Mário nasceu em 31 de dezembro de 1907 na rua Sampaio Viana nº 13 no bairro do Rio Comprido na então capital federal numa família de classe média-alta. Seu pai foi Raul Meireles Reis — advogado que também foi presidente do America Football Club — e sua mãe, Alice da Silveira Reis.[3] Aos dois anos, mudou-se para a rua Afonso Pena nº 53, na Tijuca[2]
Em 1922, ele integrou a equipe juvenil de futebol do America Football Club, pela qual disputou o campeonato estadual da categoria na posição de meia-direita.[2] Com quatro gols marcados, foi artilheiro da equipe, que se sagrou vice-campeã.[4] Ele também se enveredou no tênis, chegando a integrar a seleção estadual do Rio de Janeiro.[3]
Mário buscava manter sua vida pessoal privada e surgiram ataques difamatórios sobre sua sexualidade.[3]
Estudos e carreira no Direito
Mário se formou em Direito em 1930[3][4] na então Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, atual Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na mesma turma de Ary Barroso (LLB, 1929), de quem era amigo e incentivador, tendo gravado sua primeira música ("Vou à Penha")[4] e seu primeiro sucesso popular, "Vamos deixar de intimidades". Mas foi Sinhô, em 1928, que alavancou sua carreira.
Com a ajuda de seu tio Guilherme da Silveira, amigo do presidente do Banco do Brasil, conseguiu um emprego no setor jurídico da instituição. Com a deposição do então presidente do Brasil, Washington Luís, ainda em 1930, Guilherme teve de deixar seu cargo e Mário pediu demissão na mesma época, ao passo que sua parceria com Francisco Alves começava a se tornar bem-sucedida.[4]
Carreira musical
Inícios
Aprendeu violão com Carlos Lentini (Carlos Sertório de Freitas Lentini), que mais tarde se tornaria integrante do Regional de Benedito Lacerda.[5] Em 1926, aos 19 anos, encontrou Sinhô, compositor e instrumentista (apelidado por admiradores de "O Rei do Samba"), na loja de instrumentos e partituras A Guitarra de Prata. Mário pediu-lhe que se tornasse seu professor. Sinhô aceitou após ouvi-lo cantar "Ora Vejam Só" e gostar de seu modo singular de cantar.[5] Depois de dois anos dedicados a aprimorar a técnica do pupilo,[5] Sinhô apresentou Mário Reis a Fred Figner, da gravadora Odeon, que ao ouvi-lo cantar topou gravar um disco com a voz do até então desconhecido.[6] Seu primeiro registro fonográfico, lançado em 1928 e bem recebido pela crítica,[7] trazia "Que vale a nota sem o carinho da mulher?" de um lado e "Carinhos de vovô" do outro. Junto à instrumentação de Sinhô, Donga tocou violão nas duas gravações.[2] Mais tarde, Mário reconheceria a importância de Sinhô em sua formação musical, considerando-o responsável por lhe ensinar "o segredo do samba".[8]
Parceria com Francisco Alves
No mesmo ano em que saiu do Branco do Brasil, Mário iniciou uma parceria com Francisco Alves, mesmo que tivessem vozes bem diferentes. Não se sabe qual dos dois teve a ideia da colaboração, que rendeu 24 músicas em 12 discos.[4] O primeiro lançamento, de setembro do mesmo ano, vinha com "Deixa Essa Mulher Chorar" (Brancura) e "Quá-quá-quá" (Lauro de Barros, o Gradim) e foi criado com tecnologia de ponta da época.[9]
Francisco decidiu transformar a dupla num espetáculo ao vivo, promovendo apresentações que traziam a participação de nomes como Lamartine Babo.[10]
Ainda pela Odeon, lançou seu segundo disco de estúdio, com mais duas músicas de Sinhô: "Sabiá" e "Deus nos Livre do Castigo das Mulheres". Em novembro de 1928, veio o terceiro disco, também com duas obras de Sinhô: "Jura" e "Gosto Que Me Enrosco" (esta última teve a autoria de sua primeira parte reivindicada por Heitor dos Prazeres[12]). Este terceiro disco vendeu 30 mil cópias nas primeiras semanas, quantidade expressiva na época.[13]
O estilo de Mário cantar foi recebido inicialmente com estranhamento, mas foi recebendo elogios da crítica conforme as gravações eram lançadas. Por outro lado, tradicionalistas o acusavam de querer ditar os rumos do canto de samba.[14]
Para seu quarto disco, decidiu interpretar criações de outros compositores: "Vou à Penha", do colega de faculdade Ary Barroso, e "Margot", de Alfredinho Dermeval.[14]
No carnaval de 1929, duas canções lançadas por Mário Reis gozaram de grande popularidade: "Dorinha, Meu Amor", de Freitinhas; e "Gosto Que Me Enrosco". Os sucessos impulsionaram a carreira do cantor, que lançou sete discos naquele ano.[15]
Também no mesmo ano, Mário passou a compor, sob o pseudônimo Zé Carioca. Também esporadicamente comprava sambas de compositores do Estácio.[16]
Em janeiro de 1936, Mário gravou um disco com "Este Meio Não Serve" (Noel Rosa) e "Tira... Tira..." (Alberto Simões e Donga) que não foi bem recebido pela crítica. No dia 10 daquele mês, Mário decidiu aposentar-se, ainda que parcialmente.[17]
Volta à música
Mário ainda realizou alguns trabalhos após se aposentar. Em 1939, gravou quatro músicas e participou de um programa da Rádio Nacional com Francisco Alves e Jean Sablon (da França); já em 1940, lançou duas músicas para o carnaval.[17]
Quase uma década depois, em 1951, lançou três discos. Mais outra quase-década depois, em 1960, lançou seu primeiro LP, Mário Reis Canta Suas Criações em Hi-Fi, pela Odeon. Em 1965, pela Elenco, lançou seu segundo LP, Ao Meu Rio, em homenagem aos 400 anos da sua cidade natal.[17]
Também em 1971, Mário realizou aquela que é considerada sua real despedida da música: uma série de apresentações em três dias no chamado "Golden Room" do Copacabana Palace, que tiveram o então ex-presidente da república Juscelino Kubitschek e Chico Buarque em meio ao público;[17] este último se emocionou com a interpretação que Mário fez de sua canção "A Banda".[18] A TV Globo chegou a gravar o espetáculo para a produção de um especial, mas abortou a ideia e apagou as fitas por motivos não esclarecidos.[19] Nos últimos anos de vida vivia recluso, evitando jornalistas e fotógrafos.[19]
Sua obra editada em CD é rara, porém, existe um CD (coletânea) não tão difícil de achar. Em 1998, foi lançado pelo selo Copacabana Discos, a série 'Raízes do Samba' que pôs no mercado, vários nomes do samba carioca e nacional, tais como: Ary Barroso, Ataulfo Alves, Nelson Cavaquinho, Cartola, entre outros, em gravações originais. Foi relançada entre 2006 e 2012, editada pelo selo EMI. Mário Reis, esteve presente na trilha sonora da telenovela Kananga do Japão (1989/1990), da extinta Rede Manchete, com a canção "Gosto que me enrosco", canção essa, que em 1995, viria a inspirar um samba enredo da Portela.