Conhecido como Chico Braz, foi uma figura influente na história de Mauriti, especialmente no Sítio Cipó, no Distrito de Palestina do Cariri. Entre 1952 e 1972, ele se destacou como proprietário do maior engenho de rapadura da região. Contraiu matrimônio com Neném Gomes, da família Gomes de Carvalho e Ricarte de Oliveira.
Natural de Serra Talhada, Pernambuco, Chico Braz migrou em 1915 com seus pais, José Pereira de Medeiros e Maria Januária da Conceição, e seus três irmãos, Firmino Braz, Mariano Braz e João Braz, para a divisa da Serra da Canabrava com Mauriti, onde a família estabeleceu raízes e mais tarde migra para o Sítio Cipó, nas proximidades do "Povoado de Favela", onde contribuiu para o desenvolvimento local.
Biografia Histórica - Chico Braz (1901-1977)
Francisco Braz de Macedo nasceu em 3 de dezembro de 1901, em um sítio do Município de Serra Talhada, no Pernambuco, uma terra marcada pelo sertão árido, mas também pelo espírito de resiliência e trabalho duro. Filho de José Pereira de Medeiros e Maria Januária da Conceição, Francisco cresceu ao lado de seus irmãos João, Mariano e Firmino Braz, enfrentando as dificuldades da vida sertaneja. Embora sua ascendência não fosse amplamente registrada, sabia-se que seus avós maternos eram Antônio da Costa e Jorvina da Conceição, e seu avô paterno chamava-se João Pereira de Medeiros.
Conta-se a narrativa histórica, que o legado de sua família já vinha de gerações de pessoas batalhadoras e de caráter forte. Descendentes de uma numerosa família do Pernambuco e conhecida pela destemida sagacidade sertaneja, os seus pais decidem se mudar para a Serra da Canabrava, para trabalhar nas terras de um conhecido e amigo da família, cujo nome é desconhecido.
Nos primeiros anos do século XX, entre 1910 e 1915, a família de Francisco Braz de Macedo tomou uma decisão que alteraria o curso de suas vidas: migrar para a Serra da Canabrava, uma região de fronteira entre Pernambuco e Ceará, localizada entre os municípios de São José de Belmonte, Mauriti e Brejo Santo. Embora a paisagem ao seu redor mudasse, a determinação de Francisco, um jovem inteligente, permanecia inabalável.
Nesse novo ambiente, cercado pela imensidão das serras e pelo espírito de renovação, ele decidiu deixar para trás o nome com o qual nascera "Pereira" e adotar o sobrenome Braz de Macedo. Talvez essa mudança fosse uma homenagem às suas raízes genealógicas mais antigas, como sobrenome dos bisavós, ou um símbolo de uma nova identidade, mais alinhada à sua visão de futuro e ao papel que começava a desempenhar na construção de sua história e de sua família naquela nova terra cearense.
1929: o encontro histórico entre Chico Braz e Antônio Gomes de Carvalho
Em 1929, os caminhos de Chico Braz e Antônio Gomes de Carvalho, um dos mais influentes homens de Mauriti e descendente da tradicional família Gomes de Moura, de Brejo Santo, família com papel histórico na formação do município, se cruzaram de maneira inesperada. Durante uma viagem pelo interior de Pernambuco, Antônio, fascinado ao avistar uma vasta plantação de milho na árida Serra da Canabrava, decidiu conhecer o homem responsável por aquela impressionante produção.
Esse encontro marcaria o início de uma aliança que uniria Chico Braz à respeitada família Gomes de Moura, com a promessa de casamento com Maria Gomes de Carvalho (Neném Gomes).
Quando encontrou Chico Braz, surgiu não apenas uma admiração mútua, mas um laço familiar que selaria o destino das duas famílias. Antônio prometeu a mão de sua filha, Maria Gomes de Moura, a Chico Braz. E assim, em 1930, o casamento foi celebrado com grande festa em sua fazenda, no Sítio Canabravinha, durante três dias de comemorações que consolidaram Chico Braz como parte da influente família Gomes de Carvalho e Ricarte de Oliveira, sobrenome de sua sogra, Maria Luzia.
