A estátua é provavelmente uma cópia romana do século II d.C. a partir de um original de bronze feito entre 230 e 220 a.C. O original provavelmente fazia parte de um conjunto de estátuas encomendadas pelo rei Átalo I de Pérgamo, para comemorar sua vitória sobre os gálatas ou gauleses, um antiga tribo celta que havia difundido grupos para a região da Anatólia (atual Turquia) após terem saqueado do santuário de Delfos em 279 a. C.[1]
Uma hipótese considera que essa estátua compunha um conjunto, do qual também faz parte o famoso "Gaulês moribundo" e o menos conhecido "Gaulês ajoelhado", inspirado nas esculturas do pedimento do templo de Afaia, em Egina.[2] Para isso, tal interpretação aponta que o rei tinha laços expressivos com a ilha e uma política cultural voltada para a construção de um ambiente de erudição, com referências clássicas, e autopromoção.[3]
Descrição
A escultura faz parte do que se convencionou chamar de Escola de Pérgamo da escultura, com representações realistas do movimento de corpos, com músculos e expressões faciais mostrando sofrimento e pathos.[4] Um guerreiro começa a enterrar sua espada em seu próprio peito, enquanto olha para trás em postura desafiadora e ainda segura com o braço esquerdo uma mulher, talvez sua esposa, que está falecendo. O sangue começa a jorrar de sua ferida, tal como no caso do Gaulês moribundo. O tipo de penteado, o bigode e a capa característica indicam que se trata de um guerreiro gálata, conforme a convenção iconográfica da época da criação do original. Sua nudez também aparece nas fontes antigas[5] como característica desses guerreiros, embora também possa ser interpretada como a tradicional representação heróica do guerreiro nu grego.[6]
Recuperação e influência
A escultura foi citada pela primeira vez em um inventário da coleção da família Ludovisi, datado de 2 de fevereiro de 1623, e havia sido encontrada pouco antes nos jardins da Villa Ludovisi. A área havia sido antes parte dos Jardins de Salústio na época antiga, e se mostrou uma rica fonte de esculturas gregas e romanas em escavações até o século XIX, tais como, por exemplo, o Trono Ludovisi.[7][1]
Agora parte do acervo do Museu Nacional Romano, em Roma, a obra foi muito admirada e influente a partir do século XVII. Ela apareceu no conjunto de gravuras de esculturas romanas por François Perrier, em 1638,[8] e foi classificada por Gérard Audran em 1683 como uma das esculturas da antiguidade que definiam o cânone das proporções ideais do corpo humano.[9]Nicolas Poussin adaptou a figura para o grupo retratado do lado direito, à frente, de seu quadro O rapto das Sabinas, que hoje se encontra no Metropolitan Museum of Art.[10] Talvez a atribuição a esse contexto se deva à própria descrição do inventário dos Ludovisi, que lista a escultura como de "um certo Mário que mata sua filha e a si mesmo",[11] baseando-se na história de um patrício chamado Sexto Mário, que, procurando proteger sua filha da luxúria do imperador Tibério, havia sido acusado de cometer incesto com ela.[12]
↑ abCADARIO, Matteo. "The Ludovisi Gaul". In: La Regina, Adriano (ed.). Museo Nazionale Romano. Ministero per i beni e le attività culturali, 2010, p. 148
↑HOWARD, Seymour. The Dying Gaul, Aigina Warriors, and Pergamene Academicism. American Journal of Archaeology, p. 483-487, 1983.
↑STEWART, Andrew F.; KORRES, Manolēs. Attalos, Athens, and the Akropolis: The Pergamene'Little Barbarians' and Their Roman and Renaissance Legacy. Cambridge University Press, 2004.