Injustiça epistêmica

A injustiça epistêmica é uma injustiça relacionada ao conhecimento. Inclui ações sistêmicas de exclusão e silenciamento; distorção sistemática ou deturpação dos significados e contribuições de determinadas pessoas; desvalorização do próprio status ou posição nas práticas comunicativas; distinções injustas de autoridade; e desconfiança injustificada. O termo foi cunhado pela filósofa britânica Miranda Fricker e, segundo ela, existem dois tipos de injustiça epistêmica: a injustiça testemunhal e a injustiça hermenêutica.[1][2]

Conceitos relacionados incluem opressão ou violência epistêmica. Em artigo de 2014, Vivian May identificou antecipações dessas teorias no pensamento de Anna Julia Cooper, que observou em 1892 que as mulheres negras eram uma " cadenza incompreendida", uma "estirpe abafada" por outras vozes. O ensaio de Gayatri Chakravorty Spivak "Pode o Subalterno Falar?" (1988) é uma contribuição inicial para a literatura sobre o assunto.

Injustiça testemunhal

A injustiça epistêmica testemunhal configura-se por ações discriminatórias sobre a palavra de alguém. Uma injustiça desse tipo pode ocorrer quando alguém é ignorado ou não levado em consideração por causa de seu gênero, sexualidade, raça ou etnia, deficiência ou, de forma mais ampla, por causa de sua identidade.[3] Fricker dá o exemplo do londrino Duwayne Brooks, que viu seu amigo Stephen Lawrence assassinado. [4] Os policiais que chegaram ao local olharam para Brooks com suspeita. De acordo com um inquérito oficial, "os oficiais não conseguiram se concentrar no Sr. Brooks e acompanhar energicamente as informações que ele lhes deu. Ninguém sugeriu que ele deveria ser usado em buscas na área, embora ele soubesse onde os assaltantes foram vistos pela última vez. Ninguém parece ter tentado acalmá-lo ou aceitar que o que ele disse era verdade." Ou seja, os policiais não viram Brooks como uma testemunha confiável, presumivelmente em parte devido ao preconceito racial. Este foi, diz Fricker, um caso de injustiça testemunhal, que ocorre quando "o preconceito faz com que um ouvinte dê um nível de credibilidade deflacionado à palavra de um orador".[2]

Injustiça hermenêutica

A injustiça epistêmica hermenêutica é a injustiça relacionada à forma como as pessoas interpretam suas vidas. Fricker utiliza o exemplo da criação e utilização da expressão assédio sexual para explicar essa injustiça. Por exemplo, foi apenas na década de 1970 que o termo foi introduzido na língua inglesa para descrever algo que muitas pessoas, especialmente mulheres, vivenciavam há muito tempo.[5] Na década de 1960, antes do termo ser introduzido, ao sofrer assédio sexual uma mulher teria dificuldade em colocar sua experiência em palavras. De acordo com Fricker, a dificuldade enfrentada não é por acaso. Isso se deve à exclusão das mulheres da participação plena na formação da língua inglesa. Na década de 1980, depois que o termo foi introduzido, uma mulher nesta situação teria condições de entender melhor o que aconteceu com ela. No entanto, ela poderia ainda ter dificuldade em explicar essa experiência para outra pessoa, porque o conceito de assédio sexual ainda não é bem conhecido. Novamente, a dificuldade enfretada não é por acaso, de acordo com Fricker. Isso se deve à exclusão das mulheres da participação igualitária no jornalismo, ciência, academia, direito e outras instituições que regulam e guiam as vidas humanas. Fricker argumenta que a vida de algumas mulheres é menos inteligível – para elas mesmas e/ou para os outros – porque as mulheres historicamente têm exercido menos poder para moldar as categorias através das quais todos nós entendemos o mundo. Fricker afirma que isso também é verdade para outros grupos marginalizados. [2]

A injustiça hermenêutica ocorre quando as experiências de uma pessoa não são bem compreendidas porque essas experiências não se enquadram em nenhum conceito conhecido por si mesma (ou por outras pessoas), devido à exclusão histórica de alguns grupos de pessoas de atividades que moldam a linguagem que as pessoas usam para dar sentido às suas experiências.[3]

