Dos italianos que chegaram precisamente à Paraíba, a maioria veio primeiramente para outros estados, sobretudo Pernambuco, para depois se estabelecer em solo paraibano. Um número menor veio diretamente, visto que os governos da época viam com bons olhos a vinda dessa mão-de-obra em muitos casos bem qualificada.[3]
Histórico
Antecedentes
A partir do século XVI, com a vinda de portugueses da metrópole para o Brasil colonial, vários comerciantes italianos começaram a vir esparçadamente para o Brasil, sem contudo representar uma migração organizada. No livro A Itália no Nordeste: contribuição italiana ao Nordeste do Brasil, de 1992, há a seguinte citação corroborando tal afirmação:
A Paraíba havia recebido numerosos migrantes italianos no século XVIII, como os Sorrentino, Toscano, Jacome, Espinola ou Espindola, Costa, entre outros, que se casaram com descendentes de portugueses e espanhóis, integrando-se à vida e à sociedade locais, como já ocorrera nos primeiros séculos com os Cavalcanti e os Acioli, em Pernambuco.[4]
Uma migração mais organizada começou a ocorrer, porém, quando nos fins do século XIX famílias italianas em busca de paz e condições de vida que não encontravam na Europa emigram para muitas partes do mundo e várias regiões do Brasil, entre elas o Nordeste.[5] Dessa região, os imigrantes escolheram principalmente a Bahia e Pernambuco, sobretudo pelo fato de estes serem os estados nordestinos com os maiores índices de desenvolvimento econômico na época.[6] Entretanto, outros estados — sobretudo a Paraíba, Ceará e Alagoas — também atraíram peninsulares, que viriam a formar núcleos importantes e de expressiva influência social, política e econômica nas sociedades locais.[7] Os que chegavam ao estado preferiam se estabelecer nos maiores centros econômicos, João Pessoa e Campina Grande, mas houve também núcleos em Mamanguape, Pilar e cidades do Brejo, como Areia, solânea, Alagoa Grande e Bananeiras, região de clima mais ameno, em razão das altas altitudes do Planalto da Borborema, das chuvas regulares e dos solos férteis.
Entretanto, as condições econômicas pouco viáveis no estado na época não favoreceram a vinda de maior quantidade desses imigrantes, como aconteceu no Sul e Sudeste, que seriam palco da «Grade Imigração» no Brasil.[1]
Estatísticas
O Centro Cultural Dante Alighieri, de João Pessoa, realizou um levantamento cujo resultado revelou que havia 326 famílias descendentes desses imigrantes residindo no estado no início dos anos 2000.[1] Já no começo do século passado, por volta de 1920, havia 600 italianos vivendo na Paraíba, segundo o levantamento de feito por Franco Cenni no livro Italianos no Brasil: andiamo in 'Merica, o que demonstra que o estado acabou se tornando o terceiro destino preferido por peninsulares para se estabelecer no nordeste brasileiro, após a Bahia e Pernambuco.[7]
Apesar de a presença italiana não ter deixado marcas étnicas arelevantes no povo paraibano, a comunidade local trouxe várias mudanças positivas na vida social, política, cultural, religiosa e econômica do estado, já que ela e seus descendentes sempre ocuparam postos-chave na sociedade do estado, como comerciantes, médicos, arquitetos, engenheiros, artistas e políticos.[3][1]
Tal influência social pode ser observada em vários aspectos, como nos prédios antigos da capital, a exemplo da Academia de Comércio Epitácio Pessoa, do coreto da Praça da Independência, da Associação Comercial da Paraíba ou da Loja Maçônica Branca Dias, assim como em construções da avenida General Osório. Para além da arquitetura, houve agremiações sociais efervescentes, como a Società Italiana de Beneficenza XX de Settembre,[3] situada na rua Barão do Triunfo,[10] e até uma representação da Cruz Vermelha italiana em João Pessoa, no início dos anos 1930, localizada precisamente no Liceu Paraibano, onde também funcionava um curso gratuito de italiano, mantido pela seção do «fáscio» local, os apoiadores de Mussolini.
