A Igreja Católica na Etiópia é parte da Igreja Católica universal, em comunhão com a liderança espiritual do Papa, em Roma, e da Santa Sé.[6] O catolicismo é uma religião pequena no país, porém, de grande importância, já que, apesar de os católicos formarem somente 0,7% da população, a Igreja administra incríveis 90% das obras sociais. Isso significa ser uma ajuda insubstituível às populações pobres atingidas por problemas cíclicos e muito graves. A obra social da Igreja diz respeito, em primeiro lugar, ao campo sanitário e ao da instrução, mas também ao da construção de obras (poços, aquedutos) para a exploração da água.[7][8]
O anjo do Senhor disse a Filipe: "De pé! Dirige-te ao sul, ao caminho que leva de Jerusalém a Gaza (um caminho deserto)". Ele se pôs a caminho. Aconteceu que um eunuco etíope, ministro da rainha Candace e administrador de seus bens, voltava de uma peregrinação a Jerusalém, sentado em sua carruagem e lendo a profecia de Isaías. O Espírito disse a Filipe: "Aproxima-te e junta-te à carruagem". Correndo, Filipe a alcançou. Ouvindo que lia a profecia de Isaías, lhe perguntou: "Entendes o que estás lendo?" Respondeu: "Como vou entender, se ninguém me explica?" E o convidou a subir e sentar junto dele. O texto da Escritura que estava lendo era o seguinte: "Como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha muda diante do tosquiador, da mesma forma ele não abriu a boca. Humilharam-no, negando-lhe o direito; quem meditou em seu destino? Pois arrancaram da terra sua vida". O eunuco perguntou a Filipe: "Dize-me, por favor: de quem fala o profeta? De si mesmo ou de outro?" Filipe tomou a palavra e, começando por esse texto, explicou-lhe a boa notícia de Jesus. Prosseguindo caminho, chegaram a um lugar em que havia água, e o eunuco lhe disse: "Aí existe água. O que impede de me batizar?" Respondeu Filipe: "Crês de todo o coração?" Respondeu o eunuco: "Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus". Mandou parar a carruagem, desceram os dois à água, o eunuco e Filipe, que o batizou. Quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou Filipe, de modo que o eunuco não o viu mais; e continuou sua viagem muito contente.
O primeiro bispo e evangelizador, foi São Frumêncio, e era cidadão romano que sofreu um naufrágio no Mar Vermelho e chegou à Etiópia. Retornou à Europa, e foi ordenado por Santo Atanásio de Alexandria. Com esse primeiro bispo, que foi um sírio, a Etiópia se tornou oficialmente um país cristão. Foi o segundo país a declarar o cristianismo como a religião do estado, depois da Armênia.[9][13]
O catolicismo romano retornou ao país no século XVI, como resultado das relações entre a Etiópia e Portugal. Os portugueses fizeram tentativas de mudar a religião do Estado etíope para a católica, e isso causou o derramamento de sangue, pois os camponeses reagiram com raiva. Na sequência dos mal-sucedidos esforços missionários dos portugueses na Etiópia durante o século XVII, o governo imperial proibiu toda a atividade missionária católica no país, que incluía também a Eritreia. Esse período católico costuma ser considerado o que moldou a identidade da Etiópia em grande medida.[11]
A partir de 1890 o controle de parte do território etíope passou para a Itália, e passou a receber missionários católicos.[12] Em 1894, foi estabelecida uma prefeitura apostólica separada para a Eritreia. No mesmo ano, o governador italiano convidou a ordem capuchinha para dirigir a evangelização da colônia e supervisionar o recém-criado sistema educacional. Em 1911, a Prefeitura Apostólica tornou-se um Vicariato Apostólico e, em 1930, um Ordinariato. No mesmo ano, um Colégio Etíope foi fundado dentro dos muros do Vaticano, e também recebeu estudantes da Eritreia.[14]
Entre 1951 e 1952, o Ordinariato da Eritreia tornou-se um exarcado apostólico e no ano seguinte a Eritreia entrou em uma união federal com a Etiópia,[14] depois de uma decisão da ONU, anexando assim o país, levando à formação do movimento de libertação eritreu, especialmente liderado pelos muçulmanos, com a intenção de formar uma república. Como a maioria dos cristãos ortodoxos da Eritreia tinha um forte relacionamento com a Igreja Ortodoxa Etíope, eles viram o movimento dos muçulmanos como perigoso. Os muçulmanos também consideravam os cristãos ortodoxos como uma grande ameaça à causa da independência.[12]
