Leandro Narloch (Curitiba, 1978) é um jornalista e escritor brasileiro.[1]
Foi repórter da revista Veja e editor das revistas Aventuras na História e Superinteressante, do Grupo Abril.[2] Foi colunista no site da revista Veja (onde manteve coluna intitulada O Caçador de Mitos de dezembro de 2014 a novembro de 2016), no jornal Folha de S.Paulo (dezembro de 2016 a dezembro de 2018) e na revista Crusoé (de 2018 até o presente).[3] Também publicou artigos de opinião do The Wall Street Journal, entre outras publicações.[4][5] Em 2022, foi agraciado com o Prêmio Liberdade de Imprensa pelo Fórum da Liberdade.[6]
Ganhou notoriedade em 2009 ao publicar o livro Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil,[7][8][9] abordando imagens criadas em torno de personalidades e eventos marcantes da história do Brasil.[10] O livro foi um best-seller[11][12][13][14] e em 2017 foi levado à televisão pelo History.[15]
O livro foi sucedido em 2011 pelo Guia Politicamente Incorreto da América Latina (em coautoria com Duda Teixeira), no qual Narloch repetiu a abordagem com personagens e passagens da história da América Latina em geral.[16] Em agosto de 2013, lançou o terceiro livro da série, com o título Guia Politicamente Incorreto da História do Mundo, abordando a história universal.[17] Em 2015, a série foi acrescida do Guia Politicamente Incorreto da Economia Brasileira.
Em julho de 2020, Narloch causou controvérsia ao comentar, na CNN Brasil, sobre nova regra que passava a permitir a doação de sangue por homossexuais. Narloch apoiou a mudança, mas, em seu comentário, chamou atenção para a maior prevalência de HIV entre homossexuais masculinos.[18] Após intensa pressão, a CNN decidiu demiti-lo por considerar a fala homofóbica.[19] Após a demissão, Narloch escreveu no Twitter que tem horror à homofobia e reforçou sua concordância com a doação de sangue por homossexuais.[20] Hélio Coutinho Beltrão, colunista da Folha, escreveu uma coluna considerando a demissão como um exemplo da cultura do cancelamento.[21] Após o episódio, o jornalista recebeu o apoio de Jair Bolsonaro.[22]
Biografia
Nasceu em Curitiba, Paraná, em 1978.[23] Possui ascendência majoritariamente polonesa.[24]
Repercussão da obra
Os livros de Narloch foram recebidos com elogios e críticas. O filósofo Luiz Felipe Pondé descreveu a primeira obra como "um ótimo livro e fácil de ler. Uma singular heresia perdida em meio ao mar de unanimidades".[25] O historiador José Murilo de Carvalho, membro da Academia Brasileira de Letras, disse à Folha de S.Paulo que considera o livro um bom trabalho. "Está atualizado. Não é uma brincadeira."[26] O jornalista e escritor Nelson Motta afirmou que o livro "desmoraliza algumas das maiores fraudes e mitos da nossa história oficial" e deveria ser adotado nas escolas brasileiras "para educar os educadores".[27][28] Em contraste, o jornalista Oscar Pilagallo descreveu o livro como possuindo em alguns momentos paralelismos inapropriados e exageros de frágil argumentação.[29] O pesquisador em arquivologia Renato Venâncio, da UFMG, afirmou que, ao tratar dos indígenas, "Narloch desinforma e se revela eurocêntrico".[30]
O Guia Politicamente Incorreto da América Latina rendeu uma controvérsia sobre a tese que Salvador Allende escreveu quando era estudante de medicina. O historiador Leandro Karnal afirmou que Narloch, ao abordar o passado do presidente Salvador Allende, o fez de maneira desonesta intelectualmente. Karnal argumentou que Allende, na década de 30, quando era médico, defendeu tese pioneira contra o racismo, na qual, por meio da dialética, contrapõe seu argumento às ideias de escritores racistas da Europa. Segundo Karnal, Narloch utiliza citações do gênero, contrárias à ideia central de Allende, como argumento para caracterizá-lo como racista. Também foi imputado a Narloch ter citado erroneamente uma consideração feita por Cesare Lombroso como sendo a do ex-presidente chileno. Em sua coluna no site da Veja, Narloch se defendeu destas críticas citando trechos em que Allende considerava a homossexualidade uma doença e via origens hereditárias na criminalidade. Também esclareceu que teve uma conversa com Leandro Karnal sobre o assunto e os dois entraram em comum acordo.[31]
