O Conto da Princesa Kaguya[3][4] (かぐや姫の物語,Kaguya-hime no Monogatari?) é um filme japonês de animação, drama e fantasia lançado em 2013. O seu roteiro foi escrito por Isao Takahata e Riko Sakaguchi, baseado a partir da clássica fábula japonesa o Cortador de Bambu do século X. A obra contou com a produção de Yoshiaki Nishimura, enquanto a trilha sonora foi composta por Joe Hisaishi. O enredo do longa-metragem começa quando a personagem principal, Kaguya (Aki Asakura), é encontrada ainda bebê dentro de um tronco de bambu. E ao passar dos anos, ela se torna uma bela jovem e passa a ser cobiçada por cinco nobres, dentre eles o imperador do Japão, mas nenhum dos pretendentes agrada a jovem e a mesma pede presentes quase impossíveis para evitar um matrimônio com um estranho. Ao final, Kaguya enfrentará as consequências por suas escolhas.
Sendo o filme mais caro a ser produzido pelo Studio Ghibli, O Conto da Princesa Kaguya teve um orçamento estimado em 5 bilhões de ienes e demorou oito anos para ser produzido.[5] O desenho da obra foi inteiramente desenhada à mão, favorecendo a um estilo impressionista que recorda as pinturas orientais do Japão antigo. E diferenciando-se do estilo artístico das muitas outras produções do estúdio.[6] Para Edu Fernandes do CineClick, a maior qualidade do filme está no visual e que os "Cenários são delicados como se fossem pinturas de aquarela. Entretanto, os personagens são apresentados em traços que se assemelham a giz de cera".[7] A trilha sonora desempenha uma função importante na trama, mesclando melodias ocidentalizadas e músicas tradicionais para iterar o ambiente enigmático e imaginário da película.[8]
Lançado nos cinemas em 23 de novembro de 2013, O Conto da Princesa Kaguya foi o longa-metragem de maior bilheteria entre os dois primeiros dias de sua estreia. Posteriormente, tornou-se um fracasso comercial internacional,[9] arrecadando 24 milhões de dólares estadunidenses — sendo grande parte do lucro vindo do Japão, com 22 milhões.[10] Porém, foi avaliado positivamente pela crítica e pelo público, que elogiaram a simplicidade da sua história e principalmente o desenho do filme feito inteiramente em 2D. Recebeu 25 indicações e 7 vitórias a diversos prêmios incluindo ao Oscar de melhor filme de animação na 87.ª edição da premiação, foi o primeiro trabalho de Takahata a ser indicado. Também recebeu diversas nomeações ao prêmio de "melhor filme de animação" em várias cerimônias e festivais, como nos prêmios Annie, Empire, Online Film Critics Society e Asia Pacific Screen, vencendo esta última. O portal britânico BroadbandChoices, fez uma análise dos filmes mais pesquisados do Studio Ghibli ao redor do mundo e classificou O Conto da Princesa Kaguya em 24.º lugar com 0,24%.[11]
Enredo
Em mais um dia de trabalho como todos os outros, um simples camponês encontra em um talo de bambu uma pequena menina.[12] Encantado com que viu, decide a levar para sua casa e criá-la junto a sua esposa, a quem colocam o nome de Kaguya.[13] E ao passar dos anos, ela se torna uma bela jovem e passa a ser o interesse amoroso de vários homens, incluindo de cinco nobres a quem recusa vários pedidos de casamento e pede inúmeros presentes quase impossíveis.[13] Além disso, Kaguya chama a atenção do próprio imperador e ao se dar conta de seu interesse foge angustiada.[14]
Elenco
Apresenta-se a seguir o elenco de O Conto da Princesa Kaguya.[15][16]
Quando criança, Isao Takahata disse que leu o Conto do Cortador de Bambu e recordou que se esforçava para simpatizar com a protagonista; pois para ele, a "transformação da personagem foi enigmática", mas que "não evocava nenhuma empatia da parte [dele]".[17] Ainda quando trabalhava na Toei Animation, em 1960, Takahata tentou adaptar o conto, no entanto, o projeto acabou sendo abandonado.[18] E após reler o conto, percebeu o potencial da história para uma adaptação animada.[17][19] Em 2008, o Studio Ghibli revelou que Takahata estava trabalhando em seu próximo longa-metragem.[20] No Festival Internacional de Cinema de Locarno de 2009, o diretor afirmou que o projeto seria baseado no Conto do Cortador de Bambu.[21]
O Conto da Princesa Kaguya foi financiado pela Nippon TV, cujo falecido presidente, Seiichiro Ujiie deu ao projeto cinco bilhões de ienes.[22] Ujiie adorava o trabalho de Takahata e suplicou ao produtor Toshio Suzuki, do Studio Ghibli, que deixasse Takahata fazer mais um filme.[nota 2][24] Para garantir a ligação emocional do público ao filme, era importante para Takahata que os espectadores pudessem ver a "realidade na obra", em vez de serem distraídos por um estilo artístico realista.[25] Além de querer que as pessoas "recordassem as realidades da vida".[26] Para ajudar com esta perspectiva, Osamu Tanabe ficou encarregado dos desenhos dos personagens e Kazuo Oga do cenário da animação.[22] Em 13 de dezembro de 2012, o lançamento de O Conto da Princesa Kaguya foi confirmado pelo Studio Ghibli e a distribuidora Toho.[27]
