A Pirapitinga ou Caranha (nome científico: Piaractus brachypomus), é um peixe de água doce da família Serrasalmidae,[2][3] nativo da Bacia Amazônica, na América do Sul (uma população do Rio Orinoco foi descrita em 2019 como espécie separada, a Piaractus orinoquensis).[4] É uma das espécies nativas mais criadas em cativeiro no Brasil. A espécie foi inicialmente classificada como parte do gênero Colossoma, a qual pertence o tambaqui, recebendo os nomes científicos C. brachypomum e C. bidens.[2] Em 1818, Cuvier a nomeou Myletes brachypomus.
Etimologia
Pirapitinga é uma palavra originaria da Língua tupi onde significa Peixe pintado[5]
Habitat
É um peixe que habita originalmente regiões de mata alagada das bacias amazônica e Tocantins-Araguaia.
[6] Porém, foi introduzida em países como Estados Unidos, Canadá, China, Mianmar, Papua Nova Guiné e Taiwan.[3] Suas larvas são encontradas em rios de águas brancas. Os adultos vivem vivem em áreas de várzea e igapós, em todos os tipos de rios, ocorrendo também em rios pobres em nutrientes.[7][8] Durante o período chuvoso, os peixes migram para florestas de várzea. Habitam principalmente rios com águas de fluxo lento e lagos com pH entre 4,8 e 6,8 e temperatura da água entre 23 e 28°.[3]
Características
A pirapitinga é um peixe escamado, de corpo romboidal, comprido, repleto de escamas cinza-arroxeadas(podendo ser cinza-claro em indivíduos jovens) com reflexo prateado, com o dorso apresentando um padrão levemente avermelhado. O número de escamas na linha lateral curvada para baixo é de 70 a 89, enquanto as ventrais de 46 a 63.[9] Possui uma serra na quilha abdominal. Suas nadadeiras são amareladas, sem desenhos. A nadadeira anal é longa, podendo ser vermelha com borda preta (esta última caracteristica também atribuida à nadadeira caudal), enquanto a adiposa pode estar reduzida ou completamente ausente em adultos.[10] A cabeça é desproporcional ao corpo. Sua mandíbula inferior é coberta por um lábio carnudo. Possui muitos dentes molares, que servem parar mastigar vegetais e frutos, e por isso é um animal herbívoro. Faz sua reprodução em época de piracema, desovando em locais mais rasos e de temperatura menor, sempre em época das cheias dos rios.[11] A espécie pode atingir até 88 centímetros de comprimento e pesar até 25 quilos. São peixes que podem viver até os 28 anos.[3]
Os juvenis têm o peito vermelho e podem ser facilmente confundidos com a piranha-vermelha, sendo distinguidos desta por meio de seus dentes, semelhantes a molares.[2] Pensa-se que essa semelhança seja mimetismo batesiano das pirapitingas para evitar predadores.[12] Os indivíduos adultos não tem a barriga vermelha e brilhante e se assemelham mais ao tambaqui, sendo distinguidos destes por algumas características: a pirapitinga tem a nadadeira adiposa menor e sem raios, sua cabeça é mais arredondada (menos alongada e pontuda), além de diferenças nos dentes e no opérculo.[2] Quando ao pacu-caranha, ele pode ser distinguido por sua escama menor e pelo maior número de escamas laterais (mais de 110).[13][2]
Comportamento
De maneira geral, o comportamento da pirapitinga se assemelha ao do tambaqui. Ela faz migração mas o padrão ainda não foi totalmente esclarecido. Faz sua desova durante o início da estação de cheio, entre novembro e fevereiro.[7][8]
Alimentação
Alimentam-se principalmente de conteúdo vegetal como frutas e sementes, mas podendo consumir zooplâncton, insetos, crustáceos e pequenos peixes, principalmente durante o período de seca.[12][14] Por comer frutos e sementes, é uma grande dispersora, em geral até mais eficiente que o tambaqui, uma vez que ela causa menos danos às sementes.[15]
Reprodução
Os machos atingem sua maturidade sexual por volta dos 3 anos de idade, enquanto as fêmeas por volta dos 4 anos. Em seu habitat natural, fazem sua reprodução em águas com temperatura por volta de 26°, chegando a produzir entre meio milhão a um milhão de ovos. [16]