Origens

Embora o termo injustiça epistêmica tenha sido cunhado em 1999, Vivian May argumentou que a ativista dos direitos civis Anna Julia Cooper, na década de 1890, antecipou o conceito ao afirmar que às mulheres negras é negado o reconhecimento total e igual como conhecedoras.[6] Gaile Pohlhaus Jr. aponta para o ensaio de 1988 de Gayatri Chakrovorty Spivak, " Can the Subaltern Speak? " (Pode a Subalterna falar?, em português), como outra antecipação. Nesse ensaio, Spivak descreve o que ela chama de violência epistêmica que ocorre quando pessoas subalternas são impedidas de falar por si mesmas sobre seus próprios interesses porque outros afirmam saber quais são esses interesses.[7]

Facilitação

O ''Cynefin framework'', uma metodologia para auxiliar a tomada de decisão, busca evitar a injustiça epistêmica ao permitir que os indivíduos formem seu próprio entendimento de sua situação. Uma abordagem usada no Cynefin é apresentar narrativas contrastantes que emergem de dados próprios da comunidade.[8] (p145)

Questões avançadas

Desde Fricker, outras pessoas intelectuais adaptaram o conceito de injustiça epistêmica e/ou expandiram o que o termo inclui. Essas contribuições incluíram nomear e restringir formas de injustiça epistêmica, como: opressão epistêmica,[9] epistemicídio,[10] exploração epistêmica,[11] silenciamento como silenciamento testemunhal e como sufocamento testemunhal,[12] injustiça contributiva,[13] injustiça epistêmica distributiva,[14] e injustiça de confiança epistêmica.[15]

José Medina defendeu um relato de injustiça epistêmica que incorpore mais vozes e preste atenção ao contexto e às relações em jogo. [16] Elizabeth S. Anderson argumentou que a atenção deve ser dada às causas estruturais e remédios estruturais da injustiça epistêmica. [17] Uma literatura estreitamente relacionada sobre epistemologias da ignorância também vem se desenvolvendo, o que inclui a identificação de conceitos sobrepostos como ignorância branca [18] [19] e ignorância hermenêutica intencional . [20]

A filósofa americana Kristie Dotson alertou que algumas definições podem deixar de fora contribuições importantes para a discussão em curso em torno da injustiça epistêmica. [13] Gaile Pohlhaus Jr. respondeu que o conceito deve, portanto, ser considerado aberto, e muitas abordagens diferentes devem ser consideradas. [1]

Em 2017, foi publicado o Routledge Handbook of Epistemic Injustice, compilando capítulos que abordam tanto o trabalho teórico sobre o conceito quanto os esforços para aplicar essa teoria a estudos de caso práticos.[21] O teórico político indiano Rajeev Bhargava usa o termo injustiça epistêmica para descrever como os grupos colonizados foram injustiçados quando os poderes colonizadores substituíram, ou impactaram negativamente, os conceitos e categorias que os grupos colonizados usavam para entender a si mesmos e ao mundo.[22] Da mesma forma, em 2021, o professor Sabelo J. Ndlovu-Gatsheni menciona o termo epistemicídio e o Império Cognitivo[23] para descrever a discriminação de estudiosos e intelectuais do Sul Global pela academia ocidental e na esfera dos estudos decoloniais.

A negação do genocídio tem sido considerada um exemplo de injustiça epistêmica. [24] [25] [26]

