ʾAbū ʿAbd Allāh Muḥammad ben ʿUṯmān (em árabe: أبو عبد الله "الأحنف" محم بن عثمان) ou simplesmente Maomé X, alcunhado al-'Ahnaf (أحنف), conhecido pelos castelhanos como Aben Osmín, El Cojo ("o coxo"; 1415 — 1454) foi o 17º rei nacérida de Granada, que reinou em duas ocasiões entre 1445 e 1447 (ou 1448). Era sobrinho de Maomé IX al-'Aysar ("o Canhoto") a quem sucedeu em 1445 e por quem foi sucedido em 1448.[1] Entre 1445 e 1446, foi substituído no trono do emirado por Iúçufe V.
O período histórico dos seus reinados é particularmente confuso. Há muito pouca documentação fiável sobre ele e alguns historiadores vão ao ponto de duvidar que Maomé, o Coxo tivesse ocupado o trono.[a]
Biografia
Nas sucessivas guerras civis no reino de Granada, além dos diversos monarcas que se sucedem, teve especial relevância a rivalidade entre dois poderosos clãs de Granada: os Bannigas e os Abencerragens. Os segundos eram apoiantes de Maomé IX, e tiveram um papel determinante na sua primeira ascensão ao trono em 1419, usurpando o herdeiro legítimo de Maomé VIII al-Mutamassik, filho e sucessor de Iúçufe III. Em 1445, Maomé IX já tinha perdido o poder em duas ocasiões devido às ações dos Bannigas, que se lhe opunham, a primeira entre 1427, quando Maomé VIII foi novamente emir, e a segunda em 1431-1432, quando Iúçufe IV, cunhado do líder Banniga Ridwan, subiu ao trono granadino com o apoio de João II de Castela.
Maomé, o Coxo era o lugar-tenente de Maomé IX e foi nomeado por este comandante do exército nacérida durante a guerra civil de 1431. Maomé, o Coxo foi o comandante do exército derrotado pelo exército castelhano comandado por Álvaro de Luna na batalha de Higueruela, travada a 1 de julho de 1431, que contribuiu para a queda de Maomé IX e a sua substituição por Iúçufe IV.
Em fevereiro de 1432, foi Maomé, o Coxo que comandou as tropas fiéis a Maomé IX que retomaram a cidade de Granada. À frente duma força de 500 cavaleiros, Maomé, o Coxo atacou a cidade de surpresa e tomou o controlo da almedina, do bairro do Albaicín e duma parte da Alhambra, o complexo palaciano que era a sede do poder nacérida. Iúçufe IV ainda conseguiu reunir cerca de 400 cavaleiros para sua defesa, a que se deveriam juntar tropas castelhanas enviadas por João II vindas em socorro do seu vassalo fiel Iúçufe, mas a força castelhana foi derrotada pelas tropas de Maomé, Coxo. Iúçufe IV rende-se e é preso,[2] embora a sua vida seja poupada.
No fim de abril de 1432, Maomé, o Coxo envia uma mensagem a Maomé IX anunciando-lhe a captura do seu rival. Maomé IXreentra triunfalmente em Granada e sobe à Alhambra para iniciar o mais longo dos seus quatro reinados.
Primeiro reinado (1445)
Em 1445 estala outra guerra civil em Granada. Desta vez a luta pelo poder é entre Maomé IX e dois dos seus sobrinhos, Abu al-Hajjaj Iúçufe (futuro Iúçufe V, neto ou bisneto de Iúçufe II) e Maomé, o Coxo. Este último era governador de Almeria desde 1432, depois do seu êxito à cabeça dos exércitos de Maomé IX. Abu al-Hajjaj Iúçufe encontrava-se exilado em Córdova, em terras castelhanas. Maomé, o Coxo toma o poder em Granada em janeiro de 1445 com o nome de Maomé X.[1]
Interregno (1445-1446) e segundo reinado (1446-1448)
Sob a pressão dos Abencerragens e com o apoio de Castela, em junho Maomé X vê-se forçado a ceder o trono a Abu al-Hajjaj Iúçufe, que reina como Iúçufe V durante seis meses. Com o apoio dos que o tinham ajudado a tomar o poder em 1445, al-'Ahnaf consegue depôr Iúçufe e volta ao poder em janeiro de 1446. Os seus apoiantes proveitaram para recuperar as praças perdidas na região oriental do reino e para repor a fronteira com a Múrcia.[1]
Em dezembro de 1447[1] ou no início de 1448 Maomé IX conquista novamente o poder, pela quarta vez, e manda executar Maomé, o Coxo.[1]
Notas
Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em francês cujo título é «Mohammed X al-Ahnaf», especificamente desta versão.
[a]^ Alguns historiadores duvidam que Maomé X tenha existido ou, o mesmo é dizer, duvidam que Maomé, o Coxo tenha estado no trono. Por exemplo, para Francisco Vidal Castro, a ordem da sucessão no trono de Granada teria sido: i) Iúçufe V, o Coxo em 1445; ii) Ismail III em 1446 (um personagem que não é mencionada em estudos anteriores e sobre o qual quase nada se sabe); iii) Maomé IX al-'Aysar em 1447.[3] Esta hipótese da existência de Ismail III é também mencionada por Nicolás Homar Vives, que o coloca como filho de Iúçufe II.[4]
Harvey, Leonard Patrick (1992), Islamic Spain 1250 to 1500 (em inglês), University of Chicago Press
Homar Vives, Nicolás, «España 18A (1237/1492)», www.homar.org, Reyes y Reinos Genealogias, Granada (em espanhol), consultado em 20 de fevereiro de 2013
Shamsuddín Elía, R.H., «Al-Ándalus III: El Sultanato De Granada (1232-1492)», www.Islamyal-Andalus.org - Yama'a Islámica de Al-Andalus, Liga Morisca, Historia de Al-Andalus (em espanhol) (Boletín n° 53-08/2006), consultado em 27 de setembro de 2007
Sourdel, Janine; Sourdel, Dominique (2004), «Nasrides», Dictionnaire historique de l'Islam, ISBN9782130545361 (em francês), Quadrige. Presses universitaires de France, p. 615
Tapia Garrido, José Angel, Historia de la Vera Antigua(PDF) (em espanhol), p. 240-241, consultado em 20 de fevereiro de 2013Parâmetro desconhecido |cahpter= ignorado (ajuda)