Resultados do Grande Prêmio da Grã-Bretanha de Fórmula 1 realizado em Silverstone em 16 de julho de 1989.[2] Oitava etapa do campeonato, foi vencido pelo francês Alain Prost, da McLaren-Honda, com Nigel Mansell em segundo pela Ferrari e Alessandro Nannini em terceiro pela Benetton-Ford.
Resumo
Gerhard Berger na McLaren
Quando anunciou o fim de seu longevo contrato com a McLaren (sete anos em duas passagens) Alain Prost não disse qual seria o seu destino, mas o comunicado da Ferrari anunciando a saída de Gerhard Berger no final do ano, reforçou a impressão de que esses pilotos trocarão de equipe em 1990, sobretudo porque Ron Dennis confirmou a contratação do austríaco na quinta-feira em Silverstone sob as bençãos de Osamu Gotu, diretor da Honda, e declarações amistosas de Ayrton Senna,[3] embora o brasileiro estivesse duelando com Prost através da imprensa: "Vejo o Alain como uma criança que chora o tempo inteiro. Imaginem se tivesse acontecido com ele o que me aconteceu nas três últimas corridas",[4] declarou o vice-líder do campeonato ao lembrar os infortúnios que o deixaram sem pontuar nos Estados Unidos, Canadá e França.[5][6][7] Dias antes, Alain Prost foi irônico em relação ao seu "inimigo de equipe" numa entrevista ao jornal italiano Il Messaggero onde expôs sua versão a respeito do ambiente na McLaren, repisando a acusação de que os técnicos da Honda favorecem Ayrton Senna. "De qualquer maneira, meu objetivo é seguir firme até o fim. Uma luta de um contra todos? Pode ser", disparou o francês de maneira resoluta.[8]
Com a mais vistosa negociação no mercado de pilotos praticamente concluída, restou à imprensa mencionar o retorno de Derek Warwick à Arrows enquanto a Larrousse (embora não descartasse a contratação de Michele Alboreto ainda em 1989) manteve Eric Bernard para a etapa britânica.[9]
Senna: campeão vulnerável
Embora tenha feito um diagnóstico acurado de seu desempenho, Ayrton Senna encontra-se no pior momento possível, afinal, se as falas mecânicas são inevitáveis, o peso de seus erros aumenta em um cenário adverso, vide o fiasco no Grande Prêmio do Brasil,[10] gênese da vantagem de onze pontos em favor de Alain Prost, ladino a ponto de reverberar seus queixumes à imprensa desestabilizando um rival declarado. Para reverter esse quadro, o brasileiro deve atingir dois objetivos a curto prazo a fim de reequilibrar a disputa: vencer Prost num confronto direto e triunfar numa corrida onde o francês não pontue, entretanto a regularidade do mesmo torna difícil uma mudança brusca na tabela de classificação, afinal o Canadá foi a única etapa onde Prost zerou e nela Senna também ficou pelo caminho.[11] Segundo o regulamento, Ayrton Senna tem apenas um resultado a descartar enquanto Alain Prost não estará sujeito a essa obrigação até que a mesma seja irrelevante para ele, dados os riscos que seu adversário deverá assumir para superá-lo. Em 1988, o francês chegou ao Grande Prêmio da Grã-Bretanha na liderança do campeonato com 54 pontos e quatro vitórias, enquanto Ayrton Senna era o vice-líder com 39 pontos e três vitórias, restando ao piloto brasileiro desejar que sua capacidade de reação seja a mesma do ano anterior.[12]
