Marta Vannucci (Florença, 10 de maio de 1921 – São Paulo, 15 de janeiro de 2021)[2] foi uma bióloga, pesquisadora e professora universitária brasileira.
Primeira mulher membro-titular da Academia Brasileira de Ciências, grande oficial da Ordem Nacional do Mérito Científico, especialista em manguezais no Instituto Oceanográfico da USP, Vannuci é uma das precursoras da oceanografia no Brasil.[3][4]
Biografia
Marta nasceu na Itália, em 1921, e ainda menina emigrou com a família, em 1927. Seu pai era livre-docente da Universidade de Pádua e da Universidade de Florença, médico e cirurgião de formação, de uma família rica e tradicional. Com a ascensão do fascismo na Itália, a família Vannucci precisou deixar o país e vir para o Brasil. Ela teve contato com muitos cientistas e intelectuais brasileiros devido às amizades do pai, que era cirurgião no Hospital Matarazzo. Ele faleceu em 1937 devido à uma infecção contraída em uma cirurgia.[4][5]
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Se meu pai tivesse vivido, eu provavelmente teria ido fazer medicina e trabalhado com ele. Quem realmente formou minha alma de cientista foi meu pai.
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Cursou o ensino fundamental no Colégio Dante Alighieri, em São Paulo. Em seguida, ingressou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo.[6] Aos 25 anos, em 1944, defendeu seu doutorado sob a orientação de Ernest Marcus, zoólogo famoso, professor do Departamento de Zoologia, tendo sido sua assistente de 1944 a 1950.[5]
Carreira
Depois da defesa e de começar a trabalhar com o professor Marcus, Marta foi convidada a fazer parte do ainda em formação Instituto Paulista de Oceanografia, que viria a se tornar o Instituto Oceanográfico da USP. O professor Wladimir Besnard, então diretor do instituto, concentrava seus estudos na região de Cananeia, rica em mangues, por não terem um navio à disposição para estudos em alto mar, o que deu a Marta a oportunidade de se especializar em ecossistema de mangues.[4]
Em 1956, Marta ganhou uma bolsa, concedida pela UNESCO, para conduzir pesquisas na Estação de Biologia Marinha de Millport, na Escócia, visitando importantes centros de pesquisa do país.[4]
Nos anos 1960, já diretora do Instituto Oceanográfico, negociou a compra e acompanhou a construção do navio de pesquisas Professor Wladimir Besnard, hoje ancorado no Porto de Santos aguardando uma decisão da universidade[7] e dedicou-se ao estudo do plâncton.[6]
Em 1969, foi trabalhar pela UNESCO, no Instituto Oceanográfico da Índia, onde permaneceu até 1971, sempre estudando plâncton, partindo depois para o México, de 1972 a 1974, voltando para a Índia para dirigir um projeto de estudo de manguezais. Em pouco tempo, Marta tornou-se uma autoridade mundial em manguezais, com mais de 100 trabalhos científicos publicados.[8]
Instituto Oceanográfico
Marta e Besnard desenvolveram uma importante relação de trabalho para o desenvolvimento das ciências oceanográficas no país. Os dois acreditavam que o Instituto Paulista de Oceanografia não deveria ser restrito à pesca científica, mas sim tornar-se um centro de pesquisa de ciências do mar.[6] Na época, o instituto estava subordinado à Divisão de Proteção e Produção de Peixes e Animais Silvestres do Departamento de Produção Animal, da Secretaria de Agricultura. Assim, os dois encontraram-se com o então reitor da USP, professor Jose de Mello Moraes, para solicitar que o Instituto Paulista de Oceanografia fosse incorporado à universidade, o que aconteceu em nove meses, por meio da Lei n.1.310, de 04/12/1951[9] (a mesma lei que criou o CNPq) com a denominação de Instituto Oceanográfico, passando a ser uma unidade de pesquisa da USP.[4][5]
Aposentadoria e legado
Marta aposentou-se da universidade e da UNESCO. Casou-se duas vezes e teve dois filhos, Érico e Dino.[10]
Separada de seu primeiro marido, Marta teve dificuldades para conciliar a vida de mãe e cientista, contando com a ajuda dos sogros do segundo casamento. Desde 1988, Marta patrocina, junto do CNPq e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), um prêmio em memória do seu filho Érico Vannucci Mendes. O prêmio tem como objetivo a preservação da memória nacional. Érico foi preso na época da ditadura e faleceu em 13 de setembro de 1986, aos 42 anos.[5][6]
Morte
Marta morreu em 15 de janeiro de 2021, aos 99 anos, em São Paulo.[2]
Referências