Palazzetto Zuccari ou Palazzo della Regina di Polonia é um palácio localizado na Piazza Trinità dei Monti, na esquina da Via Sistina e a Via Gregoriana, no rioneCampo Marzio de Roma[1].
História
Federico Zuccari era um artista nascido em Urbino que já havia trabalhado em Roma e em Florença (são seus os afrescos na cúpula da igreja de Santa Maria del Fiore), o que lhe rendeu fama e riqueza. De volta a Roma por causa de uma série de encomendas, ele resolveu contruir para si uma residência que indicasse sua própria importância e criatividade, um projeto muito mais grandioso do que o de sua residência florentina, o Palazzo Zuccari.
Em 1590, ele comprou um lote de terras localizado numa posição invejável por causa da vista da igreja de Trinità dei Monti, onde antes ficavam ruínas dos antigos Jardins de Lúculo, e iniciou aquele que seria um dos mais importantes exemplos de residência de artistas na Itália. Ele se arruinou financeiramente para realizar seu projeto, que teve que ser parcialmente redimensionado.
O Palazzetto Zuccari foi construído pelo pintor Federico Zuccari em 1592, mas foi completamente transformado em reconstruções nos séculos XVII, XVIII e XX. O edifício original chegava apenas até o piso nobre e era composto por duas estruturas distintas: um estúdio, ao qual se chegava através de uma escada na praça (fechada quando foi construído o pórtico atual) e a residência, com acesso pela Via Sistina. O característico portal na Via Gregoriana era o acesso para o jardim no fundo da propriedade e é o único elemento restante do muro do século XVII. O portão é constituído por um mascarão com uma gigantesca boca aberta, quase como que para engolir quem entra, com o nariz no lugar da chave do arco, as bochechas na cornija do tímpano e os olhos as sobrancelhas no tímpano: por causa desta estranha decoração, enquadrando porta e janelas, a residência é conhecida como Casa dei Mostri[2].
Zuccari também decorou os apartamentos com afrescos variados, como "Hércules na Encruzilhada entre o Vício e a Virtude", a "Glória do Artista", a "Casal Zuccari abençoado pelo Anjo da Guarda" na Sala degli Sposi e alegorias da arte e da ciência na Sala del Disegno. Quando morreu, em 1609, Zuccari expressou em testamento seu desejo de que o edifício se tornasse a sede da Accademia delle Arti e del Disegno e para "hospedagem dos jovens estudantes pobres estrangeiros". Contudo, seus herdeiros o venderam a um certo Marcantonio Toscanella, que contratou Girolamo Rainaldi para ampliá-lo criando mais dois andares acima do piso nobre.
O príncipe Alexandre Sobieski seguiu sua mãe, Maria Casimira Sobieski, rainha da Polônia, quando, em 1699, ela chegou em Roma para o Jubileu de 1700. O Reino da Polônia não era uma monarquiahereditária quando, em 1696, morreu o rei João III Sobieski, o "salvador de Viena" (1683), um príncipe alemão foi eleito para o trono de Varsóvia. Em Roma, Maria Casimira e sua corte de 120 nobres e servos foram recebidos pelo príncipe Livio Odescalchi no Palazzo Odescalchi. Depois das festividades, a rainha decidiu ficar numa espécie de exílio voluntário e alugou, para viver, o Palazzo Zucari no final da antiga Strada Felice. Ela viveu ali até 1714 e, depois de sua morte, seu filho retornou para a França, o país natal dela, onde morreu em 1716[3]. Neste período, Casimira continuou as obras de transformação com a unificação das duas estruturas mais antigas (o estúdio e a residência) e determinou a construção de uma ponte de madeira por cima da Via Sistina chamada Arco della Regina (demolido em 1799) para ligar seu palácio à Villa Malta. Ela também contratou o arquiteto Filippo Juvarra para uma nova reforma, construindo o característico pórtico de seis colunas em estilo rococó que cria um balcão protegido por uma balaustrada de frente para a praça para poder melhor admirar a cidade[3]. Apesar de muito bem conservado, esse pórtico atualmente está envidraçado e coberto por uma pequena cúpula sobre a qual desponta uma pinha. Abaixo, entre as colunas, está o brasão de Jan Sobieski, rei da Polônia e marido de Casimira, constituído por duas águias coroadas e dois cavaleiros em um escudo num pano drapeado sobre o qual está uma coroa[2].
Com Maria Casimira, o palácio se tornou um centro cultural da Roma do século XVIII, uma tradição que depois foi continuada também pelo proprietário seguinte, Alessandro Nazzari, o que transformou o edifício num local conhecido por suas atividades artísticas e culturais. Entre 1755 e 1768, geralmente durante seus Grand Tours, viveram ali Johann Joachim Winckelmann, Jacques-Louis David, que pintou o "Juramento dos Horácios" nesta época, os Nazareni e o pintor Joshua Reynolds. A família de Zuccari readquiriu o palácio dos Toscanella e uma parte do edifício foi cedida, em 1756, para os "Irmãos das Escolas Cristãs" (em italiano: Fratelli delle Scuole Cristiane), congregação fundada por São João Batista de la Salle, antigos proprietários de um edifício vizinho conhecido como Casa dei Preti e ali fundaram uma escola elementar[2].
Em 1904, o advogado Federico Zuccari (1843-1913), o último descendente da dinastia, decidiu vendê-lo para Henriette Hertz, que também realizou reformas, eliminando o jardim para construir um edifício de três pisos e criando um prolongamento da entrada entre a Via Sistina e a Via Gregoriana, incorporando de vez a Casa dei Preti. Hertz abrigou neste palácio uma importante coleção de quadros, depois doada ao estado italiano, e uma riquíssima biblioteca, que, por sua vez, ela legou ao governo alemão para permitir a criação de um centro de estudos. Nasceu desta forma a Biblioteca Hertziana, especializada em livros de arte e que conta hoje com 160 000 volumes. O palácio também atraiu ´Gabriele D'Annunzio, que, em "Il Piacere", celebra o Palazzo Zuccari como sendo o "Buen Retiro"[2].
O complexo foi completamente restaurado na década de 2000, uma obra projetada e dirigida pelo arquiteto Enrico Da Gai, e a construção do novo edifício da Bibliteca Hertziana, obra do arquiteto Juan Navarro Baldeweg, são partes do grande programa alteração de funções completo do Istituto Max-Planck para Storia dell'Arte, fundado em 1913.