Pederastia na Grécia Antiga

Casais pederastas em um simpósio, como descrito no afresco de um túmulo na colônia grega de Pesto, na Itália

A pederastia na Grécia Antiga era uma relação socialmente reconhecida entre um adulto e um jovem do sexo masculino geralmente na adolescência.[1][2][3] Foi uma característica social dos períodos arcaico e clássico.[4][5][a] Alguns estudiosos localizam sua origem no ritual de iniciação, especialmente os ritos de passagem. Na ilha de Creta, a prática foi associada com a entrada na vida militar e na religião de Zeus.[7][8][b] O costume social chamado pelos gregos de paiderastia era tanto idealizado quanto criticado na literatura e na filosofia antigas;[10][11][12][13] o costume não aparece nos poemas Épicos de Homero e parece ter se desenvolvido no final do século VII a.C., como um aspecto da cultura grega homossocial,[14] que foi caracterizada também pela nudez atlética e artística, o casamento adiado por aristocratas, simpósios e pelo isolamento social das mulheres.[15] A influência da pederastia era tão difundida que tem sido chamada de "a essência do modelo cultural para relações livres entre os cidadãos."[16][17]

Estudiosos têm debatido o papel e (ou) a importância da atividade sexual, que é susceptível a ter variado de acordo com o costume local e com a inclinação individual.[carece de fontes?] Atualmente, o termo "pederastia" implica o abuso de menores, mas o direito ateniense, por exemplo, não reconhecia o consentimento e a idade como fatores de regulação do comportamento sexual.[18][c] Conforme o historiador clássico Robin Osborne indicou, a discussão histórica da pederastia é complicada no século XXI devido aos padrões morais vigentes:

É o trabalho do historiador chamar a atenção para as questões pessoais, sociais, políticas e até morais por trás das representações literárias e artísticas do mundo grego. O trabalho do historiador é apresentar a pederastia e tudo o que a envolvia, para ter certeza de que... encarando que a glória que foi a Grécia era parte de um mundo em que muitos dos nossos próprios valores encontram-se desafiados e não reforçados.[18]

Ver também

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Notas

  1. A variedade sexual, incluindo paiderastia, era característica da era helenística.[6]
  2. Um pioneiro no estudo da homossexualidade grega rejeita a teoria de origem da iniciação.[9] Para Dover, o argumento de que a paiderastia grega como costume social relacionava-se a ritos de passagem constitui uma negação da homossexualidade como natural ou inata; isso pode ser exagerar ou distorcer o que os teóricos disseram. A teoria iniciatória não pretende explicar a existência da homossexualidade, mas a paiderastia formal.
  3. Entretanto, havia convenções de idade para a atividade sexual, e se um homem as violasse seduzindo um menino jovem demais para consentir em ser eromenos, o predador sexual poderia sujeitar-se à lei sobre a húbris.[19]

Referências

  1. Reeve, C.D.C (2006), Plato on Love: Lysis, Symposium, Phaedrus, Alcibiades with Selections from Republic and Laws [Platão sobre o amor: Lísias, Simpósio, Fedro, Alcebíades, com seleções de A República e Leis] (em inglês), Hackett, p. xxi .
  2. Nissinen 1998, p. 57.
  3. Blake, Nigel (2000), Education in an Age of Nihilism [Educação numa era de niilismo] (em inglês), et al, Routledge, p. 183 .
  4. Nissinen 1998, p. 57.
  5. Percy, p. 17.
  6. Green, Peter (1998) [1989], «Sex and Classical Literature», Classical Bearings: Interpreting Ancient Culture and History [Referências clássicas: interpretannddo cultura e história antigas] (em inglês), University of California Press, p. 146 .
  7. Koehl, Robert B (1986), «The Chieftain Cup and a Minoan Rite of Passage» [A taça do chefe e um rito minoico de passagem], Journal of Hellenic Studies (em inglês), 106: 99–110 , com um resumo dos estudos relevantes, incluindo Arthur Evans (p. 100) e H. Jeanmaire e R.F. Willetts (pp. 104–5).
  8. Kamen, Deborah (2007), «The Life Cycle in Archaic Greece», The Cambridge Companion to Archaic Greece [O companheiro de Cambrige para a Grécia arcaica] (em inglês), Cambridge University Press, pp. 91–92 .
  9. Dover, Kenneth (1997), «Greek Homosexuality and Initiation», Que(e)rying Religion: A Critical Anthology [Efeminando e questionando a religião: uma antologia crítica] (em inglês), Continuum, pp. 19–38 
  10. Dover, Kenneth (1978) [1898], Greek Homosexuality [Homossexualidade grega] (em inglês), Harvard University Press, p. 165, note 18 , where the eschatological value of paiderastia for the soul in Plato is noted.
  11. Barberà, Paul Gilabert; Symonds, John Addington (2004), «A Problem in Greek Ethics. Plutarch's Eroticus Quoted Only in Some Footnotes? Why?», The Statesman in Plutarch's Works [O Estadista nos trabalhos de Plutarco] (em inglês), Brill, p. 303 .
  12. The pioneering view of Ellis, Havelock (1921), Studies in the Psychology of Sex [Estudos na psicologia do sexo] (em inglês), 2 3rd ed. , Philadelphia: F.A. Davis, p. 12 .
  13. For Stoic "utopian" views of paiderastia, see Dawson 1992, p. 192.
  14. Hubbard, Thomas, «Pindar's Tenth Olympian and Athlete-Trainer Pederasty», Desejo e amor homossexual na antiguidade grecorromana (em inglês), pp. 143, 163 (note 37) , with cautions about the term "homosocial" from Percy 2005, p. 49, note 5.
  15. Percy, Reconsiderations about Greek Homosexualities [Reconsiderações sobre homossexualidades gregas] (em inglês), p. 17 et passim .
  16. Dawson 1992, p. 193.
  17. Boys-Stones, George (1998), «Eros in Government: Zeno and the Virtuous City» [Eros no governo: Zeno e a cidade virtuosa], Classical Quarterly (em inglês), 48: 169, there is a certain kind of sexual relationship which was considered by many Greeks to be very important for the cohesion of the city: sexual relations between men and youths. Such relationships were taken to play such an important role in fostering cohesion where it mattered — among the male population — that Lycurgus even gave them official recognition in his constitution for Sparta .
  18. a b Osborne, pp. 12, 21.
  19. Ferrari, Gloria (2002), Figures of Speech: Men and Maidens in Ancient Greece [Figuras de linguage: homens e donzelas na Grécia antiga] (em inglês), University of Chicago Press, pp. 139–40 .

Bibliografia