Lactarius vietus var. paludestris (Britzelm.) Killerm. (1933)
Lactarius vietus é uma espécie de fungo da família de cogumelosRussulaceae. Ele produz cogumelos frágeis de tamanho médio, que crescem no chão de florestas ou sobre toras de madeira podre. Seu "chapéu" (píleo) é convexo aplanado e pode variar quanto ao formato, às vezes assumindo a forma de funil. É tipicamente cinzento, mas a cor pode variar. A espécie tem lamelas de cor clara, que se dispõe muito próximas uma das outras. Elas produzem uma látex branco com um sabor muito apimentado. A impressão de esporos é geralmente esbranquiçada, mas também varia de cor consideravelmente, o que torna este método pouco útil para a identificação da espécie.
Os cogumelos têm tipicamente um sabor forte e picante e por isso são descritos como não comestíveis, muito embora alguns especialistas já os descreveram como adequados para consumo após a fervura. Espécimes mais velhos tendem a ter um sabor mais suave, o que torna o cogumelo mais palatável. L. vietus é semelhante em aparência com L. uvidus, mas pode ser distinguido pela coloração do chapéu. Outra espécie relacionada é L. mammosus que também descrita por Fries.
Taxonomia
A espécieLactarius vietus foi descrita pela primeira vez na literatura científica pelo micologistasuecoElias Magnus Fries. Ele fez sua primeira menção a este cogumelo em 1821, na sua obra Systema Mycologicum, chamando-o de Agaricus vietus.[1][2] Mais tarde, na publicação Epicrisis systematis mycologici de 1838, Fries reclassificou a espécie como pertencente ao gênero Lactarius, dando-lhe seu nome atual.[3][4] Tentativas subsequentes de reclassificar a espécie têm sido infrutíferas. Em seu trabalho de 1871, Der Führer in die Pilzkunde, o cientista alemão Paul Kummer reclassificou a espécie como membro dos Galorrheus,[5] e em 1891, Revisio generum plantarum do também alemão Otto Kuntze trouxe a espécie no gênero Lactifluus.[6] Tanto Galorrheus vietus como Lactifluus vietus são atualmente considerados sinônimos obrigatórios (nomes diferentes para a mesma espécie) de Lactarius vietus.[7] O epíteto específico vem do latim "vietus", que significa "encolhido".[8] Os cogumelos do gênero Lactarius são comumente conhecidos nos países de língua inglesa como milkcaps, e L. vietus é popularmente chamado de grey milkcap.[9]
Descrição
O chapéu pode ter formato de funil.
Face inferior do chapéu mostrando as lamelas e uma pequena quantidade de látex.
O píleo - o "chapéu" do cogumelo - do Lactarius vietus normalmente mede de 2,5 a 7,5 centímetros de diâmetro, com uma forma convexa achatada.[10][11] Às vezes, o chapéu assume um formato de funil, noutras, apresenta um umbo amplo ou pontiagudo,[10] contudo, na maioria dos casos, sua região central possui uma depressão.[11] O chapéu tem uma coloração cinza, às vezes com tons de violeta, cor de carne, marrom-amarelado pálido ou vermelho.[10][12] Nos cogumelos jovens, a tonalidade vai ficando mais clara na direção da margem do píleo.[11] Espécimes muito pálidos também foram registrados nos Estados Unidos, no entanto, eles não são albinos verdadeiros.[12] As bordas do chapéu são curvadas para dentro em espécimes mais jovens.[10] Sua superfície é lisa e pode ser escorregadia ou pegajosa quando molhada.[11]
A estipe - o "tronco" ou "caule" do cogumelo - mede 2,5 a 8 centímetros de altura por 2 a 7 cm de espessura e geralmente tem formato cilíndrico. Às vezes, o tronco se estreita na porção anterior ou tem forma de trevo. A cor do tronco é esbranquiçada ou acinzentada pálida no topo.[10][11] Ele é bastante frágil e facilmente quebrável. A carne ou trama tem uma cor branca e está muitas vezes ausente no tronco, deixando-o oco.[10] As lamelas são muito próximas uma das outras e podem ser decorrentes (estendendo-se pouco abaixo do comprimento do caule) ou adnatas (diretamente ligadas ao tronco);[11] tem a coloração esbranquiçada a um aspecto cor de couro sujo.[10] Elas são finas e flácidas e há 3 ou 4 camadas de lamélulas, as lamelas curtas que começam na borda do píleo mas que não atingem o tronco.[8][12] As lamelas produzem um látex branco, que quando seca fica com uma cor cinza acastanhada ou esverdeada após cerca de 20 minutos.[10][13] A carne do cogumelo se cora lentamente com uma cor acinzentada, se uma gota de solução de FeSO4 é aplicada sobre ela. Esse é um teste utilizado na identificação de fungos, que pode distinguir L. vietus de outras espécies.[14]
