Holanda (Santa Leopoldina)

Holanda é um povoado e uma antiga colônia neerlandesa do município brasileiro de Santa Leopoldina, no Espírito Santo. Situa-se região serrana do Estado, no distrito de Mangaraí, na zona rural do município. Limita-se à oeste com a Colônia Tirol e localiza-se a 6 km de Holandinha, comunidade rural que foi inicialmente povoado por imigrantes neerlandeses.[1] Há em Holanda uma escola, um posto médico e um cemitério.[2]

A Colônia Holanda foi fundada em 1860 por imigrantes holandeses. A origem da Colônia Holanda esta ligada ao processo de colonização do governo imperial brasileiro, que resultou na fundação da Colônia de Santa Leopoldina para a instalação de colonos estrangeiros.

História

A situação socioeconômica na Zelândia

A Igreja de Maria em Cadzand

Em 1845, uma crise agrícola assolou a Vila de Cadzand na Zelândia.[3] Em decorrência da crise os agricultores e lavradores de Cadzand sofreram com a perda de safras.[3] A falta de renda teve como consequência que as pessoas lá ficassem desempregadas empurrando os na miséria e probreza.[3]

Para sobreviver, os pobres recorerram a pequenos furtos de alimentos nas fazendas para saciar a fome.[3] A igreja em Cadzand prestou assistência aos pobres, mas a crise econômica era severa.[3] Em decorrência da situação socioeconômica na região, a parte oeste da Flandres Zelandesa passou a ser vista pelo governo neerlandês, como uma região problemática.[3]

A política imigratória do governo imperial

Em virtude da implantação da Lei Eusébio de Queirós em 1850,[4] que determinou o fim do tráfico de escravos africanos,[4] o governo imperial brasileiro passou a procurar imigrantes estrangeiros para substituir escravos no império.[3] No mesmo ano, o governo imperial brasileiro instituiu a Lei de Terras que regulou a medição e demarcação de terras devolutas no império.[5] Em 1855, o ministro e secretário de Estado dos Negócios do Império Luís Pedreira do Couto Ferraz criou por meio de uma lei a Associação Central de Colonização (ACC) que tinha como objetivo importar agricultores, lavradores, fazendeiros e artesãos para trabalhar no Brasil ao lado de escravos livres. Em seguida, a ACC começou a promover o Brasil como destino nas cidades portuárias da Europa. Em 1857, o governo imperial e a Associação Central de Colonização assinaram um contrato para importar cinquenta mil colonos estrangeiros.[6]

A Colônia Imperial de Santa Leopoldina

Mapa das colônias de S. Leopoldina, S. Izabel e Rio Novo na Prov. do Espirito Santo

Para instalar os colonos estrangeiros no Espírito Santo foram criadas várias colônias, entre as quais, a Colônia Imperial de Santa Leopoldina em 1856.[3] A colônia localizava-se as margens do rio Santa Maria da Vitória na região serrana da Província do Espírito Santo.[7][3] O território da colônia era originalmente povoado por tribos de índios botocudos, e depois também por fazendeiros luso-brasileiros e escravos livres.[3] No decorrer da segunda metade do século XIX a colônia recebeu imigrantes estrangeiros de diversas nacionalidades.[3] A sede da colônia, "Porto de Cachoeiro", tornou-se em 1887 o município de Santa Leopoldina.[7] O território da colônia corresponde aos atuais municípios Santa Leopoldina e Santa Maria de Jetibá.

A viagem de navio ao Brasil

Incentivados pelos panfletos da Associação Central de Colonização e do governo imperial que foram distribuídos nas cidades portuárias da Europa um grupo de mais de 700 imigrantes holandeses, oriundos da província da Zelândia, imigraram para o Brasil no período de 1858 à 1862.[3] O grupo caminhou três dias até a cidade portuária de Antuérpia, onde embarcaram no navio Gemse.[3] Após desembarcaram no porto do Rio de Janeiro, abordaram outro navio até o porto de Vitória.[3] Em seguida, o grupo dividiu-se em dois: parte do grupo foi para as províncias do sul do império e a outra parte para as colônias na província do Espírito Santo.[3][8]

A aquisição de terras por colonos holandeses

Casa de colonos na Colônia Santa Leopoldina (1860)

Na região serrrana da província do Espírito Santo foram medidas e demarcadas terras por engenheiros do governo imperial para o estabelecimento de imigrantes estrangeiros em território brasileiro.[3] Aos imigrantes holandeses foram destinados lotes de terra que receberam o nome Holanda,[3] em homenagem ao país de origem deles. No ano de 1860 formaram a Comunidade Holanda, e no mesmo ano, os imigrantes neerlandeses receberam a honrosa visita do imperador Dom Pedro II, na ocasião de sua visita à colônia Santa Leopoldina.[3][9]