No livro A Presença Italiana no Brasil, de 1996, há a seguinte citação sobre o progresso trazido pela comunidade para a capital paraibana:
(...) na aurora da cinematografia paraibana, italianos como Stefano Conte, Giovanni Petrucci, Vicente Rattacaso e Grisi faziam-se proprietários dos primeiros cinemas da capital paraibana de nomes Morse, Popular, Pathé e Rio Branco. Destes, o Rio Branco, inaugurado em 1911 e precursor do cine Rex, que somente cerraria as portas na década de oitenta (...)[6]
As atividades fascistas nos estados nordestinos foram movimentadas, apesar de as comunidades italianas locais serem numericamente pouco expressivas, se comparadas às do Sul—Sudeste do país. Na Paraíba, um fascio foi fundado em 1929 e reunia 34 sócios.[9]
Em 1995, sob as ordens do então governador Antônio Mariz, os azulejos que reproduziam suásticasnazistas na sede do Governo do Estado foram removidos. A medida gerou polêmica de alguns intelectuais do estado, que viram nesse ato uma forma de apagar resquícios arquitetônicos importantes da presença italiana no estado, especialmente na capital.[12][13]
Um artigo do historiador José Octávio de Arruda Mello ganhou repercussão até no jornal francês Le Monde, ao argumentar que o governador «não podia destruir um patrimônio histórico que pertence ao estado e não a um governo ou coronel isolado, que decide despoticamente o que pode ou não existir no território que governa efemeramente, como se visse em si um deus dono de todas as decisões. O importante não é retirar esse símbolo dos monumentos, mas do coração dos homens»,[nota 5] isso como réplica à declaração de Mariz de que seu governo não é nazista e ele também não o era. A decisão do então governador havia recebido o aval do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (Iphaep).
↑Fala-se preferencialmente em migração à imigração em virtude de grande parte da comunidade ter vivido em outros estados antes da fixação em solo paraibano. Além disso, o número de famílias em si não caracteriza um fluxo migratório por excelência.
↑As estimativas por vezes conflitantes refletem as várias fontes tomadas na época: governo italiano, consulado americano e IBGE
↑O congresso ocorreu em São Paulo entre 28 de maio a 1 de junho de 1902, com a participação de 30 associações paulistas (10 da capital), 3 de Minas Gerais, 2 de Rio Grande do Sul, 2 da Bahia e 1 para cada um dos seguintes estados: Pará, Paraíba, Pernambuco, Paraná, além de uma participação individual em representação de Sergipe.
↑ANDRADE, Manuel Correia de Oliveira (1992). A Itália no Nordeste: contribuição italiana ao Nordeste do Brasil. [S.l.]: Fondazione Giovanni Agnelli. 210 páginas !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
↑COSTA, Adailton Coelho (1986). Mamanguape, a Fênix Paraibana. [S.l.]: Grafset Ltda. 210 páginas !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
↑ abcBONI, Luís Alberto de; et alii (1996). A Presença Italiana no Brasil, Volume 3. [S.l.]: Escola Superior de Teologia !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
↑ abcCENNI, Franco (2003). Italianos no Brasil: «andiamo in 'Merica'». [S.l.]: EdUSP. 535 páginas. ISB: 8531406714 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
↑SEITENFUS, Ricardo Antônio Silva (2000). A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial. [S.l.]: Edipuc – RS. 378 páginas. ISBN8574301221 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
↑ abBERTONHA, João Fábio (2001). O fascismo e os imigrantes italianos no Brasil. [S.l.]: Edipuc – RS. 446 páginas. ISBN8574302082 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
↑PONZI, Alfio (1986). De binóculo na varanda: memórias. [S.l.: s.n.] 318 páginas !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
↑JUNIO, Dep. M. (29 de outubro de 2008). «Projeto de Lei na Câmara n° 105, de 2010». Senado Federal. Consultado em 15 de agosto de 2014. Arquivado do original em 12 de agosto de 2014 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
↑ abRODRIGUES, Walfredo (1962). Roteiro sentimental de uma cidade. [S.l.]: Editora Brasiliense. 280 páginas !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)