Álvaro Holden Necaca Roberto Diasiwa[7] era filho de Roberto Garcia Diasiwa[1] e Ana Joana Helena Lala Necaca.[1] O nome Holden adveio do pseudónimo "Holdene" utilizado por sua mãe,[8] que, por sua vez, adveio do missionário batista de origem britânica Robert Holden Carson Graham, que evangelizou a família.[9] Pela conveniência e pelo costume de utilizar pseudónimos, quando adulto Holden ora assinava somente como Roberto, ora como Necaca e ora como Diasiwa.[1] Apesar de nascido em São Salvador do Congo (atual Mabanza Congo) em Angola, foi com a família para Quinxassa (actual capital da República Democrática do Congo) com apenas 2 anos de idade.[10]
Volta a residir em Quinxassa em 1949, quando se juntou a seu tio Manuel Barros Sidney Necaca para jogar pelo time de futebol local Nômades (ou Nogueira Company)[8] e depois pelo Daring Club Motema Pembe,[11] neste tendo como companheiro de time a Cyrille Adoula, fututo primeiro-ministro quinxassa-congolês.[8][12] É, inclusive, pelo Motema Pembe que faz uma excursão futebolística de 10 dias por Angola, onde pela primeira vez conversa sobre seus ideais nacionalistas abertamente em solo angolano.[8]
Liderança anticolonial (1954 a 1975)
Na constituição da União dos das Populações do Norte de Angola (UPNA), em 7 de julho de 1954, é apontado como um dos candidatos à sucessão do rei Pedro VIII do Congo, que viria a falecer no ano seguinte.[13] É destacado para conduzir uma outra reunião da UPNA no mesmo ano realizada clandestinamente no Lobito. Quando ocorre a fundação oficial da UPNA em Quinxassa em 10 de outubro de 1954,[13] é indicado líder juntamente com seu tio Barros Necaca. Cabe a Roberto a condução dos negócios externos e contactos políticos.[13]
Ainda em Acra, em 1958, matricula-se num curso de ciências políticas do Instituto Superior de Ciências Políticas.[1] Enquanto na Gana, trabalha como intérprete e jornalista se identificando com o pseudónimo Ruy Ventura.[8] Parte para os Estados Unidos como representante da UPA nas Nações Unidas, onde forma-se como politólogo e economista com uma bolsa dada pela Guiné-Conacri.[19] Em seguida, participa da 2ª Conferência dos Povos Africanos, realizada em Tunes, em janeiro de 1960, utilizando o pseudónimo José Gilmore.[8] A morte precoce de Necaca faz com que Roberto seja apontado como líder máximo da UPA em 1960,[3] e efetivamente eleito em janeiro de 1961.[20][16]
Liderando um grupo de 4.000 a 5.000 militantes a partir dos Estados Unidos, ordenou o lançamento de um ataque armado que "incendiasse"[22] Angola em 15 de março de 1961, tomando fazendas, postos avançados do governo e centros comerciais.[22] Cerca de 1.000 brancos e 6000 nativos,[22] majoritariamente ovimbundos e ambundos,[22] foram mortos num sangrento ataque.[22] Holden Roberto assumiu a Joaquim Furtado, no documentário "A Guerra" (lançado somente em 2010, ou seja, já com Roberto morto) que, como líder da UPA/FNLA, foram os ataques surpresa de 15 de março de 1961 que levaram ao início da Guerra de Independência de Angola.[22] No entanto, e contrariamente às acusações de "genocídio" do governo salazarista e da sociedade civil portuguesa,[22] Holden Roberto considerou o elevado nível de violência dos acontecimentos de março 1961 como uma reacção do povo angolano contra a violência colonial que a precedeu — remetendo à repressão da Greve da Baixa do Cassange, iniciada cerca de dois meses antes.[23] A própria CIA, em relatórios produzidos em outubro de 1961, o reconhecia como líder dos ataques no norte de Angola, apontando que corria "o risco de perder o controle da rebelião" em função da moral das tropas "estar caindo na zona norte", aliado a dificuldade de abastecimento dos rebeldes, o "apoio morno das autoridades congolesas" e a "inaptidão militar da UPA".[24] A CIA ainda concluiu que a tentativa de distanciamento diante da repercussão da violência fez com que as tropas da UPA ficassem "cada vez mais desiludidas com a forma como Roberto lidou com a revolta".[24]
