Phoenix (Феникс) foi uma revista samizdat publicada na URSS em 1961 e 1966 por Yuri Galanskov[1][2], consistindo essencialmente em antologia de textos - literários, políticos e religiosos - discordantes da linha soviética oficial. Apenas dois números foram publicados (Phoenix-61 e Phoenix-66), tendo os seus editores sido detidos em janeiro de 1967 e condenados a penas de prisão. Galanskov viria a morrer no gulag em 1972.
Phoenix-61
A primeira edição da Phoenix foi em 1961, na sequência da chamada "Majakovka" - reuniões de jovens poetas e escritores não-conformistas junto à estátua de Maiakovsky que haviam ocorrido nesse ano. Galanskov, participante dessas reuniões, datilografou editou a revista como uma antologia de textos literários e poéticos não censurados, nomeadamente de autores da nova geração como Anatolij Ščukin, Apollon Šuchta, Vladimir Višnjakov, Natalya Gorbanevskaja e o próprio Galanskov (que publicou o seu poema "Manifesto Humano"). Também dois textos de Boris Pasternak (um poema e um extrato da sua autobiografia) foram incluídos[3].
Em virtude da repressão governamental contra os seus autores, e também pela seu tamanho (cerca de 200 páginas), a Phoenix pouca divulgação teve e logo desapareceu de circulação na URSS, tendo em 1962 sido republicada integralmente no ocidente pela "Grani", uma revista da comunidade exilada.[3]
Phoenix-66
Em junho de 1966, Galanskov voltou a publicar um volume da Phoenix, em reacção ao julgamento, em fevereiro desse ano, dos escritores dissidentes Andrei Sinyavsky e Yuli Daniel. Ao contrário da publicação anterior, esta consistia mais em textos políticos ou filosóficos em vez de poéticos ou literários, como "O que é o realismo socialista?", de Sinyavsky (artigo que havia sido considerado judicialmente como "antisoviético"), "A via russa para o socialismo e os seus resultados", uma recolha de textos póstumos do economista Eugene Varga, defendendo a liberalização do regime,[4] "Carta aberta a Mikhail Sholokhov" (criticando o escritor quem em 65 havia recebido o Nobel) e "Problemas organizativos do movimento pelo desarmamento total e geral e pela paz no mundo" (ambos de Galanskov)[5] - o artigo inicial declarava que grande parte do conteúdo da Phoenix-66 seria considerado indesejável pelo estado soviético.[4]
A repressão
Os editores de Phoenix-66 foram detidos a 17 e 19 de janeiro de 1967.[6] Em 1967-68 Galanskov, Alexander Ginzburg, Alexander Dobrovolsky e Vera Lashkova foram julgados por terem editado e distribuído (e datilografado, no caso de Laskhova) Phoenix-66 e também o Livro Branco, um documento sobre o processo contra Sinyavsky e Daniel[7]. No que veio a ficar conhecido como o Julgamento dos Quatro, Ginzburg foi condenado a 5 anos de prisão e Galanskov a 7[8] (Galanskov viria a morrer na prisão).
Referências
- ↑ Boobbyer, Philip (2008) [2005]. «The rebirth of conscience under Khruschev». Conscience, Dissent and Reform in Soviet Russia (em inglês). [S.l.]: Routledge. p. 59. 282 páginas. ISBN 978-0-415-33186-9. Consultado em 23 de abril de 2015
- ↑ Emma, Gilligan (2004). «Dissidentsvo». Defending Human Rights in Russia. Sergei Kovalyov, Dissident and Human Rights Commissioner, 1969-2003 (em inglês). [S.l.]: Routledge. p. 17. 272 páginas. ISBN 0-203-34872-9
- ↑ a b «Feniks». Tra memoria e utopia: il samizdat come simbolo della cultura europea (em italiano). Dipartimento di Lingue e Letterature Anglo-Germaniche e Slave - Università di Padova. Consultado em 7 de maio de 2015
- ↑ a b Joussellin, Jean (1969). «As Defesas». As Revoltas dos Jovens. Col: Justiça e Paz, 1. Lisboa: União Gráfica. p. 155-156 , citando Clement, Olivier (7 de outubro de 1967). Procés d'intellectuels. Réform
- ↑ «Feniks-66». Tra memoria e utopia: il samizdat come simbolo della cultura europea (em italiano). Dipartimento di Lingue e Letterature Anglo-Germaniche e Slave - Università di Padova. Consultado em 8 de maio de 2015
- ↑ Joussellin, Jean (1969). «Os Factos». As Revoltas dos Jovens. Col: Justiça e Paz, 1. Lisboa: União Gráfica. p. 55 , citando Clement, Olivier (7 de outubro de 1967). Procés d'intellectuels. Réform
- ↑ «Russian Intellectuals Ask Open Trial for Writers». The Morning Record (em inglês). 14 páginas. 11 de dezembro de 1967
- ↑ «Resistance to Unfreedom in the USSR». The Andrei Sakharov Museum and Public Center 'Peace, Progress, Human Rights' (em inglês). Consultado em 12 de junho de 2015
Ligações externas
- «Grani nº 52, 1962» (PDF) (em russo). Republicação da Phoenix-61. Consultado em 28 de abril de 2015
- «Feniks '66» (em italiano). Tradução italiana da Phoenix-66. Consultado em 28 de abril de 2015
- «Феникс» (em russo). Indíce dos artigos da Phoenix-66. Consultado em 25 de abril de 2015