Em 1961 a Santa Sé reorganizou as hierarquias da Etiópia e da Eritreia, e Asmara acabou sendo estabelecida como uma única eparquia cobrindo todo o território eritreu. Depois que a Eritreia se tornou uma nação independente, em 1993, os bispos católicos da Etiópia e da Eritreia continuaram a formar uma única Conferência Episcopal.[14]
Borana
Há cerca de 45 anos a Igreja Católica chegou à Zona de Borana, no extremo sul do país, perto da fronteira com o Quênia. Os Missionários do Espírito Santo (também chamados espiritanos) que trabalham nesta área, estabeleceram três paróquias e dirigem várias escolas. A maior parte dos habitantes da tribo Borana são nômades, porém muitos já optaram por se fixar num lugar por causa das fontes de água e dos poços que os missionários construíram para a população. Às vezes ocorrem conflitos com outras tribos quando o abastecimento de água diminui e o pasto se torna escasso. No passado havia mesmo uma cultura local, que induzia os homens a mostrar sua coragem lutando. Hoje essa mentalidade vem mudando bastante e os membros das tribos que foram cristianizados estão mais propensos à paz.[15]
Outras diferenças conquistadas pela presença da Igreja, foram da questão da dignidade da mulher, e da possibilidade de escolha de seu marido (o que antes não existia); da importância da educação; leitura da Bíblia e educação religiosa com catequistas que vão às aldeias; os grupos de jovens de diferentes tribos, a fim de criar a maior consciência sobre o diálogo entre elas; batizado e matrimônio cristão; importância da participação na Missa e na comunhão; por fim, os cuidados com os doentes e com pessoas com deficiência.[15]
Os cristãos na Etiópia enfrentam atualmente uma série de desafios, com diferentes tipos de perseguição, como a falta de liberdade religiosa imposta pelo governo; a ação preconceituosa dos muçulmanos, especialmente aos muçulmanos convertidos; e o secularismo. Um especialista do país diz: "A proibição do estabelecimento de serviços de radiodifusão para fins religiosos, bem como a proibição de atividades religiosas dentro das instituições educacionais restringem a liberdade de adoração, a liberdade de ensinar e pregar"; nas áreas dominadas pela Igreja Ortodoxa Etíope (IOE), os cristãos que mudam de denominação enfrentam perseguição de familiares, comunidades e funcionários do governo, sendo que os perseguidos acabam atuando como perseguidores ao mesmo tempo.[11] Uma lei que entrou em vigor em fevereiro de 2009, chamada Proclamação das Instituições e Obras de Caridade, classificou todas as Igrejas e grupos religiosos como "organizações de caridade" e, como tal, para serem reconhecidos como órgãos jurídicos, são obrigados a solicitar o registro junto do Ministério da Justiça e a renovar este registro de três em três anos. A ausência desse registro significa o impedimento de abertura de uma conta bancária, e de ter uma representação legal. A Igreja Ortodoxa da Etiópia e o Conselho Supremo dos Assuntos Islâmicos da Etiópia são isentos do processo de renovação do registro. Essa classificação que o governo faz com as organizações religiosas, incluindo a Igreja Católica, as sujeita à atual legislação das ONGs. O limite de 10% para o financiamento recebido do estrangeiro.[6]
Algumas denominações são mais afetadas pela perseguição do que outras. As prisões são comuns no país, em especial de cristãos não tradicionais que enfrentam a perseguição mais severa, tanto do governo quanto da IOE. Cristãos convertidos do islamismo, particularmente nas regiões leste e sudeste do país, e aqueles que deixam a IOE enfrentam atitudes hostis de suas famílias e comunidades. Em algumas áreas, os cristãos são proibidos de acessar recursos da comunidade e são condenados a viver isolados. Em alguns lugares, multidões atacam as igrejas.[11]
Em entrevista à Agência Zenit, o arcebispo de Adis Abeba foi questionado sobre a vida dos fiéis católicos etíopes, e a resposta foi:
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É surpreendente dizer isso, mas o cristianismo é tão inculturado que não dá mais para separar a cultura e a religião na Etiópia. As pessoas vivem a religião, está no sangue, está na nossa história. Ela está na terra da Etiópia porque os monges, no século IX, construíram muitos mosteiros e traduziram muitos escritos espirituais de várias línguas para o etíope; então as pessoas compreenderam o cristianismo desde o início na sua própria língua.