Sobre o Guia Politicamente Incorreto da História do Mundo, o cientista político João Pereira Coutinho disse que "o texto de Narloch não é apenas divertido; é uma defesa vigorosa desse monstro que, na falta de melhor expressão, podemos designar simplesmente por civilização ocidental".[32] Já Idelber Avelar, professor de literatura da Universidade de Tulane (EUA), em texto redigido para o jornal Folha de S.Paulo, considerou que o livro, apesar de escrito por um "prosador hábil", é "tão ideológico quanto a ideologia que quer combater".[33]
Narloch recebeu críticas de historiadores conhecidos, como Maria Lígia Prado, da USP. Em entrevista à Folha de S.Paulo, a historiadora afirmou que Narloch e Teixeira pinçam no Guia Politicamente Incorreto da América Latina "frases a esmo, retirando-as do contexto histórico, atribuindo-lhes valores positivos ou negativos sem as devidas explicações, o que restringe sua compreensão".[34]. Em matéria do site Uol Entretenimento, o professor Flávio de Aguiar critica a maneira como Narloch vê os conflitos mundiais. Influenciado pela tese do jornalista norte-americano Thomas Friedman, Narloch afirma em seu livro que, "se vivemos em um mundo com menos guerras e conflitos, devemos isso à rede de fast food McDonald's". Aguiar afirma que Narloch mostra pouco conhecimento sobre a natureza das guerras atuais e o critica por ignorar beligerâncias não declaradas, como a existente entre a Índia e o Paquistão.[35] Em artigo publicado no jornal Sul21, o historiador Erik Silva afirma que, "em termos gerais, os livros e artigos de Narloch obedecem um esquema básico que invariavelmente se repetem: descontextualiza-se um determinado fato ou personagem histórico que possuam algum apelo junto a setores populares ou cuja memória histórica seja reivindicada pela esquerda e se busca apontar (de forma anacrônica) situações que seriam incoerentes aos olhares contemporâneos". Segundo o crítico, "os pontos de pauta de Narloch em sua Historia Incorreta são todos importados de “libertarianos” como Stephan Molyneaux ou de ultraconservadores como Pat Buchanan".[36]
Colunas
No dia 29 de setembro de 2021, publicou coluna na Folha de S.Paulo chamada Luxo e riqueza das 'sinhás pretas' precisam inspirar o movimento negro,[37] onde defende que o movimento negro deveria se inspirar nos negros que ascenderam socialmente durante a escravidão. Entre as afirmações da coluna, está a de que “Negras prósperas no ápice da escravidão são pedra no sapato de quem diz que o capitalismo é essencialmente racista e machista”. O jornalista João Filho acusou a coluna de relativizar e romantizar a escravidão, e de propagar o darwinismo social.[38] Já o sociólogo Demétrio Magnoli aprovou o artigo, considerando-o "uma boa resenha do livro 'As Sinhás Pretas da Bahia', do antropólogo Antonio Risério, que investiga a ascensão social de mulheres escravizadas entre os séculos 17 e 19".[39]
Livros
Ver também
Referências
- ↑ Brasil, C. N. N. (2019). «Também em São Paulo, dois profissionais tratarão de temas de comportamento em nossos telejornais. O jornalista Leandro Narloch, mestre em filosofia, foi repórter e editor de revistas como Superinteressante e Veja e atualmente é colunista da revista Crusoé.pic.twitter.com/iRjp15mE50». @CNNBrasil. Consultado em 17 de janeiro de 2020
- ↑ «Leandro Narloch». Livraria da Folha de S.Paulo. Brasil: Folha da manhã. Consultado em 3 de agosto de 2013 [ligação inativa]
- ↑ «Colunistas: Leandro Narloch | Folha de S.Paulo». www.folha.uol.com.br. Consultado em 7 de dezembro de 2016
- ↑ Narloch, Leandro. «Opinion | How to Save the Amazon». WSJ (em inglês). Consultado em 20 de dezembro de 2022
- ↑ Narloch, Diogo Costa and Leandro. «Opinion | Dereliction and Destruction». WSJ (em inglês). Consultado em 20 de dezembro de 2022
- ↑ «Fórum da Liberdade entrega prêmios a empresário e a jornalista». GZH. 11 de abril de 2022. Consultado em 20 de dezembro de 2022
- ↑ a b Jesus, Carlos Gustavo Nóbrega de; Gandra, Edgar Avila (16 de dezembro de 2020). «O negacionismo renovado e o ofício do Historiador». Estudos Ibero-Americanos (3): e38411–e38411. ISSN 1980-864X. doi:10.15448/1980-864X.2020.3.38411.
