Lucrécia Tornabuoni (Florença, 22 de junho de 1427 – Florença, 28 de março de 1482)[1] foi uma escritora e conselheira política influente.[2] Nascida numa das famílias mais influentes da Itália do século XV, veio a casar-se com Pedro de Cosme de Médici, entrando assim para outra das famílias mais poderosas da Itália e aumentando o seu próprio poder e influência.[2]
Lucrécia teve bastante influência a nível político durante o governo do seu marido e do seu filho, Lourenço de Médici. Trabalhou em prol dos pobres e da religião na sua região, tendo apoiado várias instituições. Foi mecenas das artes e escreveu ela própria vários poemas e peças.
Família e casamento
Lucrécia nasceu em 22 de junho de 1427.[1] O seu pai era Francesco di Simone Tornabuoni, um nobre de uma família com uma linhagem à época de mais de 500 anos.[1] A sua mãe era Nanna di Niccolo di Luigi Guicciardini.[1] Lucrécia recebeu uma boa educação e leu muitos textos em latim e grego.[1] Em 3 de junho de 1444, Lucrécia casou-se com Pedro de Cosme de Médici, filho de Cosme de Médici, um banqueiro rico de Florença.[3] Francesco era amigo e apoiante de Cosme, que o apoiou até durante o seu exílio em 1434.[1] O casamento e o seu dote de 1200 florins ajudaram a selar a aliança entre as suas famílias.O casal teve alguns problemas de saúde, com Pedro a sofrer de gota e Lucrécia de artrite e eczema.[1] Estas doenças levaram Lucrécia a procurar frequentemente tratamentos em termas por toda a Toscana.[1] Ela e o seu marido mantinham correspondência um com o outro quando não estavam juntos, transmitindo carinho e preocupação.[1] Lucrécia tornou-se uma boa amiga do seu cunhado, João.[1]
Maria de Médici (1455-1479), casada com Leonetto Ross
Lucrécia teve dois filhos e uma filha que não chegaram à idade adulta.[1] Lucrécia e Pedro certificaram-se de que os filhos adquiriam um bom gosto na literatura e nas artes e contrataram tutores para os educarem em áreas como a filosofia, o comércio, a contabilidade e política.[1] Entre estes tutores encontravam-se Gentile de' Becchi e Cristoforo Landino.[1] A filha mais velha, Maria, poderá ter sido fruto de um caso extraconjugal de Pedro, mas foi educada com os outros filhos.[1] Para celebrar o nascimento do seu primeiro filho rapaz e herdeiro, Pedro ofereceu um desco da parto a Lucrécia com a imagem de O Triunfo da Fama de Giovanni di ser Giovanni Guidi.[1] Juliano foi assassinado aos 24 anos na Conspiração dos Pazzi.[4]
Lucrécia e Pedro queriam aumentar a sua influência fora de Florença, principalmente nas cortes de Roma.[3] Para melhorar o estatuto social da família, Lucrécia negociou o casamento do seu filho Lourenço com Clarice Orsini, uma nobre de Roma. O dote de Clarice era de 6.000 florins e ela chegou a Florença em 1469.[3] Ao que tudo indica, Lourenço não gostou da sua noiva.[3]
Importância na política
Ao contrário do seu marido, Lucrécia tinha sangue nobre e ajudou a criar ligações entre a família do seu marido e a nobreza.[5] Muitos procuravam os seus conselhos e ela recebia pessoas de todos os estatutos sociais.[5] O seu sogro, Cosme de Médici, admirava a sua capacidade para resolver problemas.[1] Em 1450, ela e o seu marido visitaram Roma, onde tiveram uma audiência com o Papa Nicolau V, que os autorizou a construir um altar na capela da família.[3]
