Fontaine tinha como maiores características sua velocidade, dribles curtos, chutes certeiros e, embora não fosse um jogador muito alto, um ótimo cabeceio.[2][3]
Um dos mais importantes jogadores da história do futebol francês - homenageado pela FFF em 2005 como o maior futebolista francês dos últimos 50 anos[4] - ele é até hoje o maior artilheiro em uma única Copa do Mundo, com os 13 gols marcados na Copa da Suécia, em 1958.[5][6]
Carreira
Fontaine começou a sua carreira profissional no Casablanca, onde debutou em 1950. Em 1952, após faturar a liga marroquina, ajudou o clube a ganhar a Copa dos Campeões do Norte da África (extinto torneio entre os campeões das colônias francesas de Marrocos, Argélia e Tunísia), chamando a atenção de clubes da Metrópole.[3] O Nice levou a melhor no leilão e o contratou em 1953.[3] Em sua primeira temporada, ganhou a Copa da França de 1954 pelo novo clube.
Em 1956, após conseguir o campeonato francês pelo Nice, ele se mudou para o Reims para substituir o ídolo local Raymond Kopa, que havia ido para o Real Madrid. Fontaine marcaria 121 gols em 6 temporadas no Reims, ganhando e sendo artilheiro da Division 1 (atual Ligue 1) de 1958, ano em que levantou também a Copa da França, e 1960. O título francês de 1958 possibilitou ao Reims disputar novamente a Taça dos Campeões Europeus (atual UEFA Champions League), torneio do qual o clube fora vice-campeão dois anos antes para o Real Madrid (que naquela final descobrira o potencial de Kopa e decidiria levá-lo).
Os dois clubes novamente encontraram-se na grande final de 1959, mas Fontaine foi bem anulado e não marcou, e o clube não só de Kopa, mas de Alfredo di Stéfano e Ferenc Puskás levou a melhor, ganhando por 2-0. Fontaine foi o artilheiro daquela edição, com dez gols, quatro deles marcado logo na primeira partida, contra a equipe norte-irlandesa do Ards, contra quem marcou outros dois no jogo de volta.
A temporada 1959-60 viu-o jogar ao lado de Raymond Kopa, que voltava do Real. Ambos repetiram no clube o trio que fizera sucesso na Copa do Mundo de 1958, com Roger Piantoni, conseguindo novo campeonato francês. Fontaine terminou também artilheiro, mas afastado dos gramados desde março de 1960: fraturou a tíbia e o perônio da perna direita em jogo contra o Sochaux.[2][3] Não conseguiria recuperar-se totalmente da lesão.
Fontaine jogou sua última partida em julho de 1962, poucas semanas após se sagrar novamente campeão francês. Anunciou o final da carreira, conseguindo um bom sustento financeiro com o dinheiro do seguro que havia feito para as suas pernas e também como garoto-propaganda da Adidas. No total, ele marcou 165 gols em 200 partidas no campeonato.
Seleção Francesa
Vestindo a camisa azul da França, as estatísticas de Fontaine foram ainda mais impressionantes. Em sua estreia com o time, em 17 de Dezembro de 1953, marcou um gol de chapéu numa vitória esmagadora de 8-0 sobre a Seleção de Luxemburgo. O jogo era o último válido pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1954, mas o jovem acabou não convocado.[7]
Nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 1958, a situação inverteu-se: Fontaine não foi utilizado, mas foi convocado para o mundial. Além de ter feito temporada perfeita no Reims (campeão da Copa da França e campeão e artilheiro do campeonato francês), o atacante titular e artilheiro dos Bleus nos jogos classificativos, Thadée Cisowski, lesionou-se e não poderia ir para a Suécia.[8] A estreia no mundial da Suécia não poderia ser melhor: atuando com sua dupla de ataque no Reims, Roger Piantoni, juntamente também de Raymond Kopa,[9] marcou três vezes em uma vitória em que os franceses viraram duas vezes a partida, contra o Paraguai (7-3).[10] A primeira fase encerrou-se com outros três gols de Fontaine: os dois franceses na derrota de 3-2 para a Iugoslávia e um na vitória por 2-1 sobre a Escócia, resultado que garantiu a classificação gaulesa.
Veio o mata-mata e Fontaine marcou dois gols na vitória por 4-0 sobre a Irlanda do Norte, pelas quartas-de-final. Nas semifinais, marcou uma vez. Recebeu passe preciso de Kopa, chegou antes de Bellini, driblou Gilmar e concluiu para as redes vazias,[11] no que foi o primeiro gol que o Brasil levou na Copa. O tento, o seu nono no torneio, empatou a partida, mas os brasileiros conseguiram impôr seu domínio, forçando os meias franceses a ficarem recuados na defesa,[11] deixando poucas chances para Fontaine marcar mais.
