A Internacional Comunista (do inglêsCommunist International) (Comintern) ou (Komintern) (do alemãoKommunistische Internationale)[1] ou também conhecida como Terceira Internacional (1919-1943), foi uma organização internacional fundada por Vladimir Lenin e pelo PCUS (bolchevique), em março de 1919, para reunir os partidos comunistas de diferentes países.
Tinha como propósito, conforme seus primeiros estatutos, lutar pela superação do capitalismo, o estabelecimento da ditadura do proletariado e da República Internacional dos Sovietes, a completa abolição das classes e a realização do socialismo, como uma transição para a sociedade comunista, com a completa abolição do Estado e para isso se utilizando de todos os meios disponíveis, inclusive armados, para derrubar a burguesia internacional.[2]
Sua fundação representou, originalmente, uma cisão da extrema esquerda da Segunda internacional em reação ao apoio que os partidos socialistas europeus deram à votação de créditos de guerra, mobilizações, etc. por parte de seus governos burgueses nacionais, quando da eclosão da Primeira Guerra Mundial, considerada pela ala esquerda do movimento socialista como uma guerra civil entre burguesias nacionais e como uma guerra de pilhagemimperialista.
A Comintern teve sete congressos mundiais, o primeiro deles em março de 1919. Enquanto Lenin viveu, os congressos eram anuais e foram realizados cinco deles, de 1919 a 1923. Após a morte de Lenin, este princípio da anualidade foi abandonado por Stalin, que desconfiava que a ingerência do Comintern poderia atrapalhar o desenvolvimento dos partidos comunistas em cada país - que tinham cada um suas respectivas pautas concretas - se ficassem subordinados a um organismo internacional.[3] Assim, sob Stalin, o Comintern teria apenas dois congressos: o sexto, em 1928, e o sétimo e último, em 1935, antes de ser dissolvido em 1943. Segundo o historiador Harold Fisher [en], o Comintern não era uma federação de partidos comunistas nacionais, mas um partido internacional formado por seções nacionais.[4]
Antecedentes históricos
Como já recordava o preâmbulo dos primeiros Estatutos da Internacional Comunista, os antecedentes da organização remontavam à Associação Internacional dos Trabalhadores fundada por Karl Marx e Friedrich Engels, em Londres, no ano de 1864, quando, pela primeira vez na história, se reuniram militantes de diferentes países.
Com o começo da Primeira Guerra Mundial se produz a cisão da Segunda Internacional entre socialistas reformistas e revolucionários, apoiando, os primeiros, seus respectivos governos nacionais na declaração de guerra, e os segundos, propondo o derrotismo revolucionário.
Os grupos socialistas revolucionários realizaram a Conferência de Zimmerwald, em setembro de 1915 e a Conferência de Kienthal, em abril de 1916, ambas na Suíça, estabelecendo-se nestes encontros a base programática da Terceira Internacional. Esta foi criada em março de 1919, em Petrogrado, para romper definitivamente com os elementos reformistas, que, na opinião dos socialistas revolucionários, haviam traído a classe trabalhadora e provocado o colapso da Segunda Internacional.
História da Internacional Comunista
A Internacional Comunista realizou sete Congressos Mundiais:
Do I ao IV Congresso Mundial
O I Congresso Mundial da Internacional Comunista teve lugar em Moscovo, entre 2 de março e 6 de março de 1919. O congresso de fundação realizou-se sobre o pano de fundo da Guerra Civil na Rússia, com o regime soviético sendo submetido ao bloqueio das potências europeias, razão para o número relativamente pequeno de participantes e para o caráter improvisado do evento e da própria organização: estiveram presentes 52 delegados, representando 34 partidos.[5] Estes decidiram pela constituição de um Comitê Executivo, composto de representantes das seções mais importantes, o qual elegeria um birô de 5 membros para cuidar dos assuntos de rotina administrativa e de casos urgentes entre os congressos. Como este birô não foi constituído, três líderes do comunismo soviético - Lenin, Trotsky e o médico socialista romeno de etnia búlgara Christian Rakovsky - delegaram a tarefa de gerenciar a Internacional ao judeu Grigori Zinoviev, como Secretário do Comitê Executivo. Zinoviev foi assistido por Angélica Balabanoff, Secretária da Internacional, pelo ex-anarquista russo-belga (e escritor de expressão francesa) Victor L. Kibaltchitch, conhecido como Victor Serge, e por Victor Ossipovitch Mazin.[6] Este congresso ocupou-se basicamente das diferenças entre a "democracia burguesa e a ditadura do proletariado" e da necessidade de difundir o sistema de Sovietes.
