A Igreja Paroquial de Santa Maria de Lagos é um edifício religioso, localizado na cidade de Lagos, em Portugal. Começou a ser construída no século XV, sendo inicialmente conhecida como Igreja da Misericórdia.[1]
Descrição
A Igreja de Santa Maria está situada no lado sudeste da Praça Infante D. Henrique, no centro da cidade,[2] fazendo igualmente fronteira com a Rua do Castelo dos Governadores e o Jardim da Constituição.[3] No piso térreo, situa-se o portal de entrada, ladeado por medalhões de São Pedro e São Paulo e colunas caneladas, e duas janelas, uma de cada lado do portal, enquanto que no primeiro andar existe um janelão por cima da porta, encimado por um nicho.[2] As varandas e molduras das janelas destacam-se pelos seus elaborados trabalhos de cantaria e serralharia.[1] Para acesso à nave, também existe uma porta na fachada lateral da igreja.[1] O edifício integra-se no estilo neoclássico.[3]
O imóvel apresenta uma composição simétrica, uma só nave de planta rectangular,[1] três capelas colateais,[3] uma sacristia, situada na fachada lateral esquerda,[3] um baptistério, uma capela-mor elevada e um coro, elevado sobre a zona de entrada.[1] No seu interior, salienta-se a imagem de Nossa Senhora da Piedade.[2] Também tem duas torres sineiras com campanários.[1]
As obras da igreja iniciaram-se em 1498, em anexo ao antigo Hospital da Misericórdia.[1] O templo foi construído parcialmente em cima das ruínas das muralhas primitivas de Lagos, como foi comprovado pela descoberta de vestígios da muralha dentro do altar-mor, durante trabalhos arqueológicos.[5] Assim, o local onde se situa a igreja estava situado imediatamente no exterior do antigo núcleo urbano de Lagos, numa área que tinha uma grande importância por ser o local onde a Ribeira dos Touros desembocava na Ribeira de Bensafrim.[5] A moldura de cantaria na porta lateral foi instalada nos princípios do século XVI, e a igreja foi alvo de obras de expansão em 1556 e de reparação em 1657.[1] O portal provavelmente terá feito parte do primeiro edifício, enquanto que as molduras das janelas e o nicho superior podem ter sido colocadas nesse período, ou acrescentadas posteriormente.[2] A igreja foi referida num documento de 1586, onde é descrita como sendo a maior na vila, e de onde se iniciavam as procissões do Corpo de Cristo.[3] Em 1594, passa a ter a categoria de igreja matriz.[3]
Séculos XVIII e XIX
Foi muito danificada pelo Sismo de 1755, que devastou a cidade.[2] Ainda assim, tornou-se a igreja paroquial devido à destruição da Igreja de Santa Maria da Graça.[1] Foi reconstruída após o terramoto, tendo as torres sineiras sido provavelmente construídas durante esta fase.[2] O processo de transferência foi descrito pelo lacobrigense Domingos de Mello na sua obra Memoria sobre a decadencia, e ruina a que se acha reduzida a Cidade de Lagos, e meio de arremediar escrita em 1821 e copiada pelo investigador Joaquim Negrão: «O Terramoto de 1755 que deixou por terra quasi todo o Lagos, arruinou e demolio inteiramente a Matriz e Freguesia de Santa Maria, e por este desastroso accidente, passou a Freguesia para a Igreja de Misericordia, que tem desempenhado estas funções: Nestas circunstancias, e supposta a transferiraõ do Hospital da Misericordia, póde a Igreja deste nome ficar servindo, como já está de perpetua Freguesia.».[6] O autor propôs igualmente que o hospital da Misericórdia fosse transferido para o Convento de Nossa Senhora do Carmo, então em processo de encerramento, cuja igreja também poderia ser igualmente passada para a Misericórdia: «Subdevidir o Convento em partes proporcionadas: 1. Para Hospital Regimental ou militar: 2 Para Hospital da Misericordia; e 3. Para huma Casa d'Instruçaõ e Educaçaõ publica. A Igreja das Religiosas póde ficar servindo de Misericordia, em lugar da que fica subsistindo em Freguesia».[6]
