Filho de Keizo Nagami e Kikue Nagami, Ishiro foi professor no cursinho Equipe, em São Paulo, e militante da Aliança Nacional Libertadora (ANL).[2] Dividiu apartamento com seu companheiro de trabalho, Shuji Kosek, que não tinha conhecimento de sua ligação com a ANL, o qual acabou sofrendo repressão devido ao envolvimento do colega.[3]
Ishiro Nagami consta na lista de mortos e desaparecidos políticos durante o período do Regime militar no Brasil, mas teve seu processo indeferido por sua morte não ter sido considerada responsabilidade de agentes do Estado nem causada por consequência de repressão política.[4]
Morte
Nagami se envolveu em um acidente no dia 4 de Setembro de 1969, às 5:45h na Rua da Consolação, esquina com a Maria Antônia,[5] em São Paulo. Ele foi levado as hospital pela polícia, mas não resistiu aos ferimentos e faleceu horas depois do ocorrido.[6] O professor transportava uma bomba em seu Fusca azul, de placa 44-52-75, e dirigia acompanhado por Sérgio Roberto Correa, quando uma explosão acidental ocorreu. Ishiro Nagami teve seu corpo arremessado para fora do veículo e só pode ser reconhecido por causa de documentos que carregava e não foram danificados pela explosão. Já o reconhecimento do corpo de Sérgio Roberto Correa levou anos para ser realizado devido aos ferimentos sofridos por causa do acidente.[7] Segundo documentos dos orgãos de segurança do regime militar, Ishiro atuava sob o codinome Charles e teria ligações com José Wilson Lessa Sabag (o qual foi morto um dia antes do acidente de Ishiro) e Otávio Ângelo, também militantes da ALN. [8]
Os jornais da época noticiaram que o corpo de Ishiro ficou jogado na calçada por um tempo, até a chegada da polícia, que o removeu para o hospital, onde ele faleceu horas depois. Apesar de estarem envolvidos no mesmo acidente, o corpo de Sérgio foi levado ao IML (Instituto Médico Legal) às 9 horas da manhã e Ishiro apenas as 11 horas.[6] Como de costume a época, nenhum registro de entrada consta no hospital a que Ishiro foi levado. Relatos também afirmam que durante o tempo em que esteve com os policiais, Ishiro foi obrigado a contar seu endereço, facilitando assim a prisão dos professores Francisco Roberto Savioli e Suziko Seki, que ocorreu horas após a explosão.[9] Um recorte de documento achado no DOPS, sem o nome do autor e a data, noticia o acidente da seguinte forma: "Eram 5h20m da madrugada de quinta-feira, dia 4, e a rua ainda estava quase deserta. A explosão danificou um prédio de quatro andares situado a 20 metros de distância. Dois guardas correram para o local e ainda viram um Chevrolet Bel-Air, que seguia atrás do Volks, afastar-se rapidamente. No meio dos destroços, a polícia encontrou panfletos, dois revólveres, uma pistola automática. Presumem as autoridades que os ocupantes transportavam uma bomba-relógio que detonou antes da hora ou uma carga de nitroglicerina, capaz de explodir pelo próprio balanço do veículo. Os dois homens foram identificados: Ishiro Nakami [sic] e Yoshihiro Omo [sic]. O primeiro era o dono do carro; no seu apartamento foram confiscados 14 quilos de dinamite e presas duas pessoas". (apud Dossiê Ditadura, 2009, p. 147-149).[6] O jornalista e escritor brasileiro Percival de Souza trata do assunto em seu livro "Autópsia do Medo": A repressão justificava sua postura com uma série de argumentos. Um deles foi a explosão de um carro Volkswagen na madrugada de 4 de setembro de 1969 na Rua Consolação, em São Paulo, bem em frente ao número 770, próximo à Rua Maria Antônia, onde funcionava o Hotel Pink. O carro era um Fusca modelo do ano, azul, placa 44-5275, e estava em movimento seguido por um Chevette que, após a explosão, se desviou dos destroços e fugiu, tendo a persegui-lo sem êxito a viatura da Radiopatrulha. Dois ocupantes do Fusca morreram nessa explosão da bomba que eles mesmos transportavam. O general Luiz Felipe foi lá cheirar a pólvora e concluiu: “Essa foi roubada de Mogi das Cruzes”. Uma das vítimas era o jovem motorista Ishiro Nagami, que não morreu na hora, embora jogado junto à calçada. Um carro da polícia levou-o ao Hospital das Clínicas e aí o rapaz, quase morto, ainda foi forçado a dizer onde morava. A seu lado no Fusca ia alguém que a princípio se pensou ser uma mulher, por causa dos chumaços de cabelos longos. Teve o seu corpo completamente despedaçado, com partes dele indo parar a mais de 50 metros do local da explosão, junto com ferros retorcidos que voaram em todas as direções. Um dos bancos dianteiros estava a cerca de 20 metros da carcaça do carro, virado para baixo e cheio de carne humana. Duas pernas inteiras estavam no asfalto, separadas do corpo à altura do joelho. Três armas que estavam no carro ficaram intactas, embora também arremessadas para fora: um revólver calibre 38, outro calibre 32 e uma pistola 6,35 mm. Também não foi destruída a carteira de habilitação de Ishiro. Quanto à segunda vítima da explosão no Fusca, era homem também. Ao amanhecer, [o local estava] cheio de gente do II Exército, do Dops e da Polícia Federal [...]. Indócil, o delegado Hélio Tavares, da Rudi, ofendia um jornalista, a seguir espancado por milicianos da Força Pública. O delegado Tavares iria trabalhar no Dops, transformando-se num dos principais auxiliares do delegado Sérgio Fleury" (DE SOUZA, Percival. Autópsia do Medo. Editora Globo. Primeira edição: ano 2000).[6]
Após a explosão, policiais localizaram o endereço de Ishiro e foram à Rua Jaguaribe, onde prenderam os professores Francisco Roberto Savioli e Suziko Seki, ambos do cursinho Equipe. Além disso, também foram encontrados e apreendidos diversos cartuchos de dinamite em sua residência.[10] Especulava-se que a bomba seria utilizada em um atentado contra o edifício sede da Nestlé, que ficava próximo ao local do acidente. O corpo de Ishiro Nagami foi enterrado por sua família no cemitério de Guarulhos, São Paulo.