Registam-se diversas lendas na região que pretendem justificar a origem do Santuário. Possuem em comum a ação milagrosa de uma antiga cruz de pedra com a imagem esculpida de Cristo crucificado, hoje exposta no altar-mor da igreja. A mais popular afirma que na década de 1730, vivendo a região uma prolongada seca com grandes prejuízos para a agricultura, um lavrador foi chamado pela imagem, que se encontrava escondida num combro por entre silvados, em terreno da Colegiada de Santa Maria de Óbidos, junto à estrada que ligava esta vila a Caldas da Rainha. A imagem "clamou-lhe" veneração, o que o lavrador veio a cumprir com o concurso de alguns outros populares, registando-se a partir de então as chuvas.
A tradição pretende ainda que aquela pequena escultura havia ali sido colocada pela própria rainha D. Leonor, para indicar o caminho das águas curativas de Caldas, constituindo-se em objeto de veneração à época daquela soberana, mas tendo depois caído no esquecimento. Com a sua redescoberta pelo lavrador e o subsequente "milagre", a imagem voltou a ser objeto de devoção popular, tendo sido erigida uma capela de madeira para albergá-la.
Em 1737 foi feita a oferta simbólica da primeira moeda de esmola para a construção de um novo templo que albergasse a imagem milagrosa do Senhor Jesus da Pedra, de modo que, com risco do arquiteto capitão Rodrigo Franco, da Mitra Patriarcal, em 1740 foi lançada a primeira pedra do templo, dedicada a São Tomé Apóstolo, por D. José Dantas Barbosa, arcebispo de Lacedemónia, ministro da cúria patriarcal, juiz das justificações de genere e delegado de D. Tomás de Almeida, cardeal patriarca.
As obras receberam novo impulso a partir de 1742, quando João V de Portugal iniciou os seus tratamentos no Hospital Termal Rainha D. Leonor, passando a visitar frequentemente a imagem do Senhor Jesus da Pedra, pela qual tinha grande veneração, ofertando-lhe avultadas esmolas.
Com esses auxílios, em 1747 iniciaram-se as solenidades de inauguração do Santuário, com a chegada a Óbidos do arcebispo de Lacedemónia, e recepção junto ao Santuário, onde foi proferida uma oração. O arcebispo visitou a Família Real em Caldas da Rainha, comunicando ao soberano as datas previstas para as celebrações. Este, a seu turno concedeu o seu aval e ordenou que o tesouro da Igreja de Nossa Senhora do Pópulo fosse posto à disposição para as cerimónias. As solenidades compreenderam:
a sagração dos sinos dedicados a Santa Maria, São José e Santo António;
missa solene oficiada no altar lateral dedicado a Nossa Senhora da Conceição;
exposição e veneração das relíquias de sagração do altar, pertencentes aos mártires São Sebastião e Santo Honorato;
a sagração do altar e dedicação do templo;
o encerramento das relíquias no interior do altar-mor;
a trasladação da imagem do Senhor Jesus da Pedra para o novo santuário, com a presença da Família Real (excepto o soberano), da Corte e do Clero da região;
tríduo solene de inauguração e festividades populares;
missa oficiada pelo prior de Santa Maria de Óbidos, Pe. Brás Antunes Correia;
sermão pregado pelo Dr. José Caldeira, cavaleiro professo da Ordem de Cristo e presbítero secular;
missa oficiada pelo prior de São Tiago de Óbidos, Fr. José de São Bernardo, monge jeronimita;
sermão pregado por Fr. Martinho de Castro, monge jeronimita e professo do Mosteiro de Santa Maria de Belém;
festividade da Invenção da Santa Cruz;
missa oficiada pelo prior de São Pedro de Óbidos, Dr. José Rodrigues Leal;
sermão pregado pelo eclesiástico Dr. Filipe de Oliveira, orador da Corte;
procissão solene com a exposição do Santíssimo Sacramento; e
pagamento da obra das vidraças do Santuário;
Em 1751 registou-se a conclusão da abóbada de cantaria da torre do lado norte.
No contexto da Guerra Peninsular (1808-1814), em 1808 registou-se a entrega da prata do Santuário do Senhor da Pedra para pagamento do resgate às tropas invasoras francesas.
Em 1997 tiveram lugar as celebrações dos 250 anos do Santuário, sendo inaugurado um núcleo museológico.
Em 2010, a Câmara Municipal de Óbidos solicitou ao Gabinete de Gestão do Património Histórico, a elaboração de uma proposta de classificação do conjunto contituído pelo Santuário, construções anexas (antiga Casa dos Romeiros e Chafariz) assim como de proposta para delimitação da respectiva Zona Especial de Proteção. Como resultado, o IGESPAR anunciou a abertura de processo administrativo de classificação.[2]
Características
Exemplar de arquitetura religiosa, em estilo barroco, de enquadramento rural, isolado.
O templo, inacabado, destaca-se pela originalidade da articulação da sua planta hexagonal, inscrita numa circunferência, à qual se anexam três corpos, dois correspondentes às torres e outro que corresponde à sacristia. No seu programa de simetrias destaca-se o jogo de janelas invertidas.
O seu interior apresenta três capelas: a capela-mor dedicada ao Calvário, com uma tela de André Gonçalves, e as capelas laterais dedicadas a Nossa Senhora da Conceição e à Morte de São José, com telas de José da Costa Negreiros.
↑Publicado no DR de 23 de maio de 2011, 2ª série, nº 99. In "Processo em Curso: Classificação do Santuário do Senhor Jesus da Pedra", Jornal Mais Oeste, 3 jun 2011, nº 56 p. 7.