No dia 13 de novembro de 1930, Chico Braz e Neném Gomes uniram suas vidas em matrimônio na Capela do Sítio Coité, hoje conhecido como Distrito de Coité, em Mauriti. A cerimônia contou com a presença de familiares e testemunhas, entre elas Antônio Nunes Feitosa, meio-irmão de Chico Braz e fazendeiro de Santana de Mangueira, na Paraíba, também conhecido como Antônio Braz.
Neném Gomes, nascida em 6 de março de 1910, era a segunda de oito filhos de Antônio Gomes de Carvalho e Maria Luzia Ricarte de Oliveira, uma família tradicional que havia migrado do Sítio São Felipe, em Brejo Santo, para a Fazenda do sogro João Ricarte do Nascimento. Este casamento não apenas uniu duas importantes famílias da região, mas também consolidou o papel de Chico Braz como uma figura central no desenvolvimento da comunidade do "Povoado de Favela" e dos sítios vizinhos, dentre eles, o sítio Cipó e sítio Guigó.
Chico Braz, após seu casamento, não apenas se estabeleceu como o maior produtor de rapadura da região de Mauriti, mas também se consolidou como uma figura central para a comunidade local. O engenho que ele construiu em 1952 tornou-se o motor econômico da área, proporcionando trabalho e sustento para inúmeras famílias dos Sítios Guigó, Cipó, Canabravinha e Quixabinha. Sob sua liderança, a produção de rapadura não era apenas uma atividade comercial; ela representava o sustento e a tradição do sertão cearense, ganhando prestígio em todo o estado.
A influência de Chico Braz foi além da economia. Ele desempenhou um papel fundamental na formação política e econômica - histórica do Distrito de Palestina do Cariri, contribuindo, com outros nomes, para o desenvolvimento social e comunitário da região. Seu legado, tanto como líder econômico quanto como pilar da comunidade, ultrapassou as gerações, deixando marcas profundas no capítulo do Cariri e no Ceará.
Engenho de Rapadura: moenda a boi e moenda a vapor
Em 1952, o engenho foi erguido nas terras que Chico Braz recebeu de seu sogro, Antônio Gomes. Aquele local logo se transformaria no coração de uma próspera e movimentada fazenda. O galpão, construído com blocos de pedras retiradas da mata, foi erguido ao lado de um imponente pé de oiticica, que se tornou um marco na paisagem e símbolo da força e perseverança daquela terra.
Com a conclusão da construção do engenho, o canavial se espalhava por campos vastos, suas fileiras verdes contrastando vivamente com a aridez da caatinga ao redor. O calor do sol escaldante fazia o aroma adocicado da cana madura flutuar no ar, criando uma atmosfera de expectativa. Era o momento aguardado: dois robustos bois foram selecionados do rebanho. Eles foram guiados até a moenda, prontos para iniciar a tarefa que transformaria a cana em um doce precioso. O som do maquinário começou a ressoar, prometendo um espetáculo de produção que unia esforço, tradição e sabor.
A produção da rapadura no engenho de Chico Braz, um doce amplamente apreciado, conquistou o paladar dos moradores do Cariri, expandindo seu alcance de Mauriti até a Paraíba e Pernambuco. Essa iguaria não apenas deliciava os locais, mas também fazia longas viagens para cidades como Milagres, Brejo Santo e Missão Velha, chegando até mesmo à terra do Padre Cícero, Juazeiro do Norte. Cada pedaço de rapadura carregava consigo o sabor e a tradição da produção artesanal, solidificando a reputação do engenho de Chico Braz como um verdadeiro símbolo de qualidade e cultura regional em Mauriti.
Modernização do Engenho de Rapadura e abertura da primeira faixa de estrada
O capital econômico adquirido por Chico Braz inspirou um novo passo em sua trajetória: a modernização da produção. Com a visão de expandir seus negócios e aumentar a eficiência, ele decidiu investir em um grande engenho movido a vapor, que comprou em Missão Velha. Essa tecnologia, ainda rara na época, revolucionou sua forma de trabalho e elevou a qualidade da rapadura produzida. Com o engenho a vapor, Chico Braz não apenas otimizou a produção, mas também se destacou como um pioneiro na região, estabelecendo um padrão elevado que atraiu a atenção de concorrentes e clientes.
Sua ousadia e espírito inovador transformaram o engenho em um símbolo de progresso, refletindo sua determinação em deixar uma marca duradoura no Cariri. Para que o maquinário do engenho chegasse à sede de sua fazenda, Chico Braz investiu recursos próprios na construção de quase três quilômetros de estrada. Essa via não apenas facilitou o transporte do engenho, mas também se tornou um importante elo de conexão entre a fazenda e a comunidade. Posteriormente, a prefeitura assumiu a manutenção da estrada, reconhecendo sua relevância para o desenvolvimento da região.