O II Congresso Mundial da Internacional Comunista se reuniu em Moscou, entre o 19 de julho e o 7 de agosto de 1920. Neste congresso se insiste na necessidade de propagar o sistema de Sovietes, e devido à existência de numerosas organizações social-democratas que solicitavam entrada, para evitar a diluição do programa comunista, foram estabelecidas as 21 condições para a adesão à I.C. (entre estas, notadamente, a disposição a realizar trabalho político tanto de forma legal quanto clandestina) e aprovados seus primeiros Estatutos.
O III Congresso Mundial da Internacional Comunista se celebrou entre 22 de junho e 12 de julho de 1921, em Moscou. Nele, foram combatidas as posturas ultra-esquerdistas de alguns partidos comunistas, como o KPD alemão, e assumindo-se que a situação mundial havia mudado, resolveu-se que os comunistas deveriam trabalhar politicamente, sob certas condições, com os partidos social-democratas nas chamadas "frentes únicas". Também se tratou da importância de incorporar às mulheres trabalhadoras no movimento comunista.
O IV Congresso Mundial da Internacional Comunista teve lugar em Moscou, entre 30 de novembro e 5 de dezembro de 1922, ocupando-se com as tácticas da "frente única", tratando da situação dos negros, assim como do trabalho dos comunistas nos sindicatos. Também se aborda a situação dos comunistas na Ásia e no Pacífico.
As organizações trotskistas até hoje só reconhecem, quanto ao seu próprio programa político, a validade destes quatro primeiros congressos (Trotsky chegaria a participar ativamente do V Congresso, mas já numa posição secundária; suas mais importantes comunicações ao Comintern estão na sua antologia, Os Primeiros Cinco anos da Internacional Comunista).
do V ao VII Congresso Mundial
O V Congresso Mundial da Internacional Comunista foi celebrado em Moscou entre junho e julho de 1924. Marcado pelo fracasso da revolução na Alemanha, e pela ascensão de Stalin ao poder na União Soviética, sob a consigna do "Socialismo em um só país", adotou novos estatutos com os quais começa a chamada "bolchevização" (ou russificação) da Internacional Comunista e dos partidos membros.
No verão de 1926 foi extinta a Presidência do CEIC, perdendo Zinoviev - que entrementes havia-se indisposto com Stalin - a direcção da Komintern. Foi eleito Nikolai Bukharin para sucedê-lo como secretário-geral do CEIC.
O VI Congresso Mundial da Internacional Comunista teve lugar entre julho e setembro de 1928 em Moscou. No novo contexto do começo da grave crise económica se aprova o slogan ultraesquerdista de "classe contra classe" que oficializa o começo do chamado "Terceiro Período", propondo-se a oposição irreconciliável entre comunistas e social-democratas. Aprova-se também o novo Programa da Internacional Comunista.
Em abril de 1929 Bukharin, alijado da liderança soviética, viu-se obrigado a se demitir de seu cargo. Para substituí-lo à frente do CEIC, foi eleito em 1934 o comunista búlgaro Georgi Dimitrov, que dirigiria a Internacional Comunista até a sua dissolução.
O VII Congresso Mundial da Internacional Comunista se reuniu em agosto de 1935 em Moscou. Depois da ascensão dos fascismos, e do fracasso da política ultraesquerdista aprovada no anterior congresso, passou-se à política de Frentes Populares.
Os partidos e organizações stalinistas e maoístas reconhecem a totalidade destes sete congressos.
Dissolução da Internacional Comunista
Em 15 de maio de 1943, seis meses antes de ser celebrada a Conferência de Teerã, o Presidium do comitê executivo da Internacional Comunista, "tendo em conta a maturidade dos partidos comunistas" nacionais, a necessidade de dar mais independência aos mesmos,[3] e para evitar os temores dos países capitalistas aliados, decidiu dissolver a Internacional Comunista.
