O Perseu com a cabeça da Medusa é uma estátua esculpida pelo italiano Antonio Canova. Está preservada no Cortile Ottagono dos Museus Vaticanos. Foi realizada em mármore branco e tem um tamanho ligeiramente acima do natural.
Possivelmente a sua composição mais célebre no gênero heróico e uma das principais em toda a sua produção, o Perseu foi concebido em torno de 1790 mas esculpido com grande rapidez entre fins de 1800 e o início de 1801, no retorno de sua viagem à Alemanha. Foi inspirado no Apolo Belvedere, uma obra considerada então como o ápice da estatuária clássica grega e um representante perfeito do Belo ideal.[1]
Perseu não é figurado em combate, mas no seu triunfo, sereno, no momento de relaxamento após a tensão da luta com a Medusa. Nele estão expressos dois princípios psicológicos opostos mas contíguos, o da "ira cessante" e o da "satisfação nascente", como sugeriu a condessa Isabella Albrizzi, uma de suas primeiras comentaristas, ainda em vida do autor.[1]
Imediatamente após sua conclusão foi reconhecido como uma obra-prima, mas houve quem criticasse seu caráter excessivamente "apolíneo", próprio para o deus mas não para um herói, e sua atitude por demais "graciosa", indigna de um guerreiro. Leopoldo Cicognara ironizou o fato dizendo que os críticos, na impossibilidade de atacarem a execução, tida como impecável por todos, procuraram desmerecer seu conceito. Anos mais tarde, quando Napoleão invadiu a Itália, confiscou o Apolo e o levou para a França. O papa então adquiriu o Perseu como substituição e mandou instalá-lo no pedestal da imagem roubada, um gesto de grande valor simbólico para os italianos, abalados com o saque de suas riquezas pelo invasor. Por isso o Perseu recebeu o apelido de O Consolador.[1][2]
Pela soberba conquista artística que a estátua é, em 1802 Canova recebeu do papa Pio VII o título de cavaleiro da Ordem da Espora de Ouro.[3] Foi a única honraria que Canova recebeu pessoalmente, avesso que era ao cerimonial. Durante a cerimônia o papa colocou a comenda no peito do artista com suas próprias mãos, uma quebra de protocolo que chamou a atenção geral na época, e que significava a alta estima que o papa lhe devotava. Para muitos daquela época, Canova, hoje considerado um dos maiores expoentes do estilo Neoclássico, era o maior escultor desde Fídias, na verdade era chamado de o Novo Fídias.[4]
Existe uma segunda versão do Perseu que foi criada entre 1804 e 1806 para a condessa Valeria Tarnowska da Polônia e que hoje está no Museu Metropolitano de Arte de Nova Iorque, e que segundo a descrição do museu mostra um maior refinamento nos detalhes e uma abordagem mais lírica do sujeito.[5]
Referências
- ↑ a b c Pinelli, Antonio. Il Perseo di Canova e il Giasone di Thorvaldsen: due modelli di "nudo eroico" a confronto. IN Kragelund, Patrick & Nykjærpp, Mogens. Thorvaldsen. Volume 18 de Analecta Romana Instituti Danici. Supplementum. L'Erma di Bretschneider, 1991. pp. 25-30
- ↑ Johns, Christopher M. S. Antonio Canova and the politics of patronage in revolutionary and Napoleonic Europe. University of California Press, 1998, p. 40
- ↑ Cicognara, conde Leopoldo. Biographical Memoir. IN Bohn, Henry G. (ed). The Works of Antonio Canova, in Sculpture and Modelling, engraved in Outline by Henry Moses; with Descriptions by Countess Albrizzi, and a Biographical Memoir by Count Cicognara. Londres: Henry G. Bohn, 1823. Vol. I, pp. xx-xxi
- ↑ Johns, pp. 25; 65-66
- ↑ The Metropolitan Museum of Art. Antonio Canova: Perseus with the Head of Medusa (67.110.1). IN Heilbrunn Timeline of Art History. New York: The Metropolitan Museum of Art, 2000
Ver também