Tais narrativas de fácil leitura logo cativaram o grande público, mas coube a Narloch com base em um sensacionalismo sem limites obter o maior sucesso no mercado. É notório na leitura de seus livros um ponto em comum, a radicalização da apropriação do passado a partir de valores conservadores e preconceituosos:...
- ↑ a b Malerba, Jurandir (8 de maio de 2014). «Acadêmicos na berlinda ou como cada um escreve a História?: uma reflexão sobre o embate entre historiadores acadêmicos e não acadêmicos no Brasil à luz dos debates sobre Public History». História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography (15): 27–50. ISSN 1983-9928. doi:10.15848/hh.v0i15.692.
Radicalizando e potencializando as características da escrita histórica feita por historiadores leigos no Brasil, em 2009 apareceu um livro que logo entrou para a lista de best-sellers, alcançando a marca de mais de 100 mil exemplares vendidos em poucas semanas. Trata-se do Guia politicamente incorreto da história do Brasil, de Leandro Narloch (2009). Do ponto de vista da produção da escrita histórica, o texto se apoia na historiografia disponível, ora para corroborar seus argumentos, ora para detratá-la quando dela discorda. Sob a bandeira do “politicamente correto”, mal se disfarça uma visão altamente conservadora, quando não reacionária, retrógrada, eurocêntrica e preconceituosa da/sobre a história do Brasil. Por exemplo, em relação a negros e índios, Narloch reproduz uma interpretação típica das classes senhoriais brasileiras do século XIX segundo a qual a construção do Brasil foi obra de europeus (portugueses) e o Brasil fez-se quase que apesar da existência de negros e índios.
- ↑ a b c Colombo, Sylvia (15 de fevereiro de 2011). «História com "h" minúsculo». Folha online. Consultado em 4 de janeiro de 2021.
O momento mais delicado, obviamente, é aquele em que trata da ditadura. É cada vez mais comum que novos estudos promovam uma releitura menos ideologizada do período e que cada vez menos se fale em "mocinhos" e "bandidos", como sugere Narloch. Mas o rapaz toma tão claramente um só partido da dicotomia que diz tentar combater que fica até feio. Chega a dizer coisas duvidosas, que qualquer estudioso sério da ditadura ao menos relativizaria, do tipo: "Qualquer notícia de movimentação comunista era um motivo justo de preocupação. A experiência mostrava que poucos guerrilheiros, com a ajuda de partidários infiltrados nas estruturas do Estado, poderiam sim derrubar o governo."
