A obra decorava a Capela de Santa Marta do antigo Paço Episcopal do Fontelo,[1][2] para onde se supõe ter sido encomendada pelo bispo de Viseu D. Miguel da Silva, cerca de 1535. A primeira informação relativa a esta obra remonta a 1758, quando se encontrava ainda na dita capela. No final do século XIX foi transferida para uma sala do mesmo Paço e incorporada, em 1916, no Museu Grão Vasco.[3]
A pintura representa o episódio bíblico da Jesus na casa de Marta e Maria e tem a particularidade do Autor ter recorrido nitidamente a duas gravuras de Albrecht Dürer para a composição de uma das figuras e de um núcleo de edifícios em fundo.[4]
Autoria
Dagoberto Markl (1986) atribui a autoria de Jesus na casa de Marta e Maria a Vasco Fernandes, chamando a atenção para o recurso a duas gravuras de Albrecht Durer na elaboração da obra.[4]
Já na MatrizNet se refere que pelos materiais figurativos profundamente seguidores dos retábulos monumentais da Sé de Viseu, mas com erros visíveis de estrutura e de articulação, e por um conjunto de pormenores de natureza técnica, por exemplo no tratamento simplificado das vestes e das mãos das figuras, esta pintura não se pode atribuir a Vasco Fernandes, mas antes ao seu colaborador principal Gaspar Vaz.[3]
Descrição
Na representação do episódio bíblico da ceia de Jesus em casa de Marta e Maria de Betânia, Jesus surge ao centro da mesa, ladeado pelo mecenas da pintura, o bispo D. Miguel da Silva, e pelos apóstolos São Pedro e São João. Marta, que simboliza a Vida Activa, e Maria, que simboliza a Vida Contemplativa, figuram em primeiro plano.
À direita, a decorar o cimo da parede que ladeia uma escada, no que constitui um quadro dentro do quadro, está colocada uma pintura que se pode designar por "Santa Marta dominando o Dragão", e que numa interpretação interessante conta a lenda de origem provençal alusiva à Santa a quem se dedicava a capela do Paço Episcopal do Fontelo. Segundo esta lenda, Marta, uma vez aportada a Marselha com os seus irmãos, Lázaro e Maria, tendo iniciado nesta região a pregação do cristianismo, libertou Tarascon de um terrível dragão, aspergindo-o com água benta até Arles.[3]
Um dos aspectos mais interessantes desta obra é a associação a duas gravuras de Albrecht Dürer. Por um lado, a figura de Maria mimetiza a da representação da Melancolia na gravura do mesmo nome, e depois um conjunto de edifícios, que se vê ao longe através das duas janelas abertas, segue de muito perto o de outra gravura do mesmo pintor e gravador alemão, Filho Pródigo (ambas em Galeria). [3]
A pintura apresenta nos plintos das duas colunas centrais cartelas com um leão, que constituia o brasão do bispo D. Miguel da Silva.[3]