Henry Havelock Ellis, conhecido como Havelock Ellis (2 de fevereiro de 1859 - 8 de julho de 1939), foi um médico e psicólogo britânico, escritor e reformador social que estudou a sexualidade humana. Foi co-autor, em 1897, do primeiro livro médico em inglês sobre a homossexualidade e também publicou trabalhos sobre uma variedade de práticas e inclinações sexuais, incluindo a psicologia dos transgéneros. É-lhe creditada a introdução das noções de narcisismo e auto-erotismo, mais tarde adotada pelos psicanalistas. Como pensador contemporâneo progressiva, apoiou a eugenia e foi presidente do Instituto de Galton.
Início da vida e carreira docente
Ellis, filho de Edward Peppen Ellis e Susannah Mary Wheatley, nasceu em Croydon, nesse tempo uma pequena vila ao sul de Londres. Tinha quatro irmãs, todas solteiras. O seu pai era um capitão da marinha, a sua mãe era filha de um capitão da marinha e muitos dos seus familiares viviam perto do mar. Aos sete anos de idade, o seu pai levou-o numa das suas viagens, durante a qual escalaram os portos de Sydney, Callao e Antuérpia. Depois de regressar, Ellis frequentou a os colégios francês e alemão, perto de Wimbledon e, mais tarde, uma escola em Mitcham.
Em abril de 1875, Ellis viajou para a Austrália no navio do seu pai; logo após sua chegada a Sydney, arranjou emprego como um professor numa escola particular. Quando se descobriu que não tinha habilitações académicas para o cargo, passou a ser professor particular de uma família que vivia a poucos quilómetros de Carcoar. Passou lá um ano, lendo muito, até que conseguiu um lugar como professor numa escola primária em Grafton. O diretor tinha morrido e Ellis ficou responsável pela escola nesse ano, mas era muito jovem e inexperiente para ser bem sucedido.
No final do ano, regressou a Sydney e após 3 meses de formação, recebeu o encargo dirigir 2 escolas primárias públicas a tempo parcial, uma em Sparkes Creek e outra em Junction Creek. Residiu por uma ano na casa da escola em Sparkes Creek, o ano que acabou por ser o mais agitado de sua vida até então. Escreveu sobre esse período: "Na Austrália, o meu corpo ficou mais robusto, alcancei paz de alma, descobri o meu destino de vida, consegui decidir qual a minha vocação profissional, tornei-me um artista em literatura ... estes cinco pontos abrangem tudo o que fiz no mundo. Provavelmente poderia ter atingido algumas destas coisas mesmo sem a ajuda do ambiente australiano, quase tudo, a maioria delas nunca teria alcançado tão completamente se o destino não me tivesse atirado para a solidão de Liverpool Range ". [carece de fontes?]
Medicina e psicologia
Ellis voltou para Inglaterra em abril de 1879. Decidiu dedicar-se ao estudo do sexo e achou que o seu primeiro passo deveria ser licenciar-se em medicina. Estudou na Escola Hospital de St.Thomas mas nunca praticou regularmente a medicina. Financiou os seus estudos com auxílio de um pequeno legado [1] e também dos rendimentos auferidos com a edição de obras na Mermaid Series de teatro menor do periodo de Isabel e Jaime de Inglaterra.[1] Ingressou na The Fellowship of the New Life em 1883, onde conheceu dois outros grandes reformadores sociais, Edward Carpenter e George Bernard Shaw.
A tradução para inglês de 1897 do livro de Ellis, Inversão Sexual , em co-autoria com John Addington Symonds e publicado originalmente em alemão em 1896, foi o primeiro livro médico em sobre a homossexualidade. (O alemão era então considerado o idioma da ciência).[2] Nele, Ellis descreve as relações sexuais dos homossexuais, incluindo a pederastia. Ellis foi o primeiro a fazer um estudo objetivo sobre a homossexualidade, sem cair na tendência da época de a caraterizar como doença, imoralidade ou crime. A sua obra apresenta o amor homossexual como transcendendo os tabus de idade, bem como os tabus do género. Sete dos vinte e um casos de estudo são casos de relacionamentos inter-geracional.