A nova vida no Brasil

Os imigrantes holandeses derrubaram matas e construíram suas casas no formato curcular.[10] Depois estabeleceram uma colônia agrícola visando vender os bens produzidos, porém um terreno montanhoso coberto de mata densa, sem nenhuma infraestrutura e o desconhecimento do cultivo de plantas tropicais fez com que os bens produzidos fossem somente aproveitados para o auto-consumo.[11] As dificuldades encontradas pelos colonos holandeses impediu a expansão da colônia.[11]

Foram então trabalhar nas fazendas nos arredores da colônia.[10] A situação financeira dos imigrantes melhorou com o cultivo do café, mas piorou novamente a partir de 1896 com a queda do preços do café.[12] Nas primeiras décadas do século XX, a maioria dos imigrantes holandeses e seus descendentes mudaram para a comunidade de São João do Garrafão, no mucípio de Santa Maria de Jetibá.[13]

Geografia

Seu relevo é constituído de áreas mais altas e áreas mais baixas. Sua vegetação é do bioma Mata Atlântica.

Hidrografia

A Barragem de Holanda, localizada na comunidade homônima, tem como objetivo proteger a área e arredores de alagamentos e enchentes.[14]

Cultura e Turismo

O Estado do Espírito Santo realiza diversas festividades em referência a imigração holandesa. Em comemoração do sesquicentenário da Imigração Holandesa no Espirito Santo (ES) em 2008 foi lançado o livro Os Capixabas Holandeses, tradução em português do livro Op een dag zullen ze ons vinden (= Um dia eles vão nos encontrar).[3][15] Sete anos depois, foi lançado um documentário sobre a Imigração Holandesa no ES.[8] Na ocasião, um grupo folclórico holandês apresentou-se no prédio do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo.[16]

A comunidade Holanda possui uma queda-d'água, a Cachoeira da Holanda, que encontra-se a 22 quilômetros da sede do município, é a principal atração turística na localidade.[17]

Ver também

Referências

  1. Het Zeeuws in Brazilië is bijna dood. Provinciale Zeeuwse Courant, 9 de maio de 2013. Consultado em 30 de dezembro de 2020
  2. Zeeuwse hulp brengt licht in Holanda. Provinciale Zeeuwse Courant, 31 de maio de 1997. Consultado em 30 de dezembro de 2020
  3. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s Roos & Eshuis, T & E 2008, Os Capixabas Holandeses: Uma história holandesa no Brasil, Edição comemorativa aos 150 anos da imigração Holandesa no Espírito Santo, Koninklijke BDU Uitgever, Barneveld, Países Baixos. Consultado em 7 de maio de 2017
  4. a b Lei Nº 581 de 4 de setembro 1850. Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos. Consultado em 7 de janeiro de 2021
  5. Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850. Presidência da República Casa Civil. Consultado em 10 de janeiro de 2021
  6. Inspetoria-Geral das Terras e Colonização. Arquivo Nacional, 9 de agosto de 2019. Consultado em 27 de dezembro de 2020
  7. a b O Quadro Epidemiológico de uma Colônia de Imigrantes no Brasil Oitocentista: Santa Leopoldina - ES 1856-1877. Revista Histórica, Agosto de 2012. Consultado em 5 de janeiro de 2021
  8. a b Documentário sobre imigração holandesa no ES é lançado no estado. G1, 24 de abril de 2015 Consultado em 7 de maio de 2017
  9. Hulsman, L. (2012). Nederlandse groepsmigratie naar Brazilië 1822-1992; Comunidade Holanda, Espírito Santo, p.170 (em neerlandês)
  10. a b Imigrantes holandeses. Morro do Moreno, 28 de novembro de 2013. Consultado em 30 de dezembro de 2020
  11. a b Nederlanders in Brazilië - Holanda. Wazamar.org. Consultado em novembro de 2007
  12. A colônia de Santa Isabel e seus imigrantes - Café, Imigração e Colonização no Espírito Santo do Século XIX. Universidade Federal do no Espírito Santo, 2010. Consultado em 8 de janeiro de 2021
  13. Um pedaço da Holanda no Estado. A Tribuna, 1 dezembro de 2013. Consultado em 29 de dezembro de 2020
  14. Situação de barragem gera preocupação em distrito de Santa Leopoldina. A Gazeta, 18 de novembro de 2019. Consultado em 29 de dezembro de 2020
  15. Os capixabas holandeses : uma história holandesa no Brasil. WorldCat, 2008. Consultado em 3 de janeiro de 2021
  16. Descentendes de holandeses mantém tradição da 'Dança dos Tamancos', no ES. G1. Consultado em 6 de janeiro de 2021
  17. Circuito Vale das Etnias, Santa Leopoldina. Secretaria de Estado de Turismo (SETUR-ES). Consultado em 28 de dezembro de 2020

Bibliografia

  • Eshuis, Margje. Op een dag zullen ze ons vinden: een Zeeuwse geschiedenis in Brazilië. Hoofddorp: Koninklijke Bdu Uitgevers Bv, 2008 ISBN 978-9-08-788048-4 (em neerlandês)