Em 1848 o imóvel foi alvo de grandes obras de recuperação.[3] Em 1888 foi quase totalmente destruída por um incêndio, causado provavelmente por foguetes, tendo-se perdido também a documentação no interior, embora as imagens tenham sobrevivido.[3] Fo reedificada em 1891, como indicado pela data indicada na capela, tendo as obras sido em grande parte apoiadas por Maria Júdice Biker Moral Canête.[3] O jornal O Lacobrigense de 19 de Julho de 1891 noticiou que os trabalhos decorriam com grande lentidão devido à falta de fundos, tendo sido totalmente financiados por donativos particulares.[7] Dois anos depois foi instalado o órgão, pela empresa Walcker & C. (en), de Ludwigsburgo.[3] A 12 de outubro de 1897, os reis D. Carlos e D. Amélia visitaram a cidade de Lagos, tendo estado na Igreja de Santa Maria.[8]
Século XX e XXI
Em 1983, foram feitas obras de restauro e conservação, que incluíram várias intervenções no interior.[1] Em 10 de Outubro de 1984, o Diário de Lisboa noticiou que tinha sido assinado um acordo entre o Ministério do Equipamento Social e a Câmara Municipal de Lagos para um extenso programa de reabilitação urbana no centro histórico da cidade, sendo a Igreja de Santa Maria um dos principais monumentos a precisar de obras, principalmente no telhado, que tinha abatido parcialmente.[9] Em 1989 foi novamente alvo de grandes trabalhos, por parte da paróquia, tendo sido substituída a cobertura por uma estrutura sobre placas de estuque, mantendo-se a geometria original do edifício.[3] Em 2005, foram feitas sondagens arqueológicas na fachada Sudoeste da Igreja de Santa Maria, na Rua do Castelo dos Governadores.[5] Foram encontradas várias peças antigas, incluindo fragmentos de cerâmica comum dos séculos XV e XVI e vidrada de tradição muçulmana, numismas e outras peças metálicas, uma pequena ferramenta em pedra em pedra, e restos de âncoras.[5]
Em Dezembro de 2021, o executivo da Câmara Municipal de Lagos autorizou a atribuição de um subsídio de 62 mil euros à Fábrica da Igreja Paroquial da Freguesia de Santa Maria de Lagos, para permitir a realização de obras de conservação no exterior do edifício, que incluíam o tratamento e a pintura das paredes exteriores, das portas, das janelas e dos elementos metálicos.[10] A autarquia considerou esta intervenção como «necessária para que este exemplar de arquitetura religiosa recupere a dignidade compatível com o seu valor patrimonial e o contexto urbano em que está inserido, na Praça do Infante, em pleno centro histórico da cidade».[10] As obras foram feitas como parte da uma estratégia municipal para a preservação do património religioso do concelho, no âmbito da qual também foram programadas intervenções nas igrejas da da Luz e de São Sebastião.[11]
Em 27 de Outubro de 2022, foi descerrado um busto do cardeal José Sebastião de Almeida Neto no átrio da igreja, durante as comemorações do dia da cidade.[12] Em 16 de Julho de 2023, durante a cerimónia de reabertura da Igreja de Nossa Senhora do Carmo após obras de restauro, o vice-presidente da Câmara Municipal de Lagos, Paulo Jorge Reis, declarou que estava em preparação um protocolo para recuperar o orgão na Igreja de Santa Maria.[13]
↑CARRUSCA, Sofia (2003). «Antigo edifício da Portagem». Património Cultural. Direcção Geral do Património Cultural. Consultado em 19 de Outubro de 2020
↑«Factos e Notícias»(PDF). O Lacobrigense. Ano 1 (14). Lagos. 19 de Julho de 1891. p. 1. Consultado em 21 de Fevereiro de 2023 – via Hemeroteca Digital do Algarve
COUTINHO, Valdemar (2008). Lagos e o Mar Através dos Tempos. Lagos: Câmara Municipal de Lagos. 95 páginas
PAULA, Rui Mendes (1992). Lagos: Evolução Urbana e Património. Lagos: Câmara Municipal de Lagos. 392 páginas. ISBN9789729567629
ROCHA, Manoel João Paulo (1991) [1910]. Monografia de Lagos [Monographia: As Forças Militares de Lagos nas Guerras da Restauração e Peninsular e nas Pugnas pela Liberdade]. Faro: Algarve em Foco Editora (publicado originalmente pela Typographia Universal, no Porto). 488 páginas