Quando os carros da McLaren foram à pista na sexta-feira, Ayrton Senna fez o melhor tempo, contudo o esperado embate contra Alain Prost não aconteceu, pois a Ferrari colocou Nigel Mansell e Gerhard Berger atrás do brasileiro, com a Williams de Riccardo Patrese fechando a segunda fila. Quinto colocado, Alain Prost alegou problemas com a nova caixa de câmbio da McLaren e por isso terminou à frente da March de Maurício Gugelmin.[13] No dia seguinte, a melhor posição do grid ficou com Senna, um décimo de segundo mais rápido em relação a Prost, com Mansell e Berger vindo a seguir, num desempenho honroso do Cavallino Rampante, cabendo a Patrese e Gugelmin as vagas na fila seguinte.[9]
Ter dois campeões mundiais lutando dentro da mesma equipe por cada átimo de segundo como inimigos figadais, foi um deleite para o público, mas a exibição de tanto requinte, arrojo e velocidade escondeu a tensão reinante na McLaren por conta das reclamações de Ayrton Senna: "Ron mandou instalar no carro de Prost o tanque de óleo que equipava o meu McLaren na sexta-feira. E colocaram no meu carro o tanque que apresentou problemas nos treinos",[14] disse o brasileiro à imprensa enquanto descrevia como foram os seus treinos antes de descobrir qual embaraço o afligia. Vital para a lubrificação do motor e para o funcionamento do novo câmbio,[15] o tanque "defeituoso" deixou o brasileiro parado nos boxes até os dez minutos finais do treino oficial de sábado antes de garantir mais uma pole position ao sair para a pista nos dez minutos finais da sessão.[9][14]
Título mundial que não virá
Apesar de uma excelente sexta posição no grid, Maurício Gugelmin foi obrigado a largar dos boxes, pois sua March perdeu toda a água do radiador porque o tubo alimentador foi mal fixado. Na hora da largada, o carro de Ayrton Senna "patinou" e ele ficou exposto a um avanço momentâneo de Alain Prost, algo repelido ainda nos metros iniciais da corrida, tendo a Ferrari de Nigel Mansell em terceiro lugar. Vítima de uma quebra no câmbio da Coloni, Roberto Moreno parou após três voltas e no giro seguinte, o austríaco Gerhard Berger caiu do quarto para o último lugar ao notar um problema semelhante em sua Ferrari e ir para os boxes, deixando que as Williams de Thierry Boutsen e Riccardo Patrese o superassem, assim como a Benetton de Alessandro Nanini, que completava a zona de pontuação naquele instante.[9][16]
Tais posições permaneceram inalteradas até a abertura da décima segunda volta, quando a McLaren de Ayrton Senna rodou a 230 km/h na curva Becketts e atolou na caixa de brita, entregando a liderança a Alain Prost. Incrédulo, o brasileiro contemplava o carro inerte e demorou pelo menos meia hora antes de retornar aos boxes.[17][18] "Quatro ou cinco voltas antes de sair da pista, eu já tinha tido dificuldades naquela mesma curva Becketts. Naquela volta, quando tentei fazer a redução para terceira marcha, não consegui. Entrei na curva em ponto morto e não consegui segurar o carro",[19] declarou Senna à imprensa após burilar sua decepção. Por outro lado, o infortúnio do brasileiro permitiu que seu compatriota, Nelson Piquet, alcançasse o sexto lugar com a Lotus, subindo um degrau na volta dezenove quando Riccardo Patrese saiu da pista e bateu na aproximação à curva Club. Experiente, o tricampeão aproveitou o bom rendimento de seu carro nas curvas de alta para distanciar-se dos rivais, tomando o cuidado para atenuar o desgaste dos pneus. À sua frente, um pit stop da Benetton de Alessandro Nanini rendeu o quarto lugar a Piquet, favorecido com a terceira posição quando a Williams de Thierry Boutsen reduziu o ritmo e foi ultrapassado na curva de Luffield graças a um pneu furado.
