Com depoimentos reais, o filme retrata a vida de lavradores e garimpeiros no vale do rio do Peixe, mostrando o cotidiano de secas e pobreza nessa na região semiárida do Nordeste do Brasil. O filme inicia-se com um "Monólogo sobre o sertão", leitura de um poema de Jomar Moraes, que serve como espinha dorsal sonora do filme. As entrevistas são inseridas aos poucos, contrapostas às cenas do folclore local, fotos antigas e material musical composto por Luiz Gonzaga, José Siqueira, Ernesto Nazareth.[1]
Produção
O projeto foi realizado em três etapas: a primeira em 1966, quando teve suas filmagens interrompidas pela chuva e foi preciso esperar que o sertão reapresentasse a mesma paisagem cotidiana; a segunda em 1967, quando pôde terminar as filmagens de 1967, e a terceira no final de 1970, ano de conclusão do filme.[1] Nas duas primeiras fases, o filme contou com o apoio de Antônio Mariz, então prefeito do município de Sousa (cidade).[4]
Assim que foram concluídas as filmagens em 1967, Vladimir Carvalho foi montar o primeiro corte do filme no Rio de Janeiro. A primeira versão, ainda em 16 mm e com cerca de 50 minutos, foi finalizada em 1968 - sob o nome "O Sertão do Rio do Peixe" - e teve exibições na Maison de France, no Festival de Viña del Mar e ainda no Rio de Janeiro.[1]
Submetido à apreciação da censura da ditadura militar brasileira, o longa-metragem foi vetado sem sugestão de cortes, sob a alegação de que a obra prejudicava a imagem do país.[1][4]
Ignorando a proibição, a comissão do Festival de Brasília selecionou o filme para sua mostra de 1971, mas o mesmo foi interditado e substituído pelo documentário "Brasil bom de bola", de Carlos Niemeyer, o que provocou revolta no público.[5] Somado ao clima repressivo do início da década, o incidente levou à suspensão do festival por três anos.[6]
O documentário ficaria sob censura até 1979, quando foi selecionado novamente para o Festival de Brasília daquele ano e recebeu o Prêmio Especial do Júri.[5]
À época os críticos apontaram o envelhecimento precoce de O País de São Saruê e que apenas por motivação política fazia jus ao prêmio especial do júri do Festival de Brasília. A região retratada no filme passava por uma nova dinâmica econômica. O governo Militar já não era tão repressivo e acenava para uma abertura democrática.[7][8]
↑ abcdefRamos, Fernão Pessoa (2004). «Vladimir Carvalho». Enciclopédia do Cinema Brasilero 2.ª ed. São Paulo, Brasil: Senac. pp. 97–99. ISBN85-7359-093-9
↑«O País de São Saruê». Base de Dados da Cinemateca Brasileira. Consultado em 26 de maio de 2020