O Retrato do doge Leonardo Loredan (em italiano: Ritratto del doge Leonardo Loredan) é uma pintura a óleo sobre madeira pintada em 1501 pelo pintor italiano Giovanni Bellini e que se encontra na National Gallery de Londres.
A obra está assinada "IOANNES BELLINVS" na cartela inserida sob o parapeito, sendo geralmente considerada como o auge da retratística de Bellini.[1]
História
A pintura é datada de 1501, ou de pouco depois, quando o doge de VenezaLeonardo Loredan tomou posse. A idade de cerca de sessenta e cinco anos coincide com a data. Foi o primeiro retrato oficial de um doge feito a três quartos, marcando uma atualização importante numa tradição veneziana enraizada.[1]
O artista soube usar habilmente o meio relativamente novo do aglutinante oleoso, por exemplo, ao tornar a textura dos tecidos deliberadamente áspera na cor.[2]
A obra foi adquirida pelo Museu em 1844.
Descrição e estilo
O doge Loredan é retratado em traje de cerimónia usando o capacete chamado "corno" ("chifre"), típico dos doges, sobre o camauro com laços, contra um fundo azul, e tendo em frente o habitual parapeito de mármore, em primeiro plano, onde o artista colocou a sua assinatura como que num papel desdobrado.[2]
O doge usa uma capa fechada de brocado branco e dourado, com o motivo da romã (típico de quem governa, porque simbolizava a união dos indivíduos), com gola alta e grandes botões dourados chamados sinos (que de fato soavam como pequenos sinos): apenas ao doge e aos seus familiares era permitido usar ouro, de acordo com as leis suntuárias em vigor.[2]
As regras de Antonello da Messina são aqui bem aplicadas no realismo sutil, que se manifesta na cuidadosa identificação fisionómica concretizada em detalhes como as rugas da testa. O personagem está a três quartos, de acordo com a maneira flamenga introduzida em Veneza por Antonello, e não de perfil, como impunha a tradição iconográfica dos retratos dos doges (imagem ao lado), usada ainda por exemplo por Gentile Bellini.[1]
A dignidade do personagem e do seu cargo é dado pela fixidez e desapego solene, dados pela falta de contato visual com o espectador; a mesma forma de busto lembra os retratos dos antigos imperadores e dá ao sujeito uma aura de poder e prestígio. Em nome da decoração oficial e hierárquica, é proibido a definição psicológica, assim como uma individualização excessiva, distanciando-se da regra hiper-realista de Antonello.[1]
Mas numa apreciação mais minuciosa, Bellini caracterizou o rosto do Doge, diferenciando ligeiramente as duas metades: à direita, as rugas iluminadas por trás sublinham a idade e, em certo sentido, a modéstia de um homem desgastado pelo tempo como qualquer ser humano, e que, com a idade de 65 anos, compreende que o seu poder é limitado pelo tempo de vida; à esquerda, os traços são mais suaves e mais benevolentes, sugerindo o temperamento do homem de fé.[2]