Henri Marie Raymond de Toulouse-Lautrec Monfa (Albi, 24 de novembro de 1864 – Saint-André-du-Bois, 9 de setembro de 1901) foi um pintorpós-impressionista e litógrafofrancês, conhecido por pintar a vida boêmia de Paris do final do século XIX. Sendo ele mesmo um boêmio, faleceu precocemente aos 36 anos de sífilis e alcoolismo. Trabalhou por menos de vinte anos mas deixou um legado artístico importantíssimo, tanto no que se refere à qualidade e quantidade de suas obras, como também no que se refere à popularização e comercialização da arte. Toulouse-Lautrec revolucionou o design gráfico dos cartazes publicitários, ajudando a definir o estilo que seria posteriormente conhecido como Art Nouveau. Filho mais velho do Conde Toulouse-Lautrec-Monfa, de quem deveria herdar o título, falecendo antes do pai.
Biografia
Nascido na nobreza, herdeiro de uma linhagem aristocrática francesa, seu pai era o Conde Alphonse de Toulouse-Lautrec-Monfa, e sua mãe Adéle Tapié de Céleyran. Seus pais queriam que o filho seguisse com esmero o mesmo caminho nobre de toda a sua família, tanto materna quanto paterna.
Toulouse-Lautrec sofria de uma doença genética rara, a Pycnodysostosis, que ficou mais tarde conhecida como Doença de Toulouse-Lautrec. Trata-se de uma doença autossômica recessiva caracterizada por ossos frágeis e baixa estatura. Henri não ultrapassava a altura de 1,52 m, tornando-se um homem com corpo de adulto, mas com pernas curtas de menino.[1] Os pais de Toulouse-Lautrec eram primos de primeiro grau. Os problemas de saúde de Toulouse-Lautrec foram resultado de gerações de endogamia. Com este propósito, os médicos franceses Pierre Maroteaux e Maurice Lamy, e mais tarde, o também médico geneticista da Universidade de Coimbra, Luís Meneses de Almeida,[2] entre outros, vão estudar a doença que os primeiros apelidaram de "doença de Toulouse-Lautrec", precisamente a picnodisostose.
Aos dezesseis anos foi estudar pintura com Léon Bonnat, professor rígido que não o agradava. Logo depois foi estudar com Fernand Cormon, cujo estúdio ficava nas ladeiras suburbanas de Montmartre, em Paris. Foi lá que Lautrec descobriu a inspiração que lhe faltava. Mudou-se para aquele bairro, de má fama, e encontrou seu lugar entre trabalhadores e artistas de caráter duvidoso. Começava sua nova vida.
Boémia
Frequentador assíduo do Moulin Rouge e outros cabarés, o pequeno nobre acaba se acomodando muito bem naquele ambiente tão estranho onde seus pais nunca aceitaram em ter o filho. O tema principal das pinturas de Toulouse-Lautrec era a vida boêmia parisiense, que ele representava através de um desenho que lembra a espontaneidade do desenho satírico de Honoré Daumier, e uma composição dinâmica que poderia ter sido influenciada pela fotografia e as gravuras japonesas, dois fatores de grande importância cultural no fim do século XIX.
Era atraído por Montmartre, uma área de Paris famosa pela boémia e por ser antro de artistas, escritores, filósofos. Escondido no coração de Montmartre estava o jardim de Pere Foret onde Toulouse-Lautrec pintou uma série de óleos sobre tela ao ar livre de Carmen Gaudin (a modelo ruiva que aparece no quadro "A Lavadeira" de 1888). Quando o cabaré Moulin Rouge abriu as portas ali perto, Toulouse-Lautrec foi contratado para fazer cartazes. Posteriormente, ele passou a ter assento cativo no cabaré, onde suas pinturas eram expostas. Nos muitos conhecidos trabalhos que ele fez para o Moulin Rouge e outras casas noturnas parisienses em 35 anos estão retratadas a cantora Yvette Guilbert, a dançarina Louise Weber, mais conhecida como a louca e cativante La Goulue ("A Gulosa"), a qual criou o cancan francês, e também a mais discreta dançarina Jane Avril.