Em 1897, um livreiro foi processado por possuir livro de Ellis. Embora o termo homossexual seja atribuído a Ellis, que escreveu em 1897, "homossexual "é uma palavra barbaramente híbrida e eu não reivindico nenhuma responsabilidade pela sua criação." [3] Foi composta a partir de uma palavra de raiz grega e outra latinas.
Ellis desenvolveu outros conceitos psicológicos importantes, tais como auto-erotismo e narcisismo,, os quais foram posteriormente aprofundados por Sigmund Freud. [4] A influência de Ellis pode ter chegado a Radclyffe Hall, que teria cerca de 17 anos de idade quando Inversão Sexual foi publicado. Mais tarde, ela refere-se a si mesma como invertida sexual e escreveu sobre mulheres "invertidas" em Miss Ogilvy Finds Herself e O Poço da Solidão .
Ellis estudou o que hoje são chamados de fenómenos transgéneros. Juntamente com Magnus Hirschfeld e Havelock Ellis é considerado uma figura importante na história da sexologia por ter estabelecido uma nova categoria distinto da noção de homossexualidade.[5] Sabendo dos estudos de Hirschfeld sobre o travestismo, mas em desacordo com a sua terminologia, Ellis propôs, em 1913, o termo inversão sexo-estética para descrever o fenómeno. Em 1920, cunhou o termo eonismo , que deriva do nome da figura histórica, Chevalier d'Eon. Ellis explicou[6]:
“
Tal como o vejo, do lado psíquico, o eonista encarna, em grau extremo, a atitude estética da imitação e da identificação com o objeto admirado. É normal para um homem identificar-se com a nulher que ama. O eonista leva esta identificação longe de mais, estimulado por um elemento feminino e sensível nele próprio, associado a uma virilidade alterada por causas eventualmente neuróticas.
”
Ellis achou que o eonismo era "uma alteração extremamente comum" e "a mais frequente a seguir à homossexualidade no campo dos desvios sexuais" e classificou-o "entre as formas de transição ou intermédias da sexualidade." Na tradição freudiana, Ellis postulou que uma "ligação muito forte com a mãe" pode incentivar o eonismo, mas também considerou que "provavelmente tem por base algum desequilíbrio endócrino[6]". Hoje a sua noção de eonismo foi abandonada a favor da definição mais simples de autoginefilia, um termo inventado por Ray Blanchard.[7]
Casamento
Em novembro de 1891, com 32 de idade e ainda virgem, Ellis casou-se com a escritora inglesa e defensora dos direitos das mulheres, Edith Lees. Desde o início, o seu casamento foi pouco convencional, uma vez que Edith Lees era abertamente lésbica. No final da lua de mel, Ellis voltou para seus aposentos de solteiro em Paddington. Ela vivia em Fellowship House. O seu "casamento aberto" foi o tema central da sua autobiografia, My Life .
De acordo com Ellis, em My Life , os seus amigos achavam muita graça a que ele fosse considerado um especialista em sexo. Alguns tinham conhecimento que ele foi impotente até aos 60 anos de idade. Só então descobriu que se podia excitar com a visão de uma mulher a urinar.[8] Ellis denominou este fenómeno de "undinism".[8] Atualmente, é mais comumente chamado de urofilia.
Eugenia
Ellis era um defensor da eugenia, em linha com o pensamento progressista da época. Foi vice-presidente da Eugenics Education Society e escreveu sobre este assunto em The Task of Social Hygiene .
"Eventually, it seems evident, a general system, whether private or public, whereby all personal facts, biological and mental, normal and morbid, are duly and systematically registered, must become inevitable if we are to have a real guide as to those persons who are most fit, or most unfit to carry on the race."
Obras
The Criminal (1890)
The New Spirit (1890)
The Nationalisation of Health (1892)
Man and Woman: A Study of Secondary and Tertiary Sexual Characteristics (1894) (revisto em 1929)
translator: Germinal (por Zola) (1895) (reeditado em 1933)
Grosskurth, Phyllis (1980). Havelock Ellis: A Biography. New York: Random House.
Nathan Hale: Freud and the Americans: The Beginnings of Psychoanalysis in the United States, 1876-1917. Freud in America , Volume 1, Publisher: Oxford University Press, USA; First Edition edition 1971, ISBN 0195014278