Seleção do elenco
A dublagem de O Conto da Princesa Kaguya foi composta por famosos dubladores do Japão, entre eles o ator Takeo Chii que faleceu perto da conclusão da obra.[nota 3][28] Chii gravou a maioria de suas falas no filme, mas devido à sua morte seis cenas foram regravadas por Yuji Miyake.[29] E para a protagonista, Aki Asakura foi escolhida entre cerca de 300 candidatas.[30]
Música
Em 2012, foi anunciado que Shin'ichirō Ikebe seria o responsável pela trilha sonora do filme, mas foi substituído por Joe Hisaishi no ano seguinte.[31] Foi a primeira vez que Hisaishi trabalhou num filme de Takahata.[31] O álbum contendo todas as faixas da trilha sonora de O Conto da Princesa Kaguya foi lançado em 20 de novembro de 2013, pela Tokuma Japan Communication.[32]
Inicialmente, O Conto da Princesa Kaguya foi planejado para ser lançando no verão de 2013 simultaneamente com Kaze Tachinu de Hayao Miyazaki.[34] Entretanto, em janeiro de 2013, a distribuidora do filme anunciou que o seu lançamento seria adiado até o fim do ano devido a atrasos e mudanças nos storyboards da obra.[35][36][37]O Conto da Princesa Kaguya estreou oficialmente nos cinemas japoneses em 23 de novembro de 2013, sendo posteriormente lançado em outras nações.[nota 4][38] Em Portugal, foi exibido no Monstra Festival em 17 de março de 2015 e nos cinemas portugueses no dia 9 de abril do mesmo ano,[39][40] com a Outsider Films sendo responsável da distribuição do filme.[41] A obra foi lançada no Brasil em 16 de julho de 2015 pela California Filmes.[42]
Em seu país de origem, O Conto da Princesa Kaguya foi classificado para todos os públicos pela Eirin.[47] Nos Estados Unidos, recebeu da Motion Picture Association of America (MPAA) uma classificação PG (Parental Guidance Suggested) por conter "nudez parcial e alguns elementos de violência".[48] Desta forma, o filme foi recomendado pela associação apenas para maiores de 9 anos. O portal Common Sense Media também manteve a idade prevista pela MPAA. Por outro lado, pais usuários do site o recomendaram para maiores de 6 anos, e crianças colocaram 9 anos.[49] No Brasil, em seu lançamento para os cinemas, o filme foi classificado como "livre para todos os públicos", conforme o Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação (DEJUS).[50] Em Portugal, a organização de Inspecção-Geral das Actividades Culturais atribuiu uma classificação M/6. Assim, foi recomendado para crianças de 6 anos e acima.[51]
Home video
O Conto da Princesa Kaguya foi lançado nos formatos de DVD e blu-ray no dia 3 de dezembro de 2014 no Japão.[52] No Brasil, foi comercializado em ambos os formatos a partir de 30 de setembro de 2015.[53] Nos Estados Unidos a edição em blu-ray vendeu 14 586 de unidades, alcançando a 16.ª classificação e arrecadando 335 045 de dólares.[54] Em sua edição estadunidense — tanto em DVD como em blu-ray — o disco apresenta os bônus: anúncio de conclusão do filme, trailers, faixas de áudio em inglês e japonês, entre outros.[55]
Recepção
Bilheteria
O Conto da Princesa Kaguya teve um sucesso moderado em sua estreia no Japão, ficando na primeira posição dos filmes mais assistidos entre os dias 23 e 24 de novembro de 2013, recebendo um total de 284 252 550 ienes arrecadados em 456 cinemas, e com um público de 222 822 pessoas.[56] Em sua nona semana de lançamento, o filme arrecadou 2 217 656 750 de ienes e com um total de 1 849 467 espectadores.[57] Ao todo a obra arrecadou 2,47 bilhões em território japonês, ficando como o 11.º filme de maior arrecadação do ano de 2014 no país.[2]
Internacionalmente, O Conto da Princesa Kaguya apresentou um baixo lucro nas bilheterias. Arrecadando ao todo US$ 24 706 166 mundialmente.[10] Na América do Norte o filme ficou em exibição nos cinemas por 161 dias, entre 17 de outubro de 2014 a 26 de março de 2015, lucrando ao todo US$ 703 232.[58] Na França estreou como o décimo segundo filme mais assistido do país, gerando uma receita de US$ 379 807 entre os dias 25 a 29 de junho de 2014.[59] Em Hong Kong arrecadou US$ 96 514 em 61 cinemas entre 10 a 13 de julho, ficando no quinto lugar dos mais assistidos.[60] E ao todo gerou US$ 328 578.[61] No Brasil estreou em seis salas de cinema, e obteve uma renda acumulada de R$ 87 760 e um público de 6 977 pessoas.[62] Outras nações que apresentaram uma forte bilheteria em dólares foram Austrália, com 67 829;[63] Noruega, 65 222;[64] Bélgica, 57 876;[65] e Espanha, com 49 205.[66]