Em 27 de março de 1962 a UPA absorve o Partido Democrático de Angola (PDA),[13] liderado por André Ndomikalay Masaki,[13] como tentativa de formar uma frente única de luta anticolonial baseada em princípios étnico-raciais e tribalistas.[16] Na constituição da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) como fusão da UPA e do PDA, na data referida, David Livromentos assumiu a presidência da organização, mas faleceu no mesmo ano sendo substituído por André Ndomikalay Masaki que lidera a organização até 1972, quando centraliza-se tudo novamente com Holden Roberto — a destacar que Roberto como presidente do GRAE era o líder de facto da FNLA.[3][25] O GRAE era formado por figuras como Jonas Savimbi, que serviu como ministro dos Negócios Estrangeiros.[3] Dadas as suas ligações aos Estados Unidos, de onde recebia informações, instruções tácticas, financiamento, bem como apoio logístico para o seu movimento, num primeiro momento não conseguiu conciliar, numa frente única sob a guarida do GRAE, nem o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), nem a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), organizações de inspiração, respectivamente, marxista-leninista e maoísta e, no primeiro caso, fortemente influenciado por mestiços e brancos.[26]
Um ponto de questionamento constante à Roberto era sua aparente apatia na condução da luta anticolonial,[1] uma vez que, desde a década de 1960, também dedicava energias para condução de seus negócios imobiliários em terras quinxassa-congolesas.[10] Este, inclusive, foi um dos motivos alegados para a ruptura do grupo de Savimbi em 1964, que levou consigo quase uma centena de militantes que formaram a UNITA em 1966.[1] Além disso, por representar uma linha ideológica conservadora,[1] pró-monárquica[1] e pró-ocidental,[1] veio a sofrer várias represálias políticas e mesmo militares por frações internas do FNLA, chegando a haver confrontos militares como: sublevação e tentativa de golpe de Alexandre Pedro Claver Taty,[1] que tentou o destituir e depois (ao ter falhado no plano) rompeu com o GRAE e a FNLA para ingressar nas forças portuguesas, na Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC) e na Junta Militar Angolana no Exílio (JMAE),[1] e; grandes motins nas bases da FNLA/ELNA no Congo-Quinxassa na década de 1970, seguido de uma purga ordenada por Roberto, fazendo com que houvesse uma deserção em massa de soldados e oficiais para o Congo-Brazavile, muitos dos quais se filiam ao MPLA em 1972/1973.[26]
Participou das negociações de julho de 1974 em Bucavu, no Zaire, e de janeiro de 1975 em Mombaça, no Quênia, onde chegou-se a um entendimento comum de partilha de poder entre os intervenientes da Guerra de Independência de Angola, conhecido como Acordo de Alvor.[27] Entretanto a frágil pacificação foi rompida em fevereiro no início dos combates da Guerra Civil Angolana entre a FNLA e o MPLA. A partir de julho/agosto de 1975 os conflitos tomaram grandes dimensões, com Roberto instalando-se em Angola para supervisionar a Batalha de Quifangondo, o combate decisivo da independência nacional.[28]
No processo de disputa por Angola, Holden Roberto recebe grandes somas financeiras da CIA em março de 1975[17] que lhe permitem comprar o jornal A Província de Angola e a Televisão de Angola que serviram como instrumentos de propaganda importante nas batalhas pelo controle de Luanda.[29]
Pós-independência angolana (1975 a 2007)
Quando Portugal concedeu a independência a Angola, o MPLA recebeu apoio incondicional da União Soviética e de Cuba. Na data da Independência de Angola, Roberto, líder da FNLA, proclamou a Independência da República Popular Democrática de Angola (RPDA) à meia-noite do dia 11 de novembro, no Ambriz. Nesse mesmo dia, a independência da RPDA foi também proclamada em Huambo, por Jonas Savimbi, líder da UNITA.[30][31] Uma aliança UNITA-FNLA, denominada Conselho Nacional da Revolução (sucessor do GRAE), é celebrada.[32] Com apoio de militares cubanos, o MPLA derrota a FNLA de Holden Roberto na formação do primeiro governo de Angola que, assim, se torna um Estado monopartidário, liderado inicialmente por Agostinho Neto e, posteriormente, por José Eduardo dos Santos.[33]
Durante a primeira fase pós-colonial, a FNLA quase desapareceu do campo militar e político, já que não podia, durante este período, ter uma existência legal em Angola.[15][9] O movimento entrou numa fase de degenerescência, cujo indicador porventura mais forte foi o facto de Holden Roberto ser exilado pelo Zaire (actual Congo-Quinxassa) no Gabão[10] a partir de 1979 e passar a residir em Paris para tratamento médico durante muitos anos,[10] levando a sede administrativa da FNLA para esta cidade, ficando uma célula operacional clandestina em Quinxassa.[9]