- ↑ «O lado B da história do Brasil». Revista Galileu. Abril. Consultado em 6 de novembro de 2012
- ↑ «Lista de mais vendidos da semana de 16/05/11 a 22/05/11». Publish news. Brasil. Consultado em 29 de maio de 2011
- ↑ «Os livros mais vendidos». Veja. Brasil: Abril. Consultado em 29 de maio de 2011. Arquivado do original em 5 de junho de 2013
- ↑ «Livros mais vendidos de 2011». Publishnews. Brasil. Consultado em 6 de novembro de 2012
- ↑ Publish news. «Livros mais vendidos de 2010». Brasil. Consultado em 6 de novembro de 2012
- ↑ «Guia Politicamente Incorreto». Guia Politicamente Incorreto (em inglês). Consultado em 11 de novembro de 2017
- ↑ «Guia Politicamente Incorreto da América Latina». Livraria da Folha de S.Paulo. Brasil: Folha da manhã. Consultado em 3 de agosto de 2013 [ligação inativa]
- ↑ «Novo 'Guia Politicamente Incorreto' chega em agosto». Livraria da Folha de S.Paulo. Brasil: Folha da manhã. 3 de julho de 2013. Consultado em 3 de agosto de 2013
- ↑ «Após comentários homofóbicos, CNN demite Leandro Narloch». UOL. 10 de julho de 2020
- ↑ «CNN Brasil demite Leandro Narloch após falas consideradas homofóbicas». Metrópoles. 10 de julho de 2020. Consultado em 17 de julho de 2020
- ↑ Juliana Barbosa (10 de julho de 2020). «Leandro Narloch sobre demissão da CNN: "Cultura do cancelamento me pegou"». Metrópoles. Consultado em 2 de setembro de 2022. Cópia arquivada em 2 de setembro de 2022
- ↑ Helio Beltrão (14 de julho de 2020). «Os covardes e o cancelamento». Folha de S.Paulo. Consultado em 17 de julho de 2020
- ↑ REDAÇÃO (13 de julho de 2020). «Leandro Narloch agradece elogio de Jair Bolsonaro após demissão da CNN Brasil». Notícias da TV. Consultado em 27 de março de 2021
- ↑ https://www.ebiografia.com/leandro_narloch/[ligação inativa]
- ↑ https://veja.abril.com.br/blog/cacador-de-mitos/o-delirio-politicamente-correto-do-ministerio-da-educacao/
- ↑ «Folha de S.Paulo - Luiz Felipe Pondé: Viva o Brasil capitalista! - 04/01/2010». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 22 de novembro de 2015
- ↑ «Folha de S.Paulo - História é coisa do passado - 30/08/2011». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 22 de novembro de 2015
- ↑ «A vida como ela era». Estadão. Consultado em 7 de janeiro de 2023
- ↑ «Estupidamente incorreto». Estadão. Consultado em 7 de janeiro de 2023
- ↑ «Folha de S.Paulo - Crítica/História: Jornalista reescreve o Brasil de modo juvenil - 14/08/2010». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 22 de novembro de 2015
- ↑ «Voyager - Guia Antropologicamente Incorreto: falácias de Narloch sobre os indígenas - 19/05/2018». www.avoyeger.net. Consultado em 9 de outubro de 2022
- ↑ «Mito: "Allende escreveu uma tese de doutorado contra o racismo e a eugenia" | VEJA.com». veja.abril.com.br. Consultado em 22 de novembro de 2015
- ↑ «Crítica: Em apenas duas horas, ri muito e aprendi bastante com o livro - 17/08/2013 - Ilustrada - Folha de S.Paulo». m.folha.uol.com.br. Consultado em 22 de novembro de 2015
- ↑ Idelber Avelar. «Trabalho é tão ideológico quanto a ideologia que quer combater». BR. Consultado em 28 de abril de 2015
- ↑ Carlos Messias e Marco Rodrigo Almeida. «História é coisa do passado, Folha de S.Paulo, 30 de agosto de 2011.». BR. Consultado em 21 de novembro de 2011
- ↑ «"Guia Politicamente Incorreto" propõe jogar tomate na história ultrapassada...». Consultado em 28 de outubro de 2017
- ↑ «"A incorreta história incorreta de Leandro Narloch (por Erick da Silva)». Consultado em 28 de outubro de 2017
- ↑ Leandro Narloch (29 de setembro de 2021). «Luxo e riqueza das 'sinhás pretas' precisam inspirar o movimento negro». Folha de S.Paulo. Consultado em 2 de setembro de 2022. Cópia arquivada em 2 de setembro de 2022
- ↑ João Filho (2 de outubro de 2021). «Leandro Narloch nutre a extrema direita com suas distorções – enquanto a Folha fatura». The Intercept Brasil. Consultado em 2 de setembro de 2022. Cópia arquivada em 2 de setembro de 2022
- ↑ «Opinião - Demétrio Magnoli: Corpos numa exposição». Folha de S.Paulo. 1 de outubro de 2021. Consultado em 20 de dezembro de 2022
Bibliografia
Ligações externas