Mikhail Alekseevich Kuzmin (em russo: Михаи́л Алексе́евич Кузми́н) (18 de outubro de 1872 - 1 de março de 1936) foi um poeta, músico e escritor russo, um dos expoentes da Era da Prata da poesia russa.
Biografia
Nascido no seio de uma família nobre de Yaroslavl, Kuzmin cresceu em São Petersburgo e estudou música no Conservatório da cidade com Nikolai Rimsky-Korsakov. Não se formou, no entanto, mais tarde, explicando a sua transição para a poesia, disse: "É mais fácil e mais simples. A poesia cai pronta do céu, como o maná caiu aos israelitas no deserto ".[1] Mas ele não desistiu da música; compôs a música para a famosa produção de Meyerhold, em 1906, da pela de Alexander Blok, Balaganchik (O Teatro de Feira), e as suas canções eram populares entre a elite de Petersburgo: "Cantava-as, acompanhando-se ao piano, primeiro em diversos salões privados, incluindo a Torre, de Ivanov, e posteriormente em O Cão Vadio. Kuzmin gostava de dizer das suas obras que "são apenas um musicazinhas, mas têm o seu veneno."[2][2]
Um dos seus amigos mais próximos e uma das suas principais fontes de inspiração enquanto jovem, foi o aristocrata germanófilo poliglota Georgy Chicherin (que mais tarde entrou para o serviço diplomático e depois da Revolução de Outubro foi Comissário do Povo para os Negócios Estrangeiros), um apaixonado por Wagner e Nietzsche. Outra influência forte foram as suas viagens, primeiro ao Egito e a Itália, e depois ao norte da Rússia, onde ele ficou profundamente impressionado pelos Velhos Crentes. Depois de se instalar em São Petersburgo, tornou-se próximo do círculo de Mir iskusstva (Mundo da Arte). As suas primeiras obras publicadas apareceram em 1905 e atraíram a atenção de Valery Bryusov, que o convidou para contribuir para a sua influente revista literária Vesy , no centro do movimento simbolista, onde em 1906 ele publicou os seus versos do ciclo "Canções de Alexandria" (inspirados em Les Chansons de Bilitis, por Pierre Louÿs[3]) e o primeiro romance russo homossexual, Asas, que atingiu instantaneamente notoriedade e que fez dele um escritor muito popular. Em 1908, apareceu a sua primeira colectânea de poesia, Seti (Redes), que também foi muito elogiada. Nas palavras de Roberta Reeder, "A sua poesia é erudita e a gama de temas vai da Grécia Antiga e de Alexandria até à Petersburgo moderna".[4]
Em 1908, quando morava com Sergei Sudeikin e a sua primeira esposa, Olga Glebova, com quem Sergei havia casado apenas um ano antes, Olga descobriu que o seu marido estava envolvido amorosamente com Kuzmin, e obrigou Kuzmin a sair. "Mas, apesar deste contratempo, Kuzmin, Sudeikin e Glebova continuram a manter uma relação produtiva, profissional, colaborando em muitos iniciativas, como peças de teatro, noites musicais, declamações de poesia, especialmente nos cabarés de São Petersburgo."[5] Kuzmin também foi um dos poetas favoritos da segunda esposa de Sudeikin, Vera, e um álbum que ela publicou contém vários poemas manuscritos de Kuzmin.
A associação de Kuzmin aos simbolistas não foi definitiva e, em 1910, ele ajudou a criar o movimento Acmeísta com o seu ensaio "O prekrasnoi yasnosti" (Sobre a bela clareza), no qual atacou as "incompreensíveis, negras armadilhas cósmicos" e exortou os escritores a serem "lógicos na concepção, na construção da obra, na sintaxe... a amar a palavra, como Flaubert, a ser económicos em meios e mesquinho em palavras, precisos e genuínos - e descobrirás o segredo de uma coisa incrível - a bela clareza - a que eu chamaria clarismo."[6] Não se associou mais fortemente a este grupo que aos simbolistas, mas conviveu pessoalmente com um grande número deles, nos anos de 1910-12 viveu no famoso apartamento (chamado a Torre) de Vyacheslav Ivanov, que foi outra influência inspiradora dos Acmeists, e foi amigo de Anna Akhmatova, para quem escreveu um elogioso prefácio ao seu primeiro livro de poesia, Vecher [Noite]. (Posteriormente, Kuzmin incorreria na ira de Akhmatova, provavelmente por causa de uma crítica de 1923 que ela considerou condescendente, fazendo com que ela o tomasse para modelos dos vilões do seu "Poema Sem Herói."[7] )
O último volume de poesia que Kuzmin publicou em vida foi A Truta Quebra o Gelo (1929), um ciclo de poesia narrativa.[8]
Kuzmin passou os seus últimos anos a traduzir peças de Shakespeare. [carece de fontes] Morreu em Leningrado. Sepultado no Cemitério de Volkovo em São Petersburgo.