Resposta da crítica
O Conto da Princesa Kaguya obteve uma recepção crítica muito favorável por parte da mídia japonesa e internacional. No agregador de resenhas Rotten Tomatoes, o filme recebeu um "Certificado Fresco" e marca uma pontuação de 100% com base em comentários de 96 críticos, e registra uma nota 8,20 de 10. De acordo com o site, o consenso crítico do filme diz: "Com uma narrativa profunda, honesta, franca e bela, O Conto da Princesa Kaguya é uma animação moderna com apelo atemporal".[67] No Metacritic, que atribui uma média aritmética ponderada com base em 100 comentários de críticos mainstream, o filme recebe uma pontuação média de 89 pontos com base em 28 resenhas, indicando "aclamação universal".[68] No website, foi classificado como o sétimo melhor do ano.[69]
A crítica de cinema Maggie Lee da Variety, aclamou-o dando a classificação máxima de cinco estrelas e escreveu: "Interpretação animada de um conto japonês do século X sobre uma donzela que veio da Lua para à Terra, O Conto da Princesa Kaguya transita de um simples conto a uma sofisticada representação sobre a loucura do materialismo e a evanescência da beleza".[70] A classificação de quatro estrelas em cinco foi dada pelos próximos dois críticos. "A técnica de animação delicadamente trabalhado é belo e emocionante, porém teve uma recepção mista no Japão e teve dificuldade ao se adaptar a um público internacional", escreveu Leslie Felperin ao The Hollywood Reporter.[71] Em sua avaliação para o jornal The Washington Post, Michael O'Sullivan descreveu-o como "Uma obra melancólica, linda, e mágica sobre a alegria e a dor da existência humana. Se há um erro, é o filme ser muito longo".[72]O Conto da Princesa Kaguya é verdadeiramente uma obra-prima, sendo em simultâneo, muito simples e fazendo a cabeça do espectador girar", disse Glenn Kenny do RogerEbert.com.[73] Em sua resenha ao The Guardian, Mike McCahill afirmou: "As imagens exuberantes e pintadas à mão oferecem abundante consolação".[74] De maneira similar, Nicolas Rapold, do New York Times, aclamou o filme, e descreveu-o como "Elegantemente desenhado com tanto delicadeza da aquarela e como um traço de significado vívido".[75]
O website brasileiro AdoroCinema atribui-lhe uma nota média 4,5/5, com base em resenhas da imprensa, e uma nota de 4,5 por parte dos usuários.[76][77] Bruno Carmelo, do próprio AdoroCinema, deu ao filme a classificação 4,5/5 estrelas e disse: "Sem os recursos típicos das animações computadorizadas, que buscam trejeitos realistas, a obra japonesa se apoia na força do desenho manual, na sugestão dos traços mínimos. É surpreendente encontrar uma obra ao mesmo tempo tão atual e tão universal, tão política e tão poética. O conteúdo incisivo da obra é temperado com as imagens mais doces e belas que o cinema de animação tem produzido nos últimos anos, com esta produção, o Studio Ghibli provam mais uma vez a sua irônica capacidade de usar a fantasia para fazer um retrato realista do nosso mundo.[78] Érico Borgo, do siteOmelete, classificou a obra com nota máxima de cinco; "Lindamente trabalhado, com belas canções e cheio das mensagens que nesses anos todos se tornaram sinônimo de um dos maiores estúdios de animação do mundo, Kaguya encanta a cada momento, seja no desenho de uma rã, no tombo de um bebê, no design dos personagens ou no mágico climax. Uma animação madura, que não se furta a tratar de sentimentos ou situações difíceis, mas o faz com a sensibilidade que só o Studio Ghibli é capaz".[79]
Prêmios e indicações
Entre os anos de 2014 e 2016, O Conto da Princesa Kaguya foi indicado para várias premiações nacionais e internacionais, e das vinte e cinco indicações conquistou sete vitórias.
↑高畑勲監督「かぐや姫」公開延期 「絵コンテ完成まだ」. Asahi Shimbun (em japonês). 5 de fevereiro de 2013. Consultado em 25 de julho de 2021. Arquivado do original em 8 de fevereiro de 2013
↑高畑勲監督「かぐや姫の物語」公開が秋に延期!. Eiga.com (em japonês). 4 de fevereiro de 2013. Consultado em 25 de julho de 2021
↑かぐや姫の物語 - スタジオジブリ (em japonês). Studio Ghibli. Consultado em 26 de julho de 2021
«The Tale of The Princess Kaguya»(PDF) (em inglês). Artigo enciclopédico contendo informações gerais do filme, e dos seus envolvidos. Consultado em 14 de agosto de 2021
«The Tale of The Princess Kaguya»(PDF) (em inglês). Resenha sobre o filme contendo algumas notas culturais. Consultado em 14 de agosto de 2021