Parménides(português europeu) ou Parmênides(português brasileiro) (em grego clássico: ΠαρμενίδηςParmenides) é um dos diálogos de Platão. No diálogo são apresentadas eminentemente questões referentes à tese das formas inteligíveis, à ontologia platônica e ao Um (ou "Uno"), em suas relações de todo e parte (mereologia), unidade e multiplicidade, repouso e movimento, ser e não-ser, e de mesmidade e alteridade.[1][2]
Personagens do Diálogo
Os personagens principais são Sócrates, Parmênides e Zenão de Eleia. Em um primeiro plano, outros personagens dramáticos estão presentes: Céfalo de Clazômenas (não é, portanto, o Céfalo do diálogo A República), Antifonte (irmão de Platão por parte de mãe), Adimanto e Gláucon (irmãos de Platão, também presentes no diálogo A República). Em um segundo plano estão: Aristóteles (um dos trinta tiranos que governaram Atenas após a Guerra do Peloponeso) e Pitodoro (filho de Isolocos).[3]
Questões relativas à Obra
É geralmente considerado como um dos mais difíceis, se não um dos mais enigmáticos e desafiadores, diálogos de Platão.[4][5][6] O Parmênides se presta a uma grande variedade de interpretações, as quais dependerão o sentido e o significado não só do diálogo, mas do conjunto da obra de Platão.[7]
O diálogo estrutura-se em dois planos. No primeiro, o personagem Céfalo descreve seu encontro com Gláucon e Adimanto e, depois, com Antifonte. Seu objetivo é ouvir a narração da conversa ocorrida entre Sócrates, Parmênides e Zenão. Tal narração só poderia ser feita por Antifonte, pois este havia tido uma relação muito próxima à Pitodoro, companheiro de Zenão, que, por sua vez, havia transmitido muitas vezes o relato da conversa ao mesmo.[8] No segundo, ocorre a narração da conversa por Antifonte, à qual estiveram presentes também Pitodoro e Aristóteles (não se trata do famoso filósofo aqui).[8]
O Parménides supõe, portanto, uma ocasião em que se encontraram dois grandes filósofos da escola eleática, Parménides e Zenão de Eleia, a que se juntou o jovem Sócrates. O motivo do encontro foi a leitura por parte de Zenão do seu tratado a defender o monismo de Parménides contra os apoiantes da pluralidade que diziam que a suposição de Parménides de que existe uma unidade, dá origem a contradições e absurdos.
No diálogo há uma tensão entre uma primeira e segunda partes. Na primeira o jovem Sócrates introduz sua crítica a Zenão, apresentando a tese das formas inteligíveis, e a vê submetida à crítica de Parmênides. A segunda parte é uma demonstração do método de investigação utilizado por Zenão, no qual o personagem Parmênides recomenda a Sócrates exercitar-se, para melhor investigação de sua teoria.[9] Uma segunda interpretação mais moderna (neoplatônica) diz que a segunda parte do diálogo teria uma importância maior, posto que o um da tese de Parmênides é ali hipostasiado (uma realidade em si com valor substantivo) e, assim, o um da primeira hipótese é identificado com o Bem de que fala A República e, finalmente, erigido em primeiro princípio, de onde emanam todas as coisas, inteligíveis e sensíveis.[9]
Citação
No começo do diálogo Céfalo se refere às narrações de Antifonte e Pitodoro, que tratam sobre o encontro do jovem Sócrates com os filósofos Parmênides e Zenão de Eleia. Ali Antifonte afirma ter Pitodoro visto a primeira reação de Sócrates (127e) a leitura da tese de Zenão:[10]
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Então, tendo Sócrates ouvido (a leitura), pediu que fosse lida novamente a primeira hipótese do primeiro argumento e, tendo sido ela lida, disse: que queres dizer com isso, Zenão? Que, se os seres são múltiplos, então é preciso que eles sejam tanto semelhantes quanto dessemelhantes, mas que isso é impossível, pois nem as coisas dessemelhantes podem ser semelhantes nem as semelhantes, dessemelhantes? Não é isso que queres dizer?
↑Maura Iglésias e Fernando Rodrigues. Notas sobre a composição dramática do diálogo. In: PLATÃO. Parmênides. Rio de Janeiro\São Paulo: PUC-Rio e Loyola, 2003, pp. 14-18.
↑Maura Iglésias e Fernando Rodrigues. Apresentação do Diálogo. In: PLATÃO. Parmênides. Rio de Janeiro\São Paulo: PUC-Rio e Loyola, 2003, p. 7 e ss.
↑ abMaura Iglésias e Fernando Rodrigues. Notas sobre a composição dramática do diálogo. In: PLATÃO. Parmênides. Rio de Janeiro\São Paulo: PUC-Rio e Loyola, 2003, p. 13.
↑ abMaura Iglésias e Fernando Rodrigues. Apresentação do Diálogo. In: PLATÃO. Parmênides. Rio de Janeiro\São Paulo: PUC-Rio e Loyola, 2003, p. 11.
↑PLATÃO. Parmênides. Tradução, apresentação e notas por Maura Iglésias e Fernando Rodrigues. Rio de Janeiro\São Paulo: PUC-Rio e Loyola, 2003, p. 25.
Bibliografia
Press, Gerald A. (2012). The Continuum Companion to Plato (em inglês). [S.l.]: A&C Black. ISBN0826435351
PLATÃO. Parmênides. Tradução do grego, apresentação e notas por Maura Iglésias e Fernando Rodrigues. Rio de Janeiro\São Paulo: PUC-Rio e Loyola, 2003.
PLATÃO. Parmênides - Filebo. In: Diálogos de Platão. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Belém: Universidade Federal do Pará, 1974.