Legado
O poeta e crítico contemporâneo Alexei Purin pensa que a tradição fortemente "trágica" e social da literatura russa se esgotou e precisa de se reorientar ao longo do eixo pessoal e artístico exemplificado por Kuzmin e Vladimir Nabokov. Cita Innokenty Annensky, dizendo que seria importante evitar "o abraço persistente do 'igual aos outros'", e escreve: "É precisamente a poesia de Annensky e Kuzmin que, no início do século XX, deu o primeiro e decisivo passo para se afastar "dos outros' - na direção da interpretação psicológica das pequenas coisas e das palavras simples, na direção da entoação viva - uma etapa comparável apenas, talvez, com a revolução de Pushkin. É impossível imaginar toda a subsequente poesia lírica russa sem este passo".[9]
Mandelstam, na sua recensão de 1916, "Sobre a Poesia Contemporânea", escreveu:
O classicismo de Kuzmin é cativante. Como é doce ler um poeta clássico que vive entre nós, experimentar uma mistura da "forma" e do "conteúdo" de Goethe, deixar-se convencer de que a alma não é uma substância
feita de algodão metafísico, mas sim uma Psyche despreocupada e gentil. A poesia de Kuzmin não só se presta facilmente à memorização, mas também à recordação, e flutua até à superfície, como se tentando escapar ao esquecimento...
[10]
E, no seu ensaio "Uma Carta sobre a Poesia Russa" (1922), disse: "Kuzmin trouxe-nos canções dissidentes das margens do Volga, uma comédia italiana da sua Roma nativa, e a história toda da cultura europeia na sua encarnação musical - do "Concerto", de Giorgione no Palácio Pitti, aos mais recentes poemas sinfónicos de Debussy."[11]
Referências
- ↑ Solomon Volkov, St. Petersburg: A Cultural History (Simon & Schuster/Free Press, 1997), pp. 189-90.
- ↑ a b Solomon Volkov, St. Petersburg: A Cultural History (Simon & Schuster/Free Press, 1997), p. 190.
- ↑ Osip Mandelstam, Complete Critical Prose (Ardis, rev. ed. 1997), pp. 306-07, n. 15.
- ↑ Roberta Reeder, Anna Akhmatova (St. Martin's Press, 1994), p. 67.
- ↑ John E. Bowlt, The Salon Album of Vera Sudeikin-Stravinsky (Princeton University Press, 1995), p. 13.
- ↑ "On Beautiful Clarity", tr. John Albert Barnstead.
- ↑ Roberta Reeder, Anna Akhmatova (St. Martin's Press, 1994), p. 170.
- ↑ Karlinsky, S. (1979). «Review: Death and Resurrection of Mikhail Kuzmin». Slavic Review. 38 (1): 72–76
- ↑ "Двойная тень" (Double shadow), de Alexei Purin.
- ↑ Osip Mandelstam, Complete Critical Prose (Ardis, rev. ed. 1997), p. 66.
- ↑ Osip Mandelstam, Complete Critical Prose (Ardis, rev. ed. 1997), p. 99.
- Who’s Who in Gay and Lesbian History from Antiquity to World War II. Editors Robert Aldrich and Garry Wotherspoon. [S.l.]: Routledge; London. 2002. ISBN 0-415-15983-0
Traduções
- Александрийские песни, Canções alexandrinas, Oleg Almeida (Trans.), (n.t.) Revista Literária em Tradução, nº 2 (mar/2011), Fpolis/Brasil, ISSN 2177-5141.
- Canções alexandrinas: Tradução, apresentação e notas explicativas de Oleg Almeida. Arte Brasil: São Paulo, 2011, 50 p. ISBN 978-85-64377-01-1.
- M. Kuzmin, Wings , tr. H. Aplin (2007)
- M. Kuzmin, 'The Venetian Madcaps', tr. M. Green, in Russian Literature Triquarterly ; 7 (1973), p. 119-51.
- M. Kuzmin, Wings: prose and poetry , tr. N. Granoien, M. Green (1972)
- M. Kuzmin, Alexandrinische Gesange , tr. A. Eliasberg (1921).
Ligações externas