Glotofagia

Glotofagia (do grego glossa, 'língua'; e phagos, 'comer'), linguicídio ou genocídio linguístico designa o processo político-social pelo qual a língua de uma determinada cultura desaparece parcial ou totalmente, vítima da influência, em maior parte direta e coercitiva de uma outra.[1]

O termo Glotofagia – mais especificamente - é o neologismo criado, em 1974, pelo linguista francês, Louis-Jean Calvet para caracterizar a vocação altericida do Ocidente, consistindo esta na vontade de levar a língua do Outro à extinção.[2]

A extinção de uma língua ocorre quando ela deixa de ser conhecida, inclusive pelos falantes de uma segunda língua, quando passa a ser conhecida como extinta. Outros termos relacionados são linguicídio[3] quando a morte de uma língua ocorre por causas naturais ou políticas, e glotofagia, em que há a absorção ou substituição de uma língua menor por uma maior.[1]

A glotofagia é uma das faces do etnocídio, visto que o desaparecimento de uma língua, seja total ou parcialmente, também acarreta o apagamento de sua cultura. Não há sociedade sem comunicação nem comunicação sem a própria sociedade. A compreensão e a crítica deste fenômeno são essenciais para a análise das relações entre o discurso linguístico e colonial sobre as línguas, assim como as conexões possíveis entre língua e poder[4].

Um exemplo atual de glotofagia pode ser observado no Tibet, onde organizações não governamentais, como Free Tibet[5], denunciam o desaparecimento forçado da língua tibetana a partir de políticas linguísticas chinesas as quais centralizam o ensino da língua chinesa em detrimento daquela, tais como o apagamento do tibetano nas placas e sinalizações desta região, além de um controle do ensino - inclusive monitorando o nível de língua chinesa dos responsáveis pelas crianças e seu uso no ambiente familiar.

Referências

  1. a b Calvet, Jean-Louis (2005). Calvet, Jean-Louis. Linguística y colonialismo – Breve tratado de glotofagia. Buenos Aires, 2005. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica. ISBN 950-557-654-4 
  2. «Observatoire du Plurilinguisme - Glotofagia e guerra das línguas: Das rivalidades linguísticas à geopolítica crítica». www.observatoireplurilinguisme.eu. Consultado em 2 de agosto de 2024 
  3. Zuckermann, Ghil'ad (18 de junho de 2020). «'Stop, Revive, Survive'». Oxford University PressNew York: 186–226. ISBN 0-19-981277-2. Consultado em 2 de agosto de 2024 
  4. Calvet, Louis-Jean (1987). La guerre des langues et les politiques linguistiques (em francês). [S.l.]: Payot 
  5. «Linguicide». Free Tibet (em inglês). Consultado em 2 de agosto de 2024