Maria Isaura Bruno (Jaú, 23 de janeiro de 1916[1] — Campinas, 2 de maio de 1977) foi uma atriz brasileira. Apesar dos poucos trabalhos realizados, destacou-se como uma das primeiras atrizes negras a ganhar um papel central em uma telenovela, Mamãe Dolores em O Direito de Nascer (1964), na TV Tupi.[2]
Biografia
Filha de Benedito Florindo Bruno e Benedita de Jesus,[1] ficou órfã de pai aos três e de mãe aos onze anos de idade, indo morar com a avó até os dezesseis. Quando esta também faleceu, Isaura foi expulsa de casa pelos tios, partindo para São Paulo em 1943 trabalhar como empregada doméstica.[3] Em 1944 engravidou de um homem com o qual não era casada e por isso perdeu o emprego, tendo que dormir em abrigos públicos e alojamentos de igrejas, uma vez que não tinha como manter-se.[3] Devido à situação de rua, sua filha acabou morrendo de pneumonia com poucos meses da idade.[3]
Isaura adotou uma criança anos mais tarde, Penha Maria.[3]
Carreira
Em 1948 trabalhava como cozinheira na casa do escritor Orígenes Lessa quando uma amiga a indicou para Wálter Forster, que procurava uma jovem negra para estrelar o filme Luar do Sertão, sendo convencida pelo diretor a iniciar a carreira de atriz.[4] No filme, lançado em 1949, Isaura interpretava a empregada Flausina, inspirada na personagem de Hattie McDaniel em ...E O Vento Levou.[4] Em 1952 esteve no filme Simão, o Caolho.[2] Isaura continuou trabalhando como doméstica até retomar a atuação em 1962 com o filme O Vendedor de Linguiça e estrear na televisão em 1963 na novela Quando Menos se Espera, na TV Cultura.
Em 1964 interpretou a líder dos quilombolas Rosa em Banzo na TV Record e, no mesmo ano, destacou-se como a primeira negra em um dos papéis centrais de uma novela em O Direito de Nascer na TV Tupi, interpretando Mamãe Dolores, papel pelo qual foi indicada a alguns prêmios.[4] Na época a imprensa notou que o elenco da novela chegava a receber centenas de cartas de fãs e não conseguia sair na rua sem ser cercado por pedidos de autógrafos.[5] Em 1965 Isaura perdeu a oportunidade de carreira internacional: o diretor Tito Davison enviou um telegrama para a TV Tupi convidando a atriz para voltar a interpretar Mamãe Dolores na versão mexicana de El derecho de nacer (1966) após saber do extremo sucesso da brasileira, porém a carta ficou perdida no meio da correspondência enviada por fãs e, quando enfim foi descoberta, a telenovela já estava no ar com a cubana Eusebia Cosme no papel.[5]
Em 1965 Isaura interpretou Maria em O Preço de uma Vida e em 1966 Branca em O Anjo e o Vagabundo. Entre 1967 e 1969 atuou como Tia Nastácia na montagem da Rede Bandeirantes de Sítio do Picapau Amarelo.[4] Já em 1969 participou de A Cabana do Pai Tomás, novela acusada de racismo pelo uso de blackface do protagonista.[6]
Após 1970, com um espaço restrito para negros na televisão, Isaura não recebeu mais convites para novelas e teve que voltar a trabalhar como doméstica e vender doces na Praça da Sé para sobreviver.[5] Logo após mudou-se para Campinas para morar com sua filha Penha Maria, trabalhando como gari.[5] Em 2 de maio de 1977 sofreu um ataque cardíaco na rua e, sem ser reconhecida, foi levada para a unidade de indigentes da Santa Casa de Campinas, confundida como moradora de rua, onde morreu.[5]
Filmografia
Televisão
Cinema
Ligações externas
Referências