No início deste capítulo, Jesus foi para Cafarnaum, encontrou ali um paralítico e o curou. Os escribas e doutores da lei presentes acusaram Jesus de blasfêmia, que respondeu reafirmando sua autoridade para curar na prática por ser o Filho do Homem. Ele ordenou então que o homem fosse para casa e a multidão, admirada, louvou a Deus. Este trecho (Mateus 9:1–8) aparece também em Marcos 2 (Marcos 2:1–12) e Lucas 5 (5 17:26).
Logo depois, Jesus viu Mateus, um publicano, o chamou e ele o seguiu. Eles todos se sentaram juntos para comer e os fariseus perguntaram aos discípulos «Por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores?» (Mateus 8:11) Jesus então respondeu que veio em busca de enfermos e não de sãos, de pecadores e não de justos.
Em Mateus 9:14–15, os discípulos de João Batista perguntaram a Jesus por que ele e os fariseus jejuavam e Jesus e seus discípulos, não. A resposta foi:
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«Podem, porventura, estar tristes os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles? Porém dias virão, em que lhes será tirado o noivo, e nesses dias jejuarão.» (Mateus 9:15)
A resposta à crítica sobre o jejum é imediatamente seguida por uma parábola (Mateus 9:14–17) nas quais Jesus compara o "antigo" e o "novo": um remendo novo não serve para uma roupa velha e um vinho novo não serve para velhos odres. As razões são claras: rasgar uma nova peça de roupa para consertar uma antiga irá destruir a nova e pode não servir e utilizar velhos odres que já podem ter sido alargados pelo uso podem não conseguir acomodar o vinho novo que irá expandir ainda mais durante a fermentação e acabará estourando. Estas parábolas aparecem também em Lucas 5 (Lucas 5:36–39) e Marcos 2 (Marcos 2:21–22).
Uma interpretação tradicional desta parábola dupla é que os novos ensinamentos de Jesus não podem ser acomodados pelos antigos padrões de pensamento[1]: seu ministério é diferente da tradição judaica[2]. Esta interpretação da aparente incompatibilidade entre o "novo" e o "velho" pode ser um resquício da doutrina de Marcião e foi utilizado depois como argumento por futuros reformadores da igreja[3].
A interpretação preferida de João Calvino indica que as roupas velhas e os odres velhos são representações dos discípulos de Jesus. Em seu "Comentário sobre Mateus, Marcos e Lucas"[4], ele explica que o vinho novo e o odre não alargado representam a prática de jejuar duas vezes por semana. Jejuar assim seria um incômodo para os novos discípulos e seria mais do que eles poderiam suportar.
Este milagre está presente nos três evangelhos sinóticos: além de Mateus 9:18–26, aparece ainda em Lucas 8 (Lucas 8:40–56) e Marcos 5 (Marcos 5:21–43). Segundo o relato em Mateus, Jesus encontrou um "chefe da sinagoga" que gostava de Jesus e que pediu para que Ele salvasse sua filha que acabara de morrer. Jesus se propôs a segui-lo. No caminho (Mateus 9:20–22), uma mulher que padecia já havia doze anos de um sangramento tocou-lhe a capa por acreditar que assim se curaria. Jesus então devolveu-lhe uma resposta que tornar-se-ia muito comum: «a tua fé te sarou» (Mateus 9:22). Este milagre intermediário aparece ainda em Marcos 5:25–29 e Lucas 8:43–48. Chegando na casa do chefe da sinagoga, Jesus pediu que todos se retirassem, pois a garota estaria apenas dormindo, o que provocou risos. Depois que todos saíram, Jesus a tocou e ela se levantou, uma notícia que correu por toda a região.
Este milagre só aparece no Evangelho de Mateus (Mateus 9:27–31) e conta que dois cegos procuraram Jesus chamando-o de "filho de Davi". Jesus perguntou-lhes se eles acreditavam e, quando eles responderam que sim, Jesus curou-lhes, mas pediu-lhes que mantivessem segredo, o que não adiantou de nada, pois eles «saíram e lhe divulgaram a fama por toda aquela terra.» (Mateus 9:31).
A cura do mudo é outro milagre que só está relatado em Mateus (Mateus 9:32–34). Jesus teria novamente expulsado um demônio de um mudo e a multidão, espantada, afirmava que Jesus era único em Israel. Já os fariseus afirmavam que «É pelo príncipe dos demônios que ele expele os demônios.» (Mateus 9:34).
A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos
Pregando por toda a Galileia sobre o Reino de Deus e realizando muitas curas, Jesus proferiu uma de suas famosas frases:
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«A seara, na verdade, é grande, mas os trabalhadores são poucos; rogai, pois, ao Senhor da seara, que envie trabalhadores para a sua seara.» (Mateus 9:37–38)