Detalhe da primeira página do Beowulf, mostrando as palavras "ofer hron rade", traduzidas como "sobre a estrada da baleia (mar)". É um exemplo de kenning.
O inglês antigo, também denominado anglo-saxão[nota 1] ou inglês saxônico[2] (conhecido como Englisċ (pronunciado: [ˈeŋɡliʃ]), por seus falantes e Old English ou Anglo-Saxon em inglês moderno) é a forma mais antiga da língua inglesa,[3] falado onde hoje é a Inglaterra e o sul da Escócia, entre meados do século V e meados do século XII.[2]
O inglês antigo não foi um idioma estático. Seu uso cobre um período de aproximadamente 600 anos, das migrações anglo-saxãs no século V até a invasão normanda de 1066,[8] quando a língua sofreu uma mudança radical por causa da invasão normanda de Guilherme, o Conquistador, que trouxe muitas palavras e influências normandas para o inglês. Deste ponto em diante, a língua é conhecida como inglês médio.[9]
O inglês antigo se dividia em quatro dialetos: o saxão ocidental, no qual foram escritos os primeiros documentos em inglês antigo, incluindo o Beowulf;[10] o kentiano, mércio, dialeto no qual o inglês tem importantes raízes; e o nortúmbrio.[11][12]
Etimologia
Englisċ, do qual a palavra English é derivada, significa 'pertencente aos anglos'.[13] No inglês antigo, essa palavra foi derivada de Angles (uma das tribos germânicas que conquistou partes da Grã-Bretanha no século V).[14] Durante o século IX, todas as tribos germânicas invasoras eram chamadas de Englisċ. Foi levantada a hipótese de que os anglos adquiriram seu nome porque as terras onde eles viviam na costa da Jutlândia (hoje Dinamarca continental) se assemelhavam a um anzol. *Anguz, do protogermânico, também significava "estreito", referindo-se às águas rasas perto da costa. Essa palavra no final das contas remonta à palavra *h₂enǵʰ, do protoindo-europeu, também significando 'estreito'.[15]
Outra teoria é que a derivação de 'narrow' (estreito, em português) é a mais provavelmente conectada com angling (pesca com anzol, em português), que se originou de uma raiz protoindo-europeia que significa dobra, ângulo.[16] O elo semântico seria fishing hook (anzol de pesca, em português), que é curvo ou dobrado em um ângulo.[17] Em qualquer caso, os anglos podem ter sido chamados assim porque eram pescadores ou descendiam originalmente deles e, portanto, a Inglaterra significaria 'terra dos pescadores' e o inglês seria 'a língua dos pescadores'.[18]
Fonologia
A fonologia do inglês antigo é similar à do inglês moderno, a maior diferença está na existência de vogais longas que mudavam o significado de palavras e algumas consoantes.[19] Haviam também variedade fonológica entre os dialetos, como por exemplo, no saxão ocidental, [æ] e [io] se convertiam em [ie].[20]
Consoantes
O sistema de consoantes do inglês é essencialmente idêntico ao do inglês moderno. No entanto, existem diferenças ortográficas, como o uso de ð e þ para, respectivamente, os sons [ð] e [θ]; o uso de ƿ para a aproximante labiovelar; o cg para [dʒ]; c para representar tanto [k] quanto [tʃ]; o f usado para simbolizar tanto o [f] (surdo) quanto o [v] (sonoro); o g usado para demonstrar [ɡ], bem como [j] e também [ɣ]; e, por fim, o uso de h para representar [x] assim como [h]. Abaixo há uma tabela das consoantes do inglês antigo.[19]
No inglês antigo, a quantidade das vogais importava no significado das palavras, algo que não existe mais no inglês moderno. Portanto, existiam palavras como āc ("carvalho", em português) e ac ("mas, e", em português). Abaixo há uma tabela de vogais e ditongos do inglês antigo.[19]
↑No século XVI, o termo "anglo-saxão" passou a se referir a todas as coisas do período inicial da Inglaterra, incluindo a língua, a cultura e o povo. Enquanto permanece o termo normal para os dois últimos aspectos, a língua começou a ser chamada de "inglês antigo" no final do século XIX, como resultado do nacionalismo anti-germânico cada vez mais forte na sociedade inglesa da década de 1890 e início de 1900. No entanto, muitos autores ainda usam o termo anglo-saxão para se referir ao idioma.[1]
Baker, Peter S. (2003). Introduction to Old English. Oxônia: Blackwell. ISBN978-1405152723
Cercignani, Fausto (julho de 1983). «The Development of */k/ and */sk/ in Old English». University of Illinois Press. Journal of English and Germanic Philology. 82 (3): 313-323. JSTOR27709191
Lass, Roger (1994). Old English. a historical linguistic companion. Cambrígia: Cambridge University Press. ISBN0-521-43087-9
Mitchell, Bruce; Robinson, Fred C. (2001). A Guide to Old English. Oxônia: Wiley-Blackwell. ISBN978-0470671078