Koellreuter fez um curso de extensão com Paul Hindemith e foi fortemente influenciado pelo regenteHermann Scherchen, que o levou à música moderna.[3] Ainda jovem, já era conhecido e respeitado na Alemanha como flautista de concerto. Começava sua carreira de regente quando Adolf Hitler ascendeu ao poder. Ao ficar noivo de uma moça judia, desagradou sua família, que simpatizava com o nazismo e o denunciou à Gestapo. Exilou-se então no Brasil onde foi morar no Rio de Janeiro. Conheceu e ficou amigo de Heitor Villa-Lobos e Mário de Andrade. Em 1938 começou a lecionar no Conservatório Brasileiro de Música.
Retornou ao Brasil em 1975. Fixou-se desta vez em São Paulo. Foi diretor do Conservatório Dramático e Musical de Tatuí, em São Paulo e professor visitante do Instituto de Estudos Avançados da USP. Em 1981 a cidade do Rio de Janeiro lhe ofereceu o título de cidadão carioca. Nos últimos anos de vida morou no centro da cidade de São Paulo, sofrendo do Mal de Alzheimer. Morreu no dia 13 de setembro de 2005 em consequência de uma pneumonia.
Seu acervo está preservado na Fundação Koellreutter, da Universidade Federal de São João del Rei,[3] doado por sua esposa, a meio-soprano alemã Margarita Schack.[5]
Koellreutter e o meio musical brasileiro
Koellreutter fundou em 1939 o grupo Música Viva. Teve entre seus alunos de composição Cláudio Santoro, Guerra Peixe, Eunice Katunda e Edino Krieger. Em 1948 teve início o processo de rompimento de Santoro, mais tarde de Guerra Peixe e Eunice Katunda com o antigo mestre, que passaram a criticá-lo.
O movimento Música Viva, dirigido por Koellreutter, estendeu-se de 1939 a 1950 e tornou-se uma das referências mais dinâmicas e notáveis da música nova brasileira em sua época. Instalou uma jovem e original escola de composição brasileira, 3 manifestos (1944, 45 e 46), séries de conferências, audições públicas, publicação de boletins e uma série de emissão radiofônica, entre outras iniciativas.[6]
Além das técnicas tradicionais europeias, Koellreutter incorporou outras influências dos locais onde esteve. Na Índia, tomou conhecimento da música microtonal, que utilizou em várias de suas composições. Também soube misturar a tecnologia eletrônica, o serialismo e a harmonia acústica aprendida com Paul Hindemith às influências da música brasileira, criando um estilo de composição próprio.
No Japão conheceu o zen-budismo e na Índia o hinduísmo, que o influenciaram na criação daquilo que dizia ser uma "estética do impreciso e do paradoxal".[nota 1]
Diagrama K (Wu-li)
Wu-li é uma música experimental centrada na atuação do artista. É um ensaio, não uma obra musical.[9] O Wu-li é uma composição planimétrica, ou seja, uma maneira específica de ordenar música estruturalista, em que unidades estruturais ou gestaltes substituem melodia, harmonia, tempos fortes e fracos, temas e desenvolvimento. É a realização de um plano temporal (fundo), tomado isoladamente ou em relação a outros, pelo levantamento de ocorrências sonoras e musicais. A ideia se relaciona com a estética relativista do impreciso e paradoxal proposta por Koellreuter.[9]
Koellreutter começou sua ligação com o meio musical mineiro participando das primeiras edições do Festival de Inverno de Ouro Preto, promovidos inicialmente pela Fundação de Educação Artística de Belo Horizonte e depois em conjunto com a Universidade Federal de Minas Gerais. Durante as décadas seguintes, eram frequentes seus cursos na capital mineira, abarcando a composição, a regência, a harmonia funcional, o contrapontopalestriniano, a filosofia e música indiana e japonesa, entre outros temas. Inicialmente na Fundação de Educação Artística, tais relações acabaram por tornar Koellreutter professor convidado da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais, quando, além de ministrar aulas de composição, harmonia e contraponto, coordenou também o Centro de Música Contemporânea. Nesse longo tempo foi professor de inúmeros músicos, educadores e compositores, nomes como os de Nélson Salomé, Lukas d' Oro, João Francisco de Paula Gelape, Sérgio Canedo, Marden Maluf, Dino Nugent Cole, Rogério Vasconcellos Barbosa, Eduardo Ribeiro, Guilherme Paoliello, Rubner de Abreu, Lina Márcia, Betânia Parizzi, Joâo Gabriel Fonseca, Virginia Bernardes, entre tantos outros. Importantes contatos didáticos, educacionais e musicais são consequência desse envolvimento e ligam Koellreutter também a Rufo Herrera, Berenice Menegale, Eládio Perez Gonzalez.
O segredo de tamanha variedade foi seu método, que se baseava na liberdade de expressão e na busca da identidade de cada aluno. Incentivava a liberdade de pensamento e a necessidade de cada aluno buscar seu próprio caminho. Em uma entrevista concedida ao jornal Folha de S.Paulo, explicou seu método da seguinte maneira:
"Aprendo com o aluno o que ensinar. São três preceitos:
1) não há valores absolutos, só relativos;
2) não há coisa errada em arte; o importante é inventar o novo;
3) não acredite em nada que o professor disser, em nada que você ler e em nada que você pensar; pergunte sempre o por quê."[2]
Notas
[nota 1]^ Koellreutter ministrou em 1987 o curso Estética Relativista do Impreciso e do Paradoxal, na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, na condição de professor visitante do Instituto de Estudos Avançados (IEA).[2]
Egg, André. O debate no campo do nacionalismo musical no Brasil dos anos 1940 e 1950: o compositor Guerra Peixe. Dissertação de Mestrado em História, UFPR, 2004.[1]
Kater, Carlos. Música Viva e H. J. Koellreutter. Movimentos em direção à modernidade. São Paulo: Musa/Através, 2001.
Kater, Carlos. Catálogo de obras de H.J.Koellreutter. BH: FEA/FAPEMIG, 1997.