snapsvisor.eu». www.snapsvisor.eu. Consultado em 6 de dezembro de 2020 
  20. «Helan går ; Aria ur Figaros bröllop | Svensk mediedatabas (SMDB)». smdb.kb.se. Consultado em 6 de dezembro de 2020 
  21. Hellquist, Elof (1922). «989 (Svensk etymologisk ordbok)». runeberg.org (em sueco). Consultado em 6 de dezembro de 2020 

Ligações Externas