Embora carecessem de uma organização internacional, os diferentes Partidos Comunistas seguiam as diretrizes do Partido Comunista da União Soviética com o qual mantinham encontros periódicos.
Organizações associadas
Sob a tutela da Internacional Comunista, criaram-se várias organizações internacionais, tais como:
Adler, Alan (ed.) 1980, Theses, Resolutions and Manifestos of the First Four Congresses of the Third International, London: Ink Links.
Balsamini, Luigi 2002, Gli Arditi del Popolo: Dalla guerra alla difesa del popolo contro le violenze fasciste, Salerno: Galzerano Editore.
Behan, Tom 2003, The Resistible Rise of Benito Mussolini, London: Bookmarks.
Bellamy, Richard and Darrow Schecter 1993, Gramsci and the Italian State,Manchester: Manchester University Press.
Broué, Pierre 1997, Histoire de l’Internationale communiste 1919–43, Paris: Fayard.
Comintern 1922c, Die Tätigkeit der Exekutive und des Präsidiums des E.K. der Kommunistischen Internationale vom 13. Juli 1921 bis 1. Februar 1922, Petrograd: Verlag der Kommunistischen Internationale.
Comintern 1994, The Comintern Archive, Leiden: IDC.
Degras, Jane (ed.) 1971, The Communist International 1919–1943 Documents,3 volumes, London: Oxford University Press.
Fiori, Giuseppe 1971, Antonio Gramsci: Life of a Revolutionary, New York: Dutton.
Firsov, F.I. 1980b, ‘IV kongress Kominterna i razvitie politiki edinogo fronta’,in Chetvertyi kongress Kominterna,edited by K.K. Shirinia and F.I. Firsov, Moscow: Izdat. Politicheskoi Literatury.
Francescangeli, Eros 2000, Arditi del popolo: Argo Secondari e la prima organizzazione antifascista (1917–1922), Rome: Odradek.
Gramsci, Antonio 1974, Socialismo e fascismo: L’Ordine nuovo 1921–1922, Turin: Einaudi.
Kunina, D.E. 1980, ‘Kominternovskaia taktika edinogo rabochego fronta i Kommunisticheskaia partiia Italii’, in Chetvertyi kongress Kominterna,edited by K.K. Shirinia and F.I. Firsov, Moscow: Izdat. Politicheskoi Literatury.
Ponomarev, Boris Nikolaevich 1984, The Socialist Revolution in Russia and the International Working Class, 1917–1923, in The International Working-Class Movement: Problems of History and Theory, Volume 4, Moscow: Progress Publishers.
Puschnerat, Tânia 2003, Clara Zetkin: Bürgerlichkeit und Marxismus, Essen: Klartext Verlag.
Reisberg, Arnold 1971, An den Quellen der Einheitsfrontpolitik, Berlin: Dietz Verlag.
Riddell, John 2009, ‘Clara Zetkin’s Struggle for the United Front’, International Socialist Review, 68 (November–December): 58–64.
Riddell, John 2012, Toward the United Front: Proceedings of the Fourth Congress of the Communist International, 1922, Chicago: Haymarket Books,
RILU 1921, Resolutions and Decisions of the First International Congress of Revolutionary Trade and Industrial Unions, Chicago: The Voice of Labor.
Rothschild, Joseph 1959, The Communist Party of Bulgaria: Origins and Development, 1883–1936, New York: Columbia University Press.
Sekei, G. 1980, ‘IV kongress Kominterna i problemy bor’by protiv fashizma v 1922–1923 gg.’, in Chetvertyi kongress Kominterna,edited by K.K. Shirinia and F.I. Firsov, Moscow: Izdat. Politicheskoi Literatury.
Spriano, Paolo 1967, Storia del Partito comunista italiano, 7 volumes, Turin: Einaudi.
Tasca, Angelo [A.Rossi, pseud.] 1966 [1941], The Rise of Italian Fascism 1918–1922, New York: Howard Fertig.