Em 2017, a Igreja pôde comemorar a chegada da evangelização à região etíope de Borana. Atualmente as três paróquias da região são administradas pelos espiritanos, os quais também administram diversas escolas. Os boranas são um grupo étnico nômade, e vagam por regiões desérticas, mas muitos têm optado por se fixar, devido às perfurações de poços feitas pelos missionários para os habitantes. Quando o abastecimento tem algum tipo de comprometimento, ocorrem conflitos entre as tribos pelos recursos hídricos. Antigamente, havia uma tradição entre os boranas que determinava que os homens deveriam demonstrar a sua coragem lutando. Atualmente, observa-se uma maior propensão à paz entre os membros que se converteram à fé cristã. Outra característica do grupo que vem mudando com a evangelização dos missionários do Espírito Santo, é a valorização da mulher, um conceito inexistente até então, além da possibilidade da mulher poder escolher com quem vai se casar, já que antes não havia a escolha. Mulheres que engravidam antes do casamento também eram vendidas a outras tribos. A Igreja Católica vem fazendo uma grande campanha de conscientização entre eles sobre a igualdade de dignidade que deve haver entre homens e mulheres, inclusive incentivando a participação delas nas escolas, algo que antes era apenas destinado aos meninos. Os espiritanos também estimulam a leitura da Bíblia e participação de retiros de membros de tribos diferentes (e até rivais), especialmente entre os mais jovens, e afirmam que o interesse destes grupos está aumentando. Também tem aumentado o número de pessoas aptas a comungar e de casais que desejam ser batizadas, obter um casamento católico e participar regularmente da Missa. Há também acompanhamento aos doentes, formação de leigos catequistas. Os missionários recebem auxílio da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre.[16]
Em maio de 2020, a Conferência Episcopal do país fez uma doação de 1 milhão de birres etíopes (ou aproximadamente US$ 476 mil) ao fundo de doações criado pelo governo etíope para o combate à pandemia de COVID-19 no país.[17] No dia 9 de fevereiro, a Igreja Católica faz uma grave denúncia na Região de Tigré, uma região separatista próxima à fronteira com a Eritreia, que havia centenas de mortos devido aos confrontos pela independência, e os mortos incluíam também membros da Igreja. "Centenas de cidadãos estão a ser mortos nos conflitos na região de Tigré. Ninguém sabe ao certo o número de mortos", afirmou Regina Lynch, diretora de projetos da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, adiantando ter informações que entre os mortos há padres e líderes da Igreja Católica. Ela também afirmou que as notícias que chegam "são terríveis", incluindo o saqueio e destruição de igrejas e conventos, além de outras edificações.[18]
A Delegação Apostólica da Etiópia foi criada em 25 de março de 1937, e elevada a internunciatura apostólica em 1945. Em 1970, tornou-se uma nunciatura apostólica, perdurando assim até os dias atuais.[5]