Antes que os retardatários surgissem à sua frente, Nigel Mansell esteve a cinco segundos de Alain Prost, o líder da contenda. Tal margem variou conforme a prova seguia, dando ao público britânico o ânimo para torcer por outra vitória do "leão", mas na volta quarenta e três susto e frustração abateram-se sobre Silverstone quando Mansell chegou aos boxes da Ferrari de modo abrupto, com o pneu dianteiro direito rasgado após furar. Antes disso, estava a nove segundos de Prost, mas a parada compulsória estendeu a vantagem do francês para cinquenta e cinco segundos, embora o piloto da Casa de Maranello tenha regressado ao combate sem perder o segundo lugar.[20] Na volta quarenta e oito foi a vez de Prost fazer seu pit stop, o qual demorou mais do que o esperado por causa de uma má fixação na roda traseira direita, mas felizmente o problema foi corrigido a tempo.[21]
Com treze segundos de vantagem, Alain Prost viu-se obrigado a acelerar, pois Nigel Mansell forçou o ritmo a ponto de marcar a volta mais rápida da prova na quinquagésima sétima passagem, mas nada que impedisse mais uma vitória de Alain Prost, enquanto Nigel Mansell terminou em segundo lugar a quase vinte segundos do vencedor. Já a última vaga no pódio coube a Alessandro Nanini, cujo motor mais potente e os pneus menos gastos de sua Benetton deixaram a Lotus de Nelson Piquet na quarta posição. "O carro é muito eficiente nas curvas velozes, mas quando você freia para as de baixa, a retomada de aceleração é catastrófica. O motor é muito ruim, não tem torque",[22] disse Piquet ao comentar seu desempenho, sendo que o tricampeão correu sem parar nos boxes. Mais feliz, no entanto, estava a Minardi, cujo quinto lugar de Pierluigi Martini e o sexto de Luis Pérez-Sala (no único ponto na carreira do espanhol) livraram o time fundado por Giancarlo Minardi de submeter-se à lâmina da pré-classificação já a partir do Grande Prêmio da Alemanha de 1989.[23][nota 2]
A primeira metade do campeonato termina com Alain Prost na liderança, somando 47 pontos, enquanto Ayrton Senna tem apenas 27. Trata-se da maior diferença entre ambos desde o ingresso do brasileiro à McLaren,[12] líder inquestionável do mundial de construtores, com 74 pontos. No tocante ao mundial de pilotos, Senna atingiu a constrangedora marca de cinco corridas sem pontuar, quatro das quais de forma consecutiva. Diante de um retrato tão cruel da realidade, até mesmo fora das pistas os rivais o acossam: Alain Prost, por exemplo, atribuiu o abandono de seu adversário não a uma quebra de câmbio, e sim ao "nervosismo" de Ayrton Senna.[17] Questionado a respeito de sua alegria ao perceber a quebra de seu companheiro de equipe, o francês confessou tal sentimento: "Não vou mentir. Vocês sabem que sempre digo a verdade e o que sinto".[21]
Sabendo que a matemática o favorece e o título mundial de 1989 está ao seu alcance, Alain Prost sentiu-se à vontade para incensar Nigel Mansell. "Estou obviamente feliz com a minha vantagem no campeonato, mas não quero falar em título agora, pois temos muitas corridas pela frente e a ameaça da veloz Ferrari de Mansell".[24] Percebendo a intenção de Prost, o britânico respondeu à altura: "E eu estou muito contente com a ida de Alain para a Ferrari, pois é o único piloto com quem posso aprender mais alguma coisa", respondeu o "leão" apregoando (ou antevendo) a contratação de seu colega de profissão pela Ferrari em 1990, situação não concretizada naquele instante.[24][25] Para definir seu futuro, Alain Prost prefere sacramentar o seu título e valorizar seu passe antes de escolher a Williams ou unir-se à Casa de Maranello. Quem basear suas análises na frieza dos números dificilmente negará a derrota de Senna em relação ao mundial de 1989, realidade que fomenta comentários como "Prost não confessa, mas acha que o campeonato está ganho".[26]
Alain Prost tricampeão
"Senti um alívio quando o Ayrton Senna saiu da prova",[27] disse Alain Prost ao comentar o momento decisivo da etapa britânica e suas implicações em relação ao campeonato. Empatado em vitórias com o seu maior rival, o francês tem uma vantagem na pontuação que só mudará caso cometa uma série de erros ou sofra quebras mecânicas. Contudo, desde a chegada de Senna à McLaren, o equipamento de Prost falhou apenas duas vezes: no Grande Prêmio da Itália de 1988 (vencido pela Ferrari de Gerhard Berger)[28] e no Grande Prêmio do Canadá de 1989 (vencido pela Williams de Thierry Boutsen).[6] Nas provas em questão, frise-se, Ayrton Senna também ficou pelo caminho e não marcou pontos.
