Nascida no Funchal, na Ilha da Madeira, a sua avó, Laura Estela Magna, foi a primeira aluna do Liceu do Funchal. Lourdes estudou na Escola Alemã do Funchal até esta ter encerrado devido à II Guerra Mundial. Após o liceu ficou na Madeira três anos a trabalhar num jardim de infância.[2]
Frequenta o curso de Pintura (Curso Superior de Belas Artes) da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, curso que não viria a terminar por via da sua "expulsão" em 1956, "pela não conformidade com o cânone académico que dominava o sistema de ensino de então".[3]
Expõe individualmente pela primeira vez em 1955, no Clube Funchalense, Funchal, participando também em algumas exposições coletivas em Lisboa.
A sua obra dos primeiros anos parisienses caracteriza-se por uma forma de abstração "de raiz informalista".[8] Esse registo "alterou-se completamente a partir de 1961. Nessa data abandonou, aliás, os suportes tradicionais da pintura. Sensível à coeva afirmação do Nouveau réalisme, apostou, num primeiro momento, na criação de objetos construídos, a partir da assemblage de bens de consumo de uso corrente",[9] que aglomera em caixas, cobrindo-os depois com "uma camada uniforme de cor (prateados, dourados, azuis…) como se pudessem ser esculturas de matéria nobre e de uma só peça"; em cada trabalho ela "confronta o empobrecimento da forma e dos valores das coisas na sociedade contemporânea com a hipótese de uma alternativa poética. São estas obras tridimensionais que preparam a desmaterialização concretizada nas suas «sombras projetadas» ".[10]
O conceito de sombra irá tornar-se central em praticamente toda a sua produção posterior; "sombras recortadas ou projetadas, teatros de sombras, sombras bordadas sobre lençóis fugazes, vários foram os modos e registos de que a artista se socorreu para relacionar essa perceção do imaterial com a necessária materialidade do espaço plástico".[11]
Partindo de experiências ao nível da impressão serigráfica, começa a fixar silhuetas de amigos projetadas em tela. A partir de 1964 utiliza o plexiglas recortado, transparente ou colorido, em placas sobrepostas, de modo a dotar as sombras evocadas de sombras próprias, como acontece, por exemplo, em Sombra Projectada de René Bertholo, 1965.[12]
Em 1965 realiza um filme experimental com sombras e a partir do ano seguinte as silhuetas em movimento tornam-se no cerne dos seus "projetos de encenação, mais propriamente no teatro de sombras […]. Estas ações, inspiradas na tradição chinesa e nos happenings, tornaram-se mais frequentes após uma estada em Berlim, entre 1972 e 1973 […]. A colaboração de Manuel Zimbro efetivou-se nos anos imediatos, sendo os espetáculos As cinco Estações (1976) e Linha do Horizonte (1981) concebidas a duas mãos".[13]
Entre 1956 até ao presente a artista desenvolve como forma de expressão e de exploração diversos livros de artista, «Lourdes Castro. Todos os livros» foram apresentados na Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian em 2015.[14]
"Depois de ter tirado as sombras da sombra, de lhes ter dado cor e transparência, uma vida independente",[15] a artista inscreve-as em lençóis, através de bordado manual: "A surpresa do desenho de gente deitada, sombras projetadas na horizontal e não na vertical, […] tornou-se cada vez mais importante";[15] os contornos de silhuetas "presentificam corpos ausentes registados, afinal, como memória. A investigação [de Lourdes Castro] sobre a sombra sempre se cruzou, de resto, com a reflexão sobre o tempo e a memória. Veja-se o seu Álbum de Família (onde vem compilando imagens, pensamentos, excertos, relativos à sombra), a acumulação de pétalas de gerânio da sua Montanha de Flores, iniciada em 1988, ou ainda a Peça, que concebeu com Francisco Tropa para a Bienal de S. Paulo de 2000",[16] onde um imenso pano branco "pousava sobre uma longa mesa fortemente iluminada de modo a sublinhar os vincos das dobras dessa cobertura".[17]
↑Porto Editora. «Lourdes Castro». Infopédia. Consultado em 7 de setembro de 2018
↑Revista E n.º 2444 (31 de agosto de 2019). Lourdes Castro - entrevista.
↑OLIVEIRA, Filipa – Lourdes de Castro: a procura da sombra, in Margens e Confluências: um olhar contemporâneo sobre as artes, no11, 12, Dezembro 2006. ESAP/Guimarães, p.159.
↑Gonçalves, Rui Mário – Realismos e Abstracionismos. In: A.A.V.V. (coordenação Fernando Pernes) – Panorama Arte Portuguesa no Século XX. Porto: Fundação de Serralves; Campo de Letras, 1999, p. 207.
↑Melo, Alexandre – Arte e artistas em Portugal. Lisboa: Bertrand Editora; Instituto Camões, p. 142. ISBN 978-972-25-1601-3
↑Leal, Joana Cunha – Lourdes Castro. In: A.A.V.V. – Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão: Roteiro da Coleção. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004. ISBN 972-635-155-3
↑Pinharanda, João – Pinturas com luz: alguns pintores portugueses contemporâneos. Lisboa: EDP – Eletricidade de Portugal, S.A., 1997.
↑Almeida, Bernardo Pinto de – Os anos sessenta, ou o princípio do fim do processo da modernidade. In: A.A.V.V. (coordenação Fernando Pernes) – Panorama Arte Portuguesa no Século XX. Porto: Fundação de Serralves; Campo de Letras, 1999, p. 217.
↑Leal, Joana Cunha – Lourdes Castro. In: A.A.V.V. – Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão: Roteiro da Coleção. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004, p. 132. ISBN 972-635-155-3
↑Leal, Joana Cunha – Lourdes Castro. In: A.A.V.V. – Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão: Roteiro da Coleção. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004, p. 132.
↑Leal, Joana Cunha – Lourdes Castro. In: A.A.V.V. – Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão: Roteiro da Coleção. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004, p. 133.
↑Melo, Alexandre – Arte e artistas em Portugal. Lisboa: Bertrand Editora; Instituto Camões, p. 142.