Nascido em Ponta da Serra, localidade rural então pertencente ao município de Riacho de Santana, hoje Igaporã, desde cedo travou contato com a cultura espontânea e com as histórias tradicionais narradas pela avó Luzia Josefina de Farias (1910-1983).[3] Dessa experiência nasceram os livros Contos folclóricos brasileiros (2010), Contos e Fábulas do Brasil (2011) e Lá detrás daquela serra (2013). Em 2001, ingressou no curso de Letras da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Campus VI - Caetité, apresentando, como trabalho de conclusão de curso, uma monografia sobre os motivos populares na poética de Tom Zé. Em 2005, depois de concluído o curso, se fixou em São Paulo, ocasião em que escreveu o folheto Nordeste, terra de bravos.[4] É casado com a artista plástica e xilogravadora Lucélia Borges.[5]
Na capital paulista, trabalhou como editor na Luzeiro, entre 2005 e 2007, e depois na editora Nova Alexandria, onde coordena, desde 2007, a Coleção Clássicos em Cordel, pela qual lançou A Megera Domada (versão da peça clássica de William Shakespeare) [6] e O Conde de Monte Cristo, baseado no romance de Alexandre Dumas. Idealizador das coleções Fábulas do Brasil em Cordel, da editora LeYa e Cordel na Estante, da Editora de Cultura, colabora, eventualmente, com o Centro de Estudos Ataíde Oliveira, da Universidade do Algarve, Faro, Portugal, sendo uma das referências para o monumental Catálogo dos Contos Tradicionais Portugueses, de autoria de Isabel Cardigos e Paulo Correia.[7]
Com vários livros e folhetos de cordel editados, profere palestras e ministra oficinas sobre a literatura de cordel e o folclore brasileiro em espaços culturais, feiras de livro e escolas.[8] Representou o Brasil, ao lado de Antônio Barreto e Edilene Matos, no Encontro Internacional de Poetas, ocorrido em Assunción, Paraguai, em 2010. Vários de seus livros foram selecionados por programas de governo, como o Programa Nacional Biblioteca da Escola e PNLD Literário, do Ministério da Educação, Apoio ao Saber e Salas de Leitura, do Estado de São Paulo, Minha Biblioteca, da prefeitura paulistana, Leitura para a Cidadania (Paulus Editora), Itaú Social e para composição do acervo da Biblioteca Nacional. Em 2016, atuou como consultor e autor dos cordéis da telenovela Velho Chico, da Rede Globo de Televisão, escrita por Edmara Barbosa e Bruno Barbosa Luperi, no ar em 2016, com direção de Luiz Fernando Carvalho.[9] No mesmo ano, foi curador, com Arlene Holanda, do Espaço do Cordel e do Repente na Bienal Internacional do Livro de São Paulo, repetindo a experiência em 2018. Na mesma Bienal, a convite do Institute for Heritage de Sharjah, país convidado de honra do evento, participou de um painel sobre Contos Folclóricos do Brasil e do Mundo Árabe, ao lado do eminente folclorista Abdulaziz Al-Mussalam.[10] Em setembro deste mesmo ano, participou, ainda a convite do Institute for Heritage, do International Narrator Forum de Sharjah (Emirados Árabes Unidos), ao lado de sua esposa, a xilogravadora e contadora de histórias Lucélia Borges. Ainda em 2018, foi curador do projeto Encontro com o Cordel®, realizado pelo SESC 24 de Maio, em São Paulo, com presença de Antonio Nóbrega, J. Borges, Klévisson Viana e dezenas de cordelistas e gravadores.[11] Desde 2023, é um dos curadores da exposição Vidas em Cordel, do Museu da Pessoa, que já percorreu várias cidades brasileiras.[12] Em 2024, obteve o título de mestre em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) com a dissertação O fio e a meada: classificação sistemática e uma história cultural da literatura de cordel.
Prêmios e indicações
Em 2010, o livro O Conde de Monte Cristo, versão em cordel do romance de Alexandre Dumas, foi uma das obras ganhadoras do Prêmio Mais Cultura de Literatura de Cordel 2010, do Ministério da Cultura, na categoria Produção (livros e CDs). Em 2017, sua obra Cordéis de arrepiar: Europa (Editora IMEPH) tornou-se finalista do mais importante prêmio literário do Brasil, o Prêmio Jabuti, na categoria Adaptação, na edição 2017.[13] No mesmo ano, foi contemplado com o Troféu Baobá, criado pelo coletivo Línguas Encantadas e Encantantes e dedicado aos contadores de histórias e pesquisadores da tradição oral. Seus livros O Encontro da Cidade Criança com o Sertão Menino (Editora do Brasil) e A Jornada Heroica de Maria (Melhoramentos) foram premiados com o selo Cátedra-Unesco, edições de 2018 e 2019, concedido pelo PUC-Rio.[14] Em 2023, o livro Contos encantados do Brasil (Aletria) foi premiado com o selo Seleção Cátedra-Unesco da PUC-Rio (produção de 2022). [15] e recebeu, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), o selo Altamente Recomendável na categoria Reconto.
Em 2019, Marco Haurélio foi agraciado com o título de patrono da 26ª Feira do Livro de Morro Reuter, uma das mais tradicionais do Rio Grande do Sul[16] e recebeu, da Associação Eduardo Furkini, de Santos, o prêmio Maryse Dalmaso, criado em reconhecimento às pessoas que, durante sua vida, se dedicaram a educar por meio da narração de histórias.[17] Recebeu ainda, no dia 13 de dezembro de 2021, em sessão solene na Câmara Municipal de São Paulo, por indicação do Museu Casa Guilherme de Almeida, o Colar Guilherme de Almeida, por sua atuação em defesa da Literatura de Cordel e da tradição oral brasileira.[18] Foi homenageado pelo coletivo Amigos das Histórias, de Brasília (DF), em encontro ocorrido entre os dias 16 e 19 de março de 2023,[19] culminando com uma sessão solene na Câmara dos Deputados, no dia 17 do mesmo mês.[20]
Influências
Em sua obra é notória a influência de cordelistas do passado, a exemplo de Leandro Gomes de Barros, Manuel d'Almeida Filho, Minelvino Francisco Silva e Delarme Monteiro Silva. Muitos de seus cordéis têm raízes na tradição oral, o que se explica por sua atuação como pesquisador da cultura popular brasileira.[21] Outro tema de sua predileção são as sagas mitológicas, que renderam livros como Os 12 trabalhos de Hércules (Cortez), A Saga de Beowulf (Aquariana) e a poesia épicaO Herói da Montanha Negra, escrito originalmente em 1987 e incluído na obra Meus Romances de Cordel (Global Editora). A esse respeito escreveu a estudiosa Vilma Mota Quintela: "A referência à mitologia grega, nesse caso, vem a enriquecer o enredo de aventuras, chegando este ao clímax em passagens como a da travessia do riacho Eterno pelo herói, que lembra a travessia do Aqueronte por heróis mitológicos como Hércules e Orfeu".[22]
No campo da cultura popular, em especial o da tradição oral, segue os passos de estudiosos como Luís da Câmara Cascudo, Sílvio Romero, Lindolfo Gomes e Ruth Guimarães, sendo responsável pela recolha de mais de duas centenas de contos populares, em sua maioria já catalogados e registrados em publicações como Contos e Fábulas do Brasil, Contos Folclóricos Brasileiros, O Príncipe Teiú e Outros Contos Brasileiros e Vozes da Tradição.