Na disputa do título, cada piloto só pode somar os onze melhores resultados. Essa foi a quinta prova de Senna sem pontuar e a partir da Alemanha, o atual campeão terá que vencer sete das oito provas restantes para não deixar o francês ampliar a diferença. Em teoria, algo possível, na prática, um feito raríssimo, pois aconteceu somente uma vez ao longo de 476 corridas de Fórmula 1 disputadas em 39 anos, quando Alberto Ascari emendou sete vitórias consecutivas pela Ferrari entre o Grande Prêmio da Bélgica de 1952 e o Grande Prêmio da Argentina de 1953.[29][30][31][32][33][34][35][nota 3] Vinte pontos de desvantagem são uma diferença inédita para a Fórmula 1 desde que Alain Prost a impôs sobre Michele Alboreto nas provas finais de 1985, quando o italiano defendia o time do comendador Enzo Ferrari e, embora não figure na galeria das "diferenças pantagruélicas", é a maior margem entre Prost e Senna desde a formação da dupla como defensores da McLaren.[nota 4] Sob essa perspectiva, enfrentar um rival de talento equivalente e com o mesmo equipamento à sua disposição, agrava a situação de Ayrton Senna, deixando Alain Prost às vésperas de ingressar no clube dos tricampeões, onde já estão Jack Brabham, Jackie Stewart, Niki Lauda e Nelson Piquet.
Classificação
Pré-qualificação
Treinos classificatórios
Corrida
Tabela do campeonato após a prova
- Classificação do mundial de pilotos
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- Classificação do mundial de construtores
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- Nota: Somente as primeiras cinco posições estão listadas. Entre 1981 e 1990 cada piloto podia computar onze resultados válidos por temporada não havendo descartes no mundial de construtores.
Notas
- ↑ A contagem do "Grande Prêmio da Grã-Bretanha" inclui as provas realizadas em 1926 e 1927 sob as regras da Associação Internacional dos Automóveis Clubes Reunidos (AIACR), já a soma oficial do mesmo considera somente as provas realizadas a partir de 1948.
- ↑ Devido ao êxito da Minardi, sete equipes terão que disputar a pré-classificação na sexta-feira anterior a cada corrida durante um ano: AGS, Coloni, EuroBrun, Lola, Onyx, Osella e Zakspeed.
- ↑ Após vencer sete corridas consecutivas, Alberto Ascari não participou das 500 Milhas de Indianápolis de 1953, embora a prova norte-americana integrasse o calendário da Fórmula 1 na época. A Wikipedia anglófona registrou como recorde as nove vitórias consecutivas de Sebastian Vettel pela Red Bull entre o Grande Prêmio da Bélgica de 2013 e o Grande Prêmio do Brasil realizado no mesmo ano, marca vigente até as dez vitórias consecutivas de Max Verstappen pela referida equipe entre o Grande Prêmio de Miami de 2023 e o Grande Prêmio da Itália no ano em questão.
- ↑ Maiores diferenças entre líder e vice-líder do certame: 36 pontos (Jackie Stewart e Bruce McLaren no Grande Prêmio da Itália de 1969), 33 pontos (Niki Lauda e Clay Regazzoni no Grande Prêmio de Mônaco de 1976), 32 pontos (Jackie Stewart e Jacky Ickx no Grande Prêmio da Alemanha e no Grande Prêmio da Áustria de 1971) 31 pontos (Jackie Stewart e Ronnie Peterson no Grande Prêmio do Canadá de 1971; Niki Lauda e Jody Scheckter no Grande Prêmio da Grã-Bretanha de 1976), 30 pontos (Emerson Fittipaldi e Denny Hulme no Grande Prêmio da Itália de 1972).
- ↑ Voltas na liderança: Ayrton Senna 11 voltas (1-11), Alain Prost 53 voltas (12-64).
Referências
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