O topônimo "Moema" é uma referência à personagem homônima do poema Caramuru, de Santa Rita Durão, clássico da literatura árcade brasileira escrito em 1781.[5] O nome da personagem, por sua vez, corresponde ao termo do tupi antigomo'ema, que significa "mentira ou falsidade" (no poema, Moema era a amante do personagem principal, Diogo Álvares, representando, assim, o amor falso, em contraposição ao amor verdadeiro representado pela esposa de Diogo, Catarina Paraguaçu).[6]
A história conta que Moema, a índia tupinambá, morre afogada numa tentativa desesperada de alcançar seu grande amor platônico, o náufrago português Diogo Álvares, que depois de tempos vivendo em meio aos índios brasileiros, embarcou rumo à Europa, junto de sua esposa Paraguaçu, também nativa da região.[3]
Antes da colonização portuguesa, a região onde hoje se encontra Moema era habitada por povos indígenas, principalmente os Tupiniquins. Estas terras eram parte de uma vasta rede de trilhas indígenas que cruzavam o território que se tornaria São Paulo. Com a chegada dos colonizadores, a área foi gradualmente transformada em terras agrícolas.[7]
Tanto a área que hoje é conhecida por Moema, como a que configura o bairro de Indianópolis, pertenciam no século XIX a Joaquim Pedro Celestino. Eram chácaras, que tinham como moradores imigrantes, sobretudo vindos da Inglaterra e da Alemanha.[3] Em 1913, o comerciante Fernando Arens Júnior comprou boa parte destas terras, cerca de 182 alqueires, que posteriormente entregou à Companhia Territorial Paulista, que iniciou em 1915 a demarcação da área. [3][7]
É nesta época que surge a avenida Araci, assim batizada em homenagem à filha de Arens Júnior, que gostava de nomes indígenas.[8] Hoje, a avenida se chama Ibirapuera. Após o loteamento do Sítio da Traição em 1913, ocorreu a urbanização do bairro de Indianópolis. Da década de 1930 até 1965, era um bairro industrial, que atraía imigrantes russos e lituanos à região.[9][10]
Quando Moema ainda era um pequeno povoado de operários da estrada de ferro São Paulo - Santo Amaro, o procurador-geral do Estado Raul Loureiro decidiu se assentar ali e ajudar a desenvolver um novo bairro. Na época, a mesma era cortada pelos trilhos de bonde a vapor que unia a cidade de São Paulo ao extinto município de Santo Amaro.[3] Em 1927, ergueu um casarão para ser a nova morada de sua família. Esse casarão, memória da transição de uma Moema bucólica a reduto da classe média-alta paulistana, foi demolido recentemente, apesar de sua história e de ser o imóvel mais antigo do bairro. A demolição foi registrada em fotos pelo blog "São Paulo Antiga".[8][7]
Durante o século XX, a região começou a se desenvolver como parte da expansão urbana de São Paulo. A urbanização intensificou-se nas décadas de 1950 e 1960, quando São Paulo experimentou um boom populacional e econômico. Imigrantes italianos, portugueses e espanhóis, além de migrantes nordestinos, contribuíram significativamente para o crescimento do bairro.[10] Moema começou a crescer e ganhar notoriedade na década de 70, quando as construtoras começaram a apostar na região por seus terrenos planos e pelos grandes lotes de baixo custo e Na década de 1970, recebeu investimentos privados em virtude de seu terreno plano, baixo custo e área útil.[8] Os investimentos na construção de condomínios atraíram outros segmentos, como o comércio.[11] Em 1976, o bairro ganhou o segundo shopping da cidade, o Ibirapuera, só mais novo que o pioneiro Iguatemi, inaugurado dez anos antes, na avenida Faria Lima.[12]
Moema era oficialmente parte do vizinho bairro de Indianópolis até 1987.[3] Naquele ano, um grupo de moradores e comerciantes organizou um abaixo-assinado pedindo a “independência” do bairro ao prefeito da época, Jânio Quadros.[7] Sensibilizado com o pedido, o “Homem da Vassoura” assinou o decreto que transformaria o rico distrito, notório por suas ruas com nomes de pássaros, em um bairro autônomo.[13]
O bairro é subdividido em dois sub-bairros não-oficiais: "Moema Pássaros" e "Moema Índios". Moema Pássaros fica entre a Avenida Santo Amaro e a Avenida Ibirapuera e possui ruas com nomes de pássaros, como: Canário, Jacutinga, Inhambu, Gaivota, Pavão, Rouxinol, entre outras. É a parte mais próxima do Parque Ibirapuera. Já Moema Índios fica entre a Avenida Ibirapuera e a Avenida Moreira Guimarães, e é onde está localizado o Shopping Ibirapuera. Possui ruas com nomes indígenas, como: Maracatins, Nhambiquaras, Jandira, Jurema, entre outros. É a parte mais próxima do Aeroporto de Congonhas.[12] Nos sub-bairros Pássaros e Índios existem 767 condomínios de edifícios residenciais com 32.267 apartamentos ao todo. A área total ocupada pelos edifícios é de 1,02km², ou 27,8% da área total do bairro. O edifício mais alto de do bairro se chama "The Place", que fica na Rua Canário, 130 e tem 38 andares com vista para o Parque Ibirapuera.[14][15]
