Esdras Mariano Rodrigues, conhecido como Lalão (Recife, 1956 — Recife, 16 de fevereiro de 2013) foi um violonista e compositor brasileiro.[1]
Violonista
O primeiro instrumento de Lalão foi construído por seu pai, um cavaquinho de lata de doce com cordas de arame.[2] Como o garoto demonstrasse forte interesse na música, seus pais compraram um cavaquinho de verdade e uma vitrola, com a qual Lalão, aos 8 anos de idade, ouvia um disco de 78 RPM de Waldir Azevedo e se obstinava a aprender a imitar as notas.[1] Um vizinho o levou para participar de um programa de talentos da Rádio Jornal, Gurilândia, onde as apresentações eram pagas com café, doces e fubá.[2]
Aos 10 anos, Lalão ganhou o primeiro violão; sua estreia como músico ocorreu 4 anos mais tarde. Ainda adolescente, passou a tocar guitarra em boates com autorização do Juizado de Menores. Seus ídolos na juventude incluíam Waldir Azevedo, Dilermano Reis e Jacob do Bandolim. Por décadas, trabalhou como músico em churrascarias, clubes e prostíbulos.[2] A partir de 2008, Lalão passou a tocar guitarra na banda de Geraldo Azevedo.[3]
Por ser autodidata, a técnica de Lalão possuía imprecisões - o compositor não sabia ler partituras, não anotava as músicas criadas e não registrou direitos autorais sobre suas canções, a maioria feita em homenagem a amigos.[2]
Reconhecimento
Lalão era frequentemente comparado a João Pernambuco e a Canhoto da Paraíba. Em 2006, Luis Nassif escreveu um artigo a seu respeito, intitulando-o "gênio anônimo do Recife". O médico e violonista Racine Vieira dizia que Lalão "possuía uma concepção harmônica como poucas pessoas têm".[2] Yamandu Costa conheceu Lalão em uma das reuniões na casa de Racine e disse que "ficou impressionado com [suas] composições", afirmando que tinha "o dom da música muito natural" e que era "um gênio do violão". Guinga também considerava-o um "gênio" e "improvisador de primeira", dono de "um suíngue monstruoso".[4] Quando Canhoto da Paraíba estava impossibilitado de tocar por conta de um AVC, afirmou que havia apenas um violonista em Pernambuco capaz de executar sua obra com a arte que exigia - Lalão.[3]
O produtor musical Alessandro Soares tentou viabilizar a gravação de um álbum de Lalão, sem sucesso, afirmando que não o fazia "pelo simples fato de ter sido mestre de obras ou de ser uma pessoa pitoresca", mas por que o que importava era "a relevância de [sua] obra".[2] O material foi gravado em cinco sessões, em 2008 e 2011, e receberia o nome "Bamba Lalão", conforme sugestão de Guinga.[5] O violonista Vinicius Sarmento fez uma homenagem às dezenas de peças inéditas de Lalão após a morte deste, em 2013.[6]
Personalidade
Lalão era considerado temperamental, competitivo, irônico, "arengueiro" e sarcástico. Nas festas, virava de costas para que músicos na plateia não copiassem seus acordes. Se uma pessoa tocasse mal no violão, Lalão tocava as mesmas músicas "pra massacrá-lo".[2]
Vida pessoal
Esdras recebeu seu apelido, Lalão, na infância, de uma irmã mais velha.[2] Nascido na Linha do Tiro, Lalão viveu seus primeiros anos com os pais e nove irmãos em uma casa de taipa, sem energia elétrica ou água encanada.[2] Aos 7 anos, a família se mudou para uma casa doada por um programa governamental contra os mocambos, residindo no Ipsep da Vila Mauriceia.[2] Apesar de algumas pessoas afirmarem que havia sido pedreiro, Lalão dizia ter sido mestre de obras, experiência que lhe permitiu construir sua casa em Ibura.[3]
Lalão era casado com Maria José, nascida em 1971, e tinha um filho nascido por volta de 1986.[2]
Em fevereiro de 2013, Lalão sofreu um infarto antes do Carnaval, de modo que não pode participar das apresentações da banda de Geraldo Azevedo, com quem trabalhava como guitarrista.[6] Apesar de receber alta do hospital no dia 15, Lalão faleceu na manhã do sábado, 16.[7]
Referências