Ver também

Filósofos e teóricos selecionados

Referências

  1. a b Pohlhaus Jr., Gaile (2017). «Varieties of Epistemic Injustice». In: Kidd; Medina; Pohlhaus Jr. Routledge Handbook of Epistemic Injustice. [S.l.]: Routledge. pp. 13–26. ISBN 9781138828254. doi:10.4324/9781315212043 
  2. a b c Fricker, Miranda (2007). Epistemic Injustice: Power and the Ethics of Knowing. [S.l.]: Oxford University Press. 1 páginas. ISBN 9780198237907. OCLC 729949179 
  3. a b Fricker, Miranda (2007). Epistemic Injustice: Power and the Ethics of Knowing. [S.l.]: Oxford University Press. 1 páginas. ISBN 9780198237907. OCLC 729949179 
  4. Fricker, Miranda (2014). «Epistemic Equality?». University of Cape Town, Cape Town, South Africa 
  5. Blakemore, Erin (8 de janeiro de 2018). «Until 1975, 'Sexual Harassment' Was the Menace With No Name». history.com. Consultado em 8 de outubro de 2020 
  6. May, Vivian M. (11 de outubro de 2013). «"Speaking into the Void"? Intersectionality Critiques and Epistemic Backlash». Hypatia. 29 (1): 94–112. doi:10.1111/hypa.12060 
  7. Spivak, Gayatri Chakravorty (1988), «Can the Subaltern Speak?», Marxism and the Interpretation of Culture, ISBN 9780333462768, Macmillan Education UK, pp. 271–313, doi:10.1007/978-1-349-19059-1_20 
  8. Cynefin weaving sense-making into the fabric of our world. Cognitive Edge - The Cynefin Co: [s.n.] 2021. ISBN 978-1-7353799-0-6. OCLC 1226544685 
  9. Dotson, Kristie (2014). «Conceptualizing Epistemic Oppression». Social Epistemology. 28 (2): 115–138. doi:10.1080/02691728.2013.782585 
  10. Santos, Boaventura de Sousa (16 de novembro de 2015). Epistemologies of the South: Justice Against Epistemicide. New York: Routledge. ISBN 978-1-315-63487-6. doi:10.4324/9781315634876 
  11. Berenstain, Nora (2016). «Epistemic Exploitation». Ergo, an Open Access Journal of Philosophy. 3 (20200916). doi:10.3998/ergo.12405314.0003.022Acessível livremente 
  12. Dotson, Kristie (2011). «Tracking Epistemic Violence, Tracking Practices of Silencing» (PDF). Hypatia. 26 (2): 236–257. doi:10.1111/j.1527-2001.2011.01177.x 
  13. a b Dotson, Kristie (2012). «A Cautionary Tale: On Limiting Epistemic Oppression». Frontiers: A Journal of Women Studies. 33: 24. doi:10.5250/fronjwomestud.33.1.0024 
  14. Coady, David (2010). «Two Concepts of Epistemic Injustice». Episteme (em inglês). 7 (2): 101–113. doi:10.3366/E1742360010000845 
  15. Grasswick, Heidi (2017). «Epistemic Injustice in Science». In: Kidd; Medina; Pohlhaus Jr. Routledge Handbook of Epistemic Injustice. [S.l.]: Routledge. ISBN 9781138828254. doi:10.4324/9781315212043 
  16. Medina, José (2012). «Hermeneutical Injustice and Polyphonic Contextualism: Social Silences and Shared Hermeneutical Responsibilities». Social Epistemology. 26 (2): 201–220. doi:10.1080/02691728.2011.652214 
  17. Anderson, Elizabeth (2012). «Epistemic Justice as a Virtue of Social Institutions». Social Epistemology. 26 (2): 163–173. doi:10.1080/02691728.2011.652211 
  18. Mills, Charles (2007). «White Ignorance». In: Sullivan; Tuana. Race and Epistemologies of Ignorance. Col: Philosophy and Race Series. Albany, NY: SUNY Press. ISBN 9780791471012 
  19. Mills, Charles (2017). «Ideology». In: Kidd; Medina; Pohlhaus Jr. Routledge Handbook of Epistemic Injustice. [S.l.]: Routledge. ISBN 9781138828254. doi:10.4324/9781315212043 
  20. Pohlhaus, Gaile (2012). «Relational Knowing and Epistemic Injustice: Toward a Theory of Willful Hermeneutical Ignorance». Hypatia. 27 (4): 715–735. doi:10.1111/j.1527-2001.2011.01222.x 
  21. Kidd; Medina; Pohlhaus Jr., eds. (2017). Routledge Handbook of Epistemic Injustice. [S.l.]: Routledge. ISBN 9781138828254. doi:10.4324/9781315212043 
  22. Bhargava, Rajeev (2013). «Overcoming the Epistemic Injustice of Colonialism». Global Policy. 4 (4): 413–417. doi:10.1111/1758-5899.12093 
  23. Ndlovu-Gatsheni, Sabelo J. (4 de maio de 2021). «The cognitive empire, politics of knowledge and African intellectual productions: reflections on struggles for epistemic freedom and resurgence of decolonisation in the twenty-first century». Third World Quarterly. 42 (5): 882–901. ISSN 0143-6597. doi:10.1080/01436597.2020.1775487 
  24. Altanian, Melanie (2019). Cottier; Lalani; Siziba, eds. Genocide Denialism as an Intergenerational Injustice (em inglês). [S.l.]: BRILL. ISBN 978-90-04-38800-0 
  25. Altanian, Melanie (4 de março de 2021). «Genocide Denial as Testimonial Oppression». Social Epistemology. 35 (2): 133–146. ISSN 0269-1728. doi:10.1080/02691728.2020.1839810 
  26. Oranlı, Imge (2021). «Epistemic Injustice from Afar : Rethinking the Denial of Armenian Genocide». Social Epistemology. 35 (2): 120–132. doi:10.1080/02691728.2020.1839593 

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