Aquicultura e pesca
Na região amazônica a pirapitinga é uma importante fonte de alimento e bastante consumida por sua carne ser considerada saborosa.[3] Por conta disso a partir de 2012 passou a ser gravemente afetada pelo consumo desenfreado. Para nutrir tal demanda, o peixe passou a ser criado por aquicultores de todo o mundo.[17] Eles se adaptam facilmente em tanques com baixo nível de oxigênio[18] e tem baixas exigências quanto ao teor de proteína na ração. Logo, a espécie se caracterizou por seu rápido crescimento, baixa exigência alimentar (ração com mais carboidratos e menos proteínas) e resistência à má qualidade da água. Sua criação em conjunto com bagres levou a maior rendimento de biomassa por conta da forma diferente que as espécies utilizam o alimento, baixando também os custos de alimentação a medida que aumenta a eficiência. [19] Alimentar os peixes à noite também mostrou ser mais eficiente produzindo maior ganho de peso.[20] Isso se justificaria pelo fato do consumo de energia por parte da pirapitinga ser menor durante a noite, verificando-se que o peixe é mais ativo ao entardecer.
A despeito da espécie ser nativa de águas brasileiras e sul americanas, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) é a China o país que mais produz o peixe em cativeiro. Em 2020, a China produziu 59,4 mil toneladas do peixe, enquanto o Brasil modestas 1,8 mil toneladas. [21]
Aquarismo
Indivíduos menores podem ser criados em aquários com temperatura entre 24° e 27°, onde podem viver em associação com bodós (peixes do gênero Hypostomus) e aruanã (Osteoglossum bicirrhosum), atingindo de 5 a 15 anos de vida.[22]
Espécie invasora
A partir de 2012, a espécie Piaractus brachypomus já havia sido introduzida em pelo menos 16 estados dos Estados Unidos, onde se espalharam amplamente por causa das altas temperaturas.[2] Na Papua-Nova Guiné, a espécie foi introduzida no Rio Sepik e no Rio Ramu em 1997, como parte do programa "Fishaid" da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura para proporcionar mais fontes de proteínas à população local. Por lá a pirapitinga causou danos ecológicos à fauna e flora fluvial, agredindo a população local de Ciclídeos como as tilápias, além de várias espécies de plantas aquáticas das águas do rio Sepik. A medida que se expandiam no novo ecossistema, passaram a ser mais carnívoras. Houve até acidentes envolvendo nadadores que foram moridos por grandes exemplares da espécie.[23] Em alguns locais onde foram introduzidas, as pirapitingas são frequentemente confundidas com piranhas.[24] Até mesmo na Croácia foram capturados exemplares da espécie,[9] havendo também a possivel observação ou captura na costa da Polônia e Dinamarca no Mar Báltico.[25]
Hibridização com tambaqui
A pirapitinga pode se reproduzir artificialmente com o tambaqui, um parente próximo, dando origem a um híbrido intergenérico batizado de tambatinga. Nesse processo, são utilizados o sêmen de uma macho de pirapitinga e ovócitos de uma fêmea de tambaqui. O híbrido teria capacidade de crescimento maior e mais rápido, maior eficiência na filtração de plâncton e também mais ciclos reprodutivos que as espécies que o originaram e também o tambacu, outro híbrido (este entre o tambaqui e o pacu-caranha). Além disso, o tamanho menor da cabeça da tambatinga traria mais rendimento de carne aos produtores.[26]
↑ abCarlos A R M Araujo-Lima; Mauro Luis Ruffino (janeiro de 2003). «Migratory fishes of the Brazilian Amazon» (em inglês). Migratory Fishes of South America. Consultado em 16 de março de 2024
↑Stephen T. Ross; et al. (2001). The Inland Fishes of Mississippi (em inglês). [S.l.]: University Press of Mississippi. 624 páginas. ISBN1578062462 !CS1 manut: Uso explícito de et al. (link)