Situação diferente ocorreu na disputa do terceiro lugar, contra a rival Alemanha Ocidental. A defesa adversária, cometendo falhas infantis de marcação durante toda a partida, colaborou para que o Kopa e Maryan Wisnieski enchessem Fontaine de bons lançamentos.[12] O atacante marcou quatro vezes na partida, terminando a Copa somando treze gols, superando o artilheiro do mundial anterior, o húngaroSándor Kocsis, que fizera onze. Fontaine é desde então o jogador que mais gols marcou em uma única Copa - e, por certo tempo, foi o maior artilheiro dos mundiais, até Gerd Müller conseguir somar o 14º gol na Copa do Mundo de 1974 (posteriormente, o alemão seria superado por Ronaldo em 2006). Por muito tempo também, o terceiro lugar obtido com a vitória azul por 6-3 foi a melhor colocação da Seleção Francesa em Copas.
Entretanto, a carreira goleadora na seleção encerrou-se precocemente em virtude de lesões. Fontaine fez seu último jogo pelos Bleus em 1960, perdendo lugar na Eurocopa daquele ano, a primeira realizada, por causa delas. Voltou a jogar em novembro daquele ano, mas, em dezembro, as lesões voltaram a atacá-lo em jogo contra a Bélgica.[2] No mesmo mês, realizou sua única partida nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 1962, contra a Bulgária. As lesões lhe impediram de jogar as demais partidas e a França acabou perdendo a vaga justamente para os búlgaros.[13]
Ao todo, foram espantosos 30 gols em 21 partidas pela França. Fontaine ainda superou notáveis jogadores como Michel Platini e Zinédine Zidane em 2004, quando foi eleito o melhor jogador francês dos cinquenta anos da UEFA, nos prêmios do jubileu da entidade. Curiosamente, assim como eles e como seus contemporâneos Roger Piantoni e Raymond Kopa, Fontaine tem sangue estrangeiro: é filho de mãe espanhola.[14] com um francês.
Pós-aposentadoria
Fontaine tornou-se presidente do sindicato dos jogadores da França, brigando por garantias e contratos maiores para a classe.[2][3] Ao contrário dos jogadores franceses, Pelé provavelmente não guarda referências tão boas da pessoa de Fontaine: dois anos depois do duelo na semifinal da Copa de 1958, ambos se reencontraram em excursão europeia do Santos em 1960, já após Fontaine ter sofrido a fratura que interromperia sua carreira.[15]
Ele entregou um lápis a Pelé, pedindo que assinasse na perna engessada. O brasileiro não entendeu o pedido em francês, mas sim o que Justo teria perguntado ao redor, sob irritação quanto à reação estática do Rei, se o idioma do brasileiro era "africano" ou "macaquês". Indignado, Pelé atirou o lápis no francês, seguido de um palavrão - em bom português.[15]
O ex-jogador assumiu brevemente as rédeas da Seleção Francesa em 1967, mas foi substituído após dois jogos apenas, ambos amistosos que terminaram em derrota. Entre 1979 e 1981, treinou o selecionado de seu país natal. Chegou perto de classificar a Seleção Marroquina para a Copa do Mundo de 1982, levando o Marrocos à última etapa, onde disputaria a vaga em duas partidas contra Camarões, que venceu ambas.
Fontaine faleceu em 1 de março de 2023, aos 89 anos. A causa da morte não foi revelada.[16][17]
↑"Como sempre, deserções", Max Gehringer, Especial Placar: A Saga da Jules Rimet fascículo 5 - 1954 Suíça, janeiro de 2006, Editora Abril, págs. 10-13
↑"A geopolítica da bola", Max Gehringer, Especial Placar: A Saga da Jules Rimet fascículo 6 - 1958 Suécia, fevereiro de 2006, Editora Abril, págs. 10-15
↑"Trio entrosado", Max Gehringer, Especial Placar: A Saga da Jules Rimet fascículo 6 - 1958 Suécia, fevereiro de 2006, Editora Abril, págs. 29
↑"Vira pra cá, vira pra lá", Max Gehringer, Especial Placar: A Saga da Jules Rimet fascículo 6 - 1958 Suécia, fevereiro de 2006, Editora Abril, págs. 29
↑ ab"O melhor da Copa", Max Gehringer, Especial Placar: A Saga da Jules Rimet fascículo 6 - 1958 Suécia, fevereiro de 2006, Editora Abril, págs. 40
↑"A defesa colaborou e Fontaine fez a festa", Max Gehringer, Especial Placar: A Saga da Jules Rimet fascículo 6 - 1958 Suécia, fevereiro de 2006, Editora Abril, págs. 41
↑"Todos querem ir ao Chile", Max Gehringer, Especial Placar: A Saga da Jules Rimet fascículo 7 - 1962 Chile, março de 2006, Editora Abril, págs. 10-13