Características microscópicas
A impressão de esporos, técnica usada para distinguir diferentes espécies de fungos, tem tipicamente um aspecto branco cremoso, com um tom salmão leve, mas tem-se observado que pode variar do branco ao amarelo, dependendo da densidade, o que significa que não é um meio útil de identificação.[10][12] Os esporos individuais são brancos, amiloides (assumem uma coloração azul com o reagente de Melzer) e hialinos.[15] Quanto à forma, os esporos são elípticos, com uma rede moderadamente bem desenvolvida de cristas, medindo 8 a 9,5 por 6,5 a 7,5 micrômetros (µm).[10] Os pleurocistídios - cistídios da face lamelar - são em forma de fusos estreitos, tipicamente medindo entre 40 a 75 µm de extensão, mas às vezes chegando a 86 µm de comprimento por 6 a 11 µm de largura na ponto mais largo. Os queilocistídios (cistídios na borda das lamelas) são fusiformes ou em forma de folha, medindo entre 30 e 52 µm de comprimento por 4 a 7 µm de largura. Os basídios possuem quatro esporos e tem forma de trevo, medindo entre 36 e 42 µm de comprimento por 8 a 12 µm de largura.[12]
Espécies similares
Lactarius uvidus é similar em aparência ao L. vietus. Sua cor, no entanto, é rosa pálido, e sua carne fica violeta ou lilás quando cortada. O látex branco tem um sabor suave.[13]L. mammosus, uma espécie descrita por Elias Magnus Fries mas que não costumava ser citada pela comunidade micológica por algum tempo após sua morte, também é semelhante. O micologista austríaco Meinhard Moser, ao analisar as características de L. mammosus, concluiu que "é certamente mais intimamente relacionado com L. vietus do que com o L. fuscus, mas difere no habitat e na cor". Os esporos são um pouco mais compridos e as esculturas são menos pronunciados no L . vietus.[16]
Comestibilidade
O látex produzido por Lactarius vietus tem um gosto muito apimentado, e os cogumelos não tem um cheiro característico. Embora descrito por muitos micologistas como não comestível,[10][17] David Pegler alega que o gosto azedo do cogumelo pode ser removido após serem fervidos, permitindo que ele seja consumido.[18] Embora o sabor forte e azedo seja uma característica definidora da espécie, ele é mais fraco ou mesmo ausente em alguns cogumelos mais velhos, o que não é incomum para uma espécie do gênero Lactarius. Ocasionalmente, no entanto, cogumelos da espécie coletados apresentaram um sabor suave, o que também foi observado em outras espécies com gostos tipicamente azedos.[12]
Ecologia, habitat e distribuição
Lactarius vietus é uma espécie bastante comum e pode ser encontrada crescendo em áreas úmidas sob as árvores no outono, muitas vezes entre musgos Sphagnum.[10][11] Embora seja muito mais comum a associação do cogumelo com faias,[10][18] ele também tem sido encontrado sob a copa de carvalhos.[19] Ele forma uma relação ectomicorrízica com as árvores sob as quais cresce.[20]L. vietus também pode ser encontrado crescendo sobre madeira em decomposição ou outras superfícies duras; espécimes foram observados tanto em toras de coníferas como de madeira-de-lei. Estes são tipicamente espécimes menores, e é possível que eles representem uma variedade anã.[12] Apesar de crescer em madeira podre, a espécie não é saprófita, em vez disso, seus micélios estão ligados com raízes de árvores crescendo próximo ou através da madeira. Esta é uma adaptação particularmente útil quando o solo está molhado ou pobre em nutrientes.[21] Os cogumelos podem, às vezes, crescer em grande número,[15] mas eles também podem ser encontrados crescendo em tufos apertados, ou solitariamente quando se desenvolvem fora de época.[12] A espécie pode ser encontrada na Europa,[10] com registros de coletas feitas na Escandinávia,[16]Ilhas Britânicas,[11]Alemanha,[22]Bulgária e norte da Turquia;[23][24] já na América do Norte, L. vietus é descrito como comum no Canadá e no norte e sul dos Estados Unidos;[12][25] no norte da Ásia, o cogumelo foi encontrado em regiões próximas do rio Oka e do rio Angara, na Sibéria;[26][27] e no leste asiático, foi coletado na China.[28]
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Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Lactarius vietus», especificamente desta versão.
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