Moema possui um forte comércio, que se localiza nos arredores das ruas Normandia, Gaivota e Canário e das avenidas Bem-Te-Vi, dos Eucaliptos e Pavão, onde há lojas de roupas, calçados, acessórios e até grifes internacionais; além da moda, também destaca-se no setor gastronômico.[16] No bairro, encontra-se o Shopping Ibirapuera,[17] um dos primeiros centros comerciais do país,[18] e o consuladosenegalês.[19][20] Anualmente, uma via do bairro torna-se atração durante a época natalina: a Rua Normandia, cujas 36 lojas recebem decoração e iluminação especiais no período,[21] chegando a atrair mais de 300 000 visitantes para o local nessa época. [22][11][23]
Os moradores do bairro e região formaram a Associação dos Amigos e Moradores de Moema, associação que luta pelo bem-estar do bairro.[24] Em 2000 no CENSO, o distrito de Moema foi classificado como o melhor IDH de São Paulo (0,961 - muito elevado), dentre os 96 distritos paulistanos, superando até a Noruega na época.[25][4][23] Sendo um dos bairros com a melhor qualidade de vida da cidade, formado por uma população das classes média-alta e alta.[3] Sua ótima infraestrutura e a proximidade com o Aeroporto de Congonhas fazem de Moema um dos bairros preferidos para quem vem de outros estados, e até países, para trabalhar em São Paulo.[4] Os cariocas formam umas das maiores “colônias” do perímetro. É muito comum ouvir o típico dialeto carioca nos bares e restaurantes da região.[26][8][11]
Em 2018, o bairro foi beneficiado com a inauguração de duas estações de metrô: Moema e Eucaliptos da Linha 5-Lilás do Metrô de São Paulo, melhorando significativamente o acesso e a mobilidade na região.[11] A Linha 5 facilita o acesso à zona sul e à região da Paulista. Moema foi o primeiro bairro da cidade de São Paulo a contar com uma ciclofaixa, e sua topografia plana facilita os deslocamentos de bicicleta, patinete elétrico ou a pé.[3]
Moema abriga renomadas escolas particulares e bilíngues, além de instituições de ensino público. No ensino superior, destaca-se a Faculdade Méliès. No segmento de saúde, a região é bem servida por hospitais como o Hospital Alvorada e o Hospital Moriah, além de clínicas e laboratórios.[8]
Pela proximidade, o Parque do Ibirapuera é a principal opção de lazer para os moradores, complementado por espaços como o Parque das Bicicletas e clubes tradicionais como o Clube Atlético Monte Líbano, localizado no bairro limítrofe do Jardim Lusitânia. Moema também é famosa por seu comércio de rua e pela decoração natalina da rua Normandia.[3] A Feira da Arte de Moema e o tradicional Shopping Ibirapuera são outros destaques culturais e de lazer. Moema oferece uma rica variedade gastronômica, com restaurantes, bares e lanchonetes tradicionais.[10] A região é conhecida pelos bifes à parmegiana do Bar do Alemão e suas opções de bares como o Bar do Giba. Apesar do aumento da criminalidade em São Paulo, Moema apresenta um dos menores índices de roubos e furtos a domicílios, reforçando sua reputação como um dos lugares mais seguros da cidade para se viver.[4][27]
Suas principais vias de acesso incluem as avenidas Moreira Guimarães, Bandeirantes, Hélio Pelegrino e Ibirapuera.[8] Com uma história rica e uma infraestrutura moderna, Moema segue sendo um dos bairros mais desejados e vibrantes de São Paulo,[28] combinando tradição e inovação em um ambiente único e acolhedor. Algumas das vias do bairro são as mais caras da cidade para se morar.[10] Segundo uma pesquisa do Sindicato da Habitação (Secovi), o bairro possui um dos metros quadrados mais caros,[29] sendo classificado como "Zona de Valor A" pelo Conselho Regional de Corretores de Imóveis.[30] Em 2024 em um ranking feito pelo jornal O Estado de São Paulo, o bairro apresentava uma via entre os 10 maiores metros quadrados do país para o aluguel de imóveis: Avenida Bem Te Vi (R$ 154,00) - 8° lugar.[31]
Bibliografia
Villaça, Flávio (1998). Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel. pp. 107–108
Ponciano, Levino (2001). Bairros paulistanos de A a Z. São Paulo: SENAC. pp. 107–108. ISBN8573592230
ROCHA, Glauco Belmiro (2018). História do bairro de Moema Prefeitura de São Paulo ed. São Paulo: Secretaria Municipal de Cultura. pp. 1–50
GAZETA DE SÃO PAULO (2019). Memória: a história de Moema, o bairro que nasceu de um abaixo-assinado Gazeta de São Paulo ed. São Paulo: Gazeta de São Paulo. pp. 1–10
PORTAL VILA MARIANA (2020). A História do Bairro Moema Portal Vila Mariana ed. São Paulo: Portal Vila Mariana. pp. 1–15
ESTADÃO (2018). Cinco curiosidades sobre o bairro de Moema Estadão ed. São Paulo: Estadão. pp. 1–5
WIKIPÉDIA (2023). Moema (bairro de São Paulo) Wikipédia ed. São Paulo: Wikimedia Foundation. pp. 1–10
Referências
↑«O número um». Consultado em 25 de janeiro de 2011. Arquivado do original em 27 de julho de 2014