Em 4 de dezembro de 1987 Roberto tomou a iniciativa de enviar uma carta aberta endereçada ao presidente angolano José Eduardo dos Santos e ao líder da UNITA Jonas Malheiro Savimbi oferecendo margem para um plano de paz, que daria origem aos Acordos de Bicesse.[14] Mesmo com tal empreitada diplomática por parte de Roberto, que abriu as possibilidades para os referidos acordos, a FNLA foi totalmente excluída das negociações.[14]
A enorme derrota eleitoral de 1992 fez surgir no partido, na segunda metade da década de 1990, um forte conflito entre Holden Roberto e Lucas Ngonda, que reivindicavam a liderança.[34] Ngonda, que defendia a reconciliação e aliança com o MPLA, garantiu o apoio do governo.[35] No congresso da FNLA em 1999, Ngonda conseguiu sua eleição para o mais alto cargo do partido.[35] Roberto passou para o status de "presidente honorário do partido", uma posição por ele rechaçada.[36]
A luta interna com Ngonda se acentuou quando, em 2004, um novo congresso partidário restaurou a liderança de Roberto,[35] auxiliado por Ngola Kabangu, que foi eleito vice-presidente da FNLA.[37] As disputas com Ngonda continuaram até 2007, quando os dois grupos ensaiaram uma reconciliação, mas nunca firmada dado a morte de Roberto no mesmo ano.[38]
Antes de sua morte, em 10 de novebro de 2005, Holden Roberto chegou a ser condecorado e reconhecido com a Ordem de Independência pelo então Presidente José Eduardo dos Santos.[29]
Morte
Holden Roberto morreu em 2 de agosto de 2007, aos 84 anos, após sofrer um ataque cardíaco em sua casa em Luanda.[29] Na data da morte, era deputado da Assembleia Nacional.[29] Após a morte de Roberto, o então Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, fez um elogio em homenagem ao falecido, chamando-o de "um dos pioneiros da luta de libertação nacional".[39] O então secretário-geral do MPLA, Dino Matrosse, classificou a morte de Roberto como uma "perda irreparável".[40] O então deputado Sediangani Mbimbi afirmou que Roberto fez "sacrifícios pessoais para que hoje os angolanos beneficiassem daquilo que ele próprio não beneficiou" e Eduardo Kuangana recordou que muitos políticos do MPLA, do PRS e da UNITA começaram na UPA e na FNLA.[41] O funeral de Roberto iniciou-se em Luanda em 4 de agosto de 2007.[42] Seu corpo chegou a cidade Mabanza Congo em 6 de agosto de 2007, onde foi velado com honras de chefe de Estado.[43] Foi sepultado em 8 de agosto de 2007, no Cemitério dos Reis do Congo, na referida cidade.[44]
Vida pessoal
Holden Roberto foi casado duas vezes.[29] O primeiro casamento foi com uma mulher muçulmana quinxassa-congolesa de nome Fátima Roberto, e seu segundo casamento foi com uma mulher angolana da etnia congo de nome Fernanda Gorete dos Santos Teta Roberto.[29] A dissolução do primeiro casamento e a conclusão do segundo foram feitas por razões políticas — para casar com uma parente de Mobutu Sese Seko, então presidente do Zaire, o que cimentou a união política da FNLA com este país.[18] Teve um terceiro relacionamento com uma mulher de nome Susana Milton, da qual inclusive utilizava o pseudónimo "Osusana Milton".[45]
Com Fátima teve somente um filho, Jean-Pierre Roberto Diasiwa, nascido em 1950.[29] Jean-Pierre era oficial militar de formação e grande nome da intelectualidade da FNLA,[29] sendo preparado como sucessor de Holden Roberto até sua morte precoce de causas naturais em 2002.[29] Com Fernanda teve o filho Masevani Holden Lando Roberto, que tornaria-se advogado.[45] Com Susana Milton teve os filhos Catarina Diasiwa (psicóloga), Julieta Roberta Diasiwa, Carlitos Roberto Diasiwa (jurista), Emmanuel Roberto Diasiwa, Holden Roberto Júnior e Milton Roberto Diasiwa.[29]
Por sua vez, seu filho Carlitos Roberto Diasiwa foi eleito para o Parlamento Angolano pela FNLA em 2008.[46] Catarina Roberto Diasiwa e Grace Roberto Diasiwa, filhas de Holden Roberto, estiveram envolvidas em conflitos internos do partido como opositores de Lucas Ngonda, e entraram em confronto com novos líderes partidários pelo acesso ao túmulo do pai.[47]
↑Marcum, John (1969). The Angolan Revolution, Vol. I: The Anatomy of an Explosion (1950-1962). [S.l.]: Massachusetts Institute of Technology Press (Cambridge). 65 páginas
↑ abcdeLuís Manuel Brás Bernardino (setembro de 2021). «Os movimentos de libertação em Angola e a criação das Forças Armadas Angolanas: contributos da ideologia política» 0106 ed. Florianópolis. Tempo & Argumento. 13 (34)
↑ abAnselmo de Oliveira Rodrigues; Eduardo Xavier Ferreira Glaser Migon (Janeiro de 2019). «Do acordo Tripartido (1988) ao acordo de Paz em 2002: o processo de paz conduzido em Angola». Porto Alegre. Revista Brasileira de Estudos Africanos. 4 (7): 51-83