Terremoto
A invenção do coquetel "Terremoto" (Tremblement de Terre) é atribuída à Toulouse-Lautrec. É uma mistura potente de 1/2 parte de absinto e 1/2 parte de conhaque, servido em copo de vinho sobre cubos de gelo ou batido com gelo em coqueteleira.[3]
Trabalho e Arte
Testemunha da vida noturna de Montmartre, Henri não apenas faz pinturas, como também cartazes promocionais dos cabarés e teatros, fazendo-se presente na revolução da publicidade do século XIX, quando a arte deixa de ser patrocinada e financiada apenas pela Igreja e os nobres, para ser comprada e utilizada pelo comércio crescente gerado pela revolução industrial. O cartazlitográfico colorido é uma nova ferramenta de divulgação de locais de lazer parisienses. Trilhando o caminho de Jules Chéret, assim como Alfons Mucha, Toulouse-Lautrec revolucionou o design gráfico dos cartazes, definindo o estilo que seria conhecido como Art Nouveau.
O dom artístico de Lautrec é bastante reconhecido, tanto pelos seus amigos da classe baixa quanto por críticos de arte. Participa do Salão dos Independentes em Paris, da exposição dos Vinte e das galerias de Boussod e Valadin.
Estilo
Tinha habilidade em capturar as pessoas em seu ambiente de trabalho, com a cor e o movimento da pululante e opulenta vida noturna, porém sem o glamour. Usava muito vermelho, em geral de maneira contrastante, cabelos cor de laranja e a cor verde limão para traduzir a atmosfera elétrica da vida noturna. Era um mestre do contorno, podia retratar cenas de grupos de pessoas onde cada pessoa é individual (e na época podia ser identificada apenas pela silhueta). Frequentemente, ele aplicava a tinta em uma estreita e longilínea pincelada, deixando a base (papel, tela) ou o contorno aparecer. Sua pintura é gráfica por natureza, nunca encobria por completo o traço forte do desenho. O contorno simples era a "marca registrada" de Lautrec desde o início da carreira como designer de cartazes. Não pintava sombras. Suas pinturas sempre incluíam pessoas (um grupo ou um indivíduo) e não gostava de pintar paisagens.[4] O papel usado para os cartazes frequentemente era amarelo.[5][6]
Apesar da litografia cheia de cores de seu tempo poder acomodar dezenas de cores em um só cartaz, Lautrec geralmente escolhia apenas 4 ou 5, as vezes 6, raramente 6 cores. Ao invés de usar uma multiplicidade de cores, Henri preferiu criar seus efeitos com justaposições e modulações delicadas.[7]
Últimos anos
Em 1899, a vida desregrada e o excesso de álcool finalmente cobram seu preço do artista. Lautrec sofre de crises e é internado numa clínica psiquiátrica. Ao sair é constantemente vigiado para que não beba e não volte a frequentar os bordéis, vigilância que ele consegue burlar. Sua saúde vai-se deteriorando cada vez mais, até que, em 1901, não é mais capaz de viver sozinho. Henri despede-se de Paris com a certeza de que está com os dias contados. Sofre ataques de paralisia e quase não consegue mais pintar.
Em 9 de Setembro de 1901, Henri de Toulouse-Lautrec morre, em consequência de um derrame, nos braços de sua mãe, no Castelo de Malromé, perto de Bordéus, às duas horas e quinze minutos da manhã.
Encontra-se sepultado no Cemitério de Verdelais, na França.[8]
Legado
Estima-se que Lautrec tenha pintado mais de 1 000 quadros a óleo (737 estão catalogados), feito mais de 5 000 desenhos (275 aquarelas, 5 084 desenhos catalogados) e por volta de 363 gravuras e cartazes.[9] Seu trabalho pode ser dividido em períodos: pinturas e desenhos até 1888, entre 1888 e 1892, entre 1893 e 1896, entre 1897 e 1901cartazes.
Pinturas
Buquê de violetas em um vaso, 1882, óleo sobre painel, Museu de Arte de Dallas
Retrato de Suzanne Valadon, 1885, óleo sobre tela, Museu, Buenos Aires, Museum, Buenos Aires
A lavadeira, 1884–1888, óleo sobre tela, coleção particular
Retrato de Vincent van Gogh , 1887, pastel sobre papelão, Museu Van Gogh, Amsterdã
Moulin Rouge, a Vida de Toulouse-Lautrec, 1963, Direção de Geraldo Vietri, com Percy Aires (como Lautrec), Vida Alves, Rolando Boldrin (como Van Gogh), TV Tupi (Brasil), em português.[14]
Lautrec, 1998, Direção de Roger Planchon, biografia de Toulouse-Lautrec. Título em português: A vida de Toulouse-Lautrec[15]
Moulin Rouge!, 2001, Direção de Baz Luhrmann, com Nicole Kidman, Ewan McGregor, John Leguizamo (como Toulouse-Lautrec). Musical sobre um poeta Inglês que vai para Paris e envolve-se com a vida boêmia da cidade. Vencedor de dois Oscars.[16]