Depois de Pedro chegar ao governo em 1464, a sua saúde obrigava-o a permanecer na cama durante muito tempo.[3] Ele transformou o seu quarto em algo muito parecido com uma corte real.[1] O seu confinamento constante fez com que Lucrécia tivesse mais liberdade na sua própria vida e muitos recorriam a ela para transmitir mensagens ao seu marido. Estas incluíam apelos para terminar exílios ou pedidos de prisão e para travar ataques de soldados.[3] Ela também era chamada para intervir em disputas entre pessoas da região, tendo uma vez acabado com uma disputa entre famílias que durava há vinte anos.[3] Na primavera de 1467, Lucrécia voltou a visitar Roma e o Papa, ao mesmo tempo que procurava uma noiva para Lourenço.[1] Na época, era muito pouco comum que uma mulher viajasse e se encontrasse com o Papa sozinha e era algo muito comentado. Em outubro de 1467, houve uma tentativa de assassinato contra Lucrécia e o seu filho Juliano em consequência de uma rivalidade entre Piero e Luca Pitt.[1]
O marido de Lucrécia, Pedro, morreu em 1469.[3] Após a sua morte, Lucrécia conseguiu ter ainda mais influência na política como conselheira do seu filho.[3] Lourenço admitiu abertamente após a morte da mãe que ela fora uma das suas conselheiras políticas mais importantes.[3] Lucrécia conseguiu ainda mais liberdade para fazer negócios e comprar propriedade.[3] Ela comprou casas, lojas e quintas nas regiões de Pisa e de Florença, depois alugava as lojas a vários negócios.[3] Em 1477, ela alugou umas termas perto de Volterra e renovou-as, tornando o local num negócio rentável.[3] Os seus investimentos nas comunidades na região de Florença ajudaram a espalhar a influência e a rede de apoio da sua família.[3]
Lucrécia tornou-se bastante conhecida por apoiar conventos religiosos e por trabalhar com eles no auxílio aos órfãos.[3] Este auxílio consistia frequentemente em ajudar um membro da família a conseguir uma boa posição na igreja ou no governo.[3] Lucrécia usava ainda os seus rendimentos para dar dotes a mulheres de famílias pobres para que elas pudessem casar.[3]
Lucrécia morreu em 25 de março de 1482, vítima de doença.[3]
Na cultura
Lucrécia escreveu histórias religiosas, peças e poesia. Ela leu alguns dos seus poemas a poetas famosos, comparando-os com as suas obras.[3] Alguns dos seus poemas foram transformados em canções e apresentados publicamente.[3] Ela escreveu histórias sobre Ester, Susana, Tobias, João Batista e Judite.[3] As suas obras foram escritas em parte para inspirar e educar os seus netos e as suas peças nunca foram apresentadas em público durante a sua vida.[3] Os seus poemas foram publicados quatro anos após a sua morte.[3]
Lucrécia foi uma importante mecenas das artes.[3] Fazia recomendações aos poetas do seu círculo social e encomendou o Morgante, um poema épico, a Luigi Pulci.[1] Apoiou ainda poetas como Angelo Poliziano e Bernardo Bellincioni.[3] Ela e Bellincioni trocavam poemas humorísticos e Poliziano admirava a sua poesia.[3] Poliziano foi ainda tutor dos netos de Lucrécia e lia-lhes os poemas dela.[3]
Várias instituições religiosas dependiam dos donativos de Lucrécia.[3] Ela foi responsável pela adição da Capela da Visitação na igreja de São Lourenço em Florença.[1] Era devota a São João Batista, o santo padroeiro de Florença. Quando Lucrécia adoeceu em 1467, ela atribuiu a sua cura à intervenção de São Romualdo. Desde aí, passou a apoiar o Eremitério de Camaldoli, que ela fundou.[3]
Por volta de 1475, o seu irmão, Giovanni Tornabuoni, encomendou um retrato de Lucrécia a Domenico Ghirlandaio, que atualmente se encontra na National Gallery of Art em Washington, D.C. É possível que ela também esteja representada em três cenas dos frescos de Ghirlandaio na Capela Tornabuoni: A Visitação, O Nascimento do Batista e a Natividade de Maria.
↑ abcdefghijklmnopqrstuvwxyzaaabacadTomas, Natalie R. (2003). The Medici Women: Gender and Power in Renaissance Florence. Aldershot: Ashgate. ISBN 0754607771.