Jean-Guillaume, barão Hyde de Neuville (La Charité-sur-Loire, 24 de Janeiro de 1776 – Paris, 28 de Maio de 1857) foi um político pró-monárquico e diplomata francês que, entre outros cargos, foi Ministro da Marinha e Ultramar da França e embaixador da França em Portugal e nos Estados Unidos da América. Foi um dos mais fiéis apoiantes da legitimidade da Casa de Bourbon no trono de França. O papel que desempenhou nos acontecimentos políticos que rodearam a Abrilada levou a que fosse agraciado com a grã-cruz da Ordem da Torre e Espada e feito 1.º conde e depois 1.º marquês da Bemposta.
Com apenas 17 anos de idade tornou-se notado ao defender, com sucesso, um homem denunciado como contra-revolucionário por Joseph Fouché que foi presente ao tribunal revolucionário de Nevers.
A partir de 1793 afirmou-se como um partidário convicto da monarquia, militando nas hostes roialistas, mantendo uma posição que faria dele, ao longo de toda a sua carreira política, um dos mais fiéis apoiantes das pretensões dinásticas da Casa de Bourbon. Foi um dos poucos políticos franceses que manteve a sua posição de fidelidade aos Boubons durante os períodos da Revolução Francesa e do Primeiro Império Francês.
Em 1814, logo após o seu regresso a França, foi enviado por Louis XVIII em diversas missões secretas a capitais europeias, incluindo Londres, Turim e Florença. Uma das suas missões em Londres teve como objectivo persuadir o governo do Reino Unido a aceitar a transferência de Napoleão para um local mais remoto e de mais difícil evasão do que a ilha de Elba. As negociações foram interrompidas em Março de 1815 quando os receios franceses se materializaram e o imperador deposto retornou a França, iniciando o seu governo dos Cem Dias. Durante aquele período permaneceu estrangeiro, acompanhando o rei no seu exílio em Gand.
Restaurada a monarquia, Hyde de Neuville foi nomeado em Janeiro de 1816 embaixador em Washington, D.C., tendo negociado o reconhecimento americano da nova situação política da França e um tratado de livre-comércio. Permaneceu no cargo entre 1816 e 1821, residindo parte desse período na Decatur House.
Regressou a França no ano de 1821, declinando a aceitação do lugar de embaixador da França junto do Império Otomano. Ingressou então na política activa e em Novembro de 1822 foi eleito deputado pelo círculo eleitoral de Cosne.
Pouco depois da sua eleição foi nomeado embaixador da França em Portugal, então um dos Estados europeus onde mais se sentia a rivalidade anglo-francesa. Em Lisboa iniciou uma campanha anti-britânica, aliando-se às forças conservadoras antiliberais. O seu apoio foi importante no desencadear dos acontecimentos da Abrilada, o movimento que a 30 de Abril de 1824 tentou sem sucesso colocar D. Miguel no poder.
Afirma-se que tentou convencer o governo português a solicitar a intervenção armada do Reino Unido, assumindo que a mesma seria recusada pelo governo britânico em obediência ao seu proclamado princípio de não-intervenção. Se isso acontecesse, a França ficaria em posição de satisfazer o pedido que os britânicos tinham declinado, substituindo a influência britânica pela francesa. O insucesso do plano deveu-se em grande parte ao posicionamento dos meios mais reaccionários então no poder em França, os quais impediram o apoio à Constituição Portuguesa de 1822, o que minou a influência política de Hyde de Neuville em Lisboa, forçando-o a deixar Lisboa e retomar o seu lugar na Câmara dos Deputados em Paris.
Apesar do seu forte apoio à monarquia e do seu constante alinhamento com a posição dos roialistas, Hyde de Neuville tinha também fortes convicções liberais, o que o levou a opor-se às políticas do governo de Jean-Baptiste de Villèle. Em consequência, no ano de 1828 foi nomeado para o governo moderado presidido por Jean Baptiste Gay de Martignac, assumindo o cargo de Ministro da Marinha e Ultramar da França. Nessas funções teve um importante papel no apoio francês aos insurgentes gregos durante a Guerra da Independência da Grécia.
Durante o governo de Jules de Polignac (1829-1830) colocou-se novamente na oposição, afirmando-se um firme apoiante da Carta. Apesar disso, após a Revolução de Julho de 1830, apresentou um protesto, que não teve eco, contra a exclusão do trono da linha legítima da Casa de Bourbon, opondo-se à Monarquia Francesa de Julho e ao poder orleanista. Não sendo apoiado nas suas posições, demitiu-se do parlamento e abandonou a política activa.
As suas sobrinhas, a viscondessa de Bardonnet e a baronesa Laurenceau, compilaram a partir das suas notas autobiográficas uma obra, que intitularam Mémoires et souvenirs (3 volumes, Paris, 1888-1890). A obra é de grande interesse para o estudo do período da Revolução Francesa e da Restauração Monárquica em França.
Mémoires et souvenirs (3 volumes), Paris, 1888 (obra compilada a partir das suas notas autobiográficas pelas suas sobrinhas, a viscondessa de Bardonnet e a baronesa Laurenceau).
Referências gerais
Jacques Faugeras, Hide de Neuville : Irréductible adversaire de Napoléon Ier, Edition Guénégaud, 2003.
Françoise Watel, Jean-Guillaume Hyde de Neuville (1776-1857), conspirateur et diplomate, Col. Diplomatie et Histoire. Paris : Ministère des Affaires Étrangères, Direction des Archives et de la Documentation, 1997.