O engenho trouxe um impulso significativo ao Cipó e Guigó, transformando a dinâmica econômica local e possibilitando o acesso a outros sítios. Com o tempo, essa infraestrutura viária se ampliou, estendendo-se até os estados de Pernambuco e Paraíba, consolidando-se como um corredor vital para o comércio e a circulação de pessoas. A visão empreendedora de Chico Braz não apenas modernizou sua produção, mas também contribuiu para o progresso e a integração da região, deixando um legado duradouro para as gerações futuras.
Legado e Força de Chico Braz: traços marcantes de sua história
Homem de temperamento forte e destemido, de estatura alta e cabelo ruivos, ele enfrentava os desafios do campo com coragem e determinação. Embora analfabeto, sua sabedoria nos negócios era admirável e o levava a prosperar. Com o passar dos anos, plantou uma legião de amizades e conquistou o respeito de figuras influentes, incluindo o desembargador Dr. Aurino Leite de Araújo Lima e diversos coronéis da região.
Muitas vezes, Chico Braz foi chamado de "coronel", mas ele sempre recusou esse título, ciente do estigma que esse nome carrega. Para ele, o termo evocava uma imagem de poder e dominação que não refletia sua verdadeira essência. Sua ambição estava enraizada no trabalho árduo e no respeito conquistado por meio de suas ações, e não por meio de qualquer posição de autoridade. Ele preferia ser lembrado como um homem do campo, um empreendedor e um amigo, valorizando as relações de camaradagem que cultivou ao longo de sua vida.
Essa recusa em adotar um título que não se alinhava com seus princípios reafirmou sua integridade e compromisso com os valores que realmente importavam para ele. Sua humildade o destacou entre os demais, tornando-se o primeiro a adquirir um automóvel – um jipe – em Palestina do Cariri, que na época era conhecido como Sítio Favela. Este feito não apenas simbolizava seu sucesso, mas também representava a mudança de uma era, onde o trabalho árduo e a visão empreendedora poderiam desafiar as limitações impostas pela falta de educação formal.
Os irmãos de Chico Braz, Firmino e Mariano, também seguiram seus próprios caminhos, com Firmino tornando-se proprietário de um engenho de rapadura e Mariano estabelecendo-se com suas terras. Exceto por João Braz, que migrou para Santana de Mangueira, os demais irmãos contraíram matrimônio, formaram suas famílias e cultivaram suas propriedades. Cada um deles contribuiu para a herança familiar, perpetuando a tradição de trabalho no campo e a produção de doces, assim como o fortalecimento das raízes que uniam a família.
Descendência de Chico Braz
O casamento de Chico Braz com Maria Gomes de Moura não trouxe apenas prosperidade, mas também uma família numerosa. Juntos, tiveram oito filhos: Raimundo, João, José, Luiz, Maria, Pedro, Audízio e Edson Braz. Esses filhos não apenas herdaram o sobrenome Braz, mas também o legado familiar, ampliando a influência da família ao migrar para outros estados do Brasil e seus trinetos para a França. Chico Braz e Neném Gomes tem 30 netos, 39 bisnetos, 13 trinetos e 2 tetranetos.
Cada um deles perpetuou o espírito de Chico Braz e de sua esposa, Neném Gomes, que era marcado pela determinação e pelo compromisso com o trabalho honesto no campo. A história da família se entrelaçou com a cultura local, e seus descendentes se tornaram parte integrante das comunidades onde se estabeleceram, sempre levando consigo os valores e a ética de seus pais. Essa herança familiar não só solidificou a presença dos Braz em diferentes regiões, mas também contribuiu para a continuidade de uma tradição de trabalho árduo e respeito, que se espalhou além das fronteiras da sua terra natal.
Francisco Braz de Macedo deixou mais do que uma vasta história de superação e de produção de rapadura; ele deixou uma história de luta e construção, uma vida dedicada a transformar a aridez do sertão em riqueza e esperança.Em reconhecimento a essa trajetória notável, a Câmara Municipal de Mauriti imortalizou o nome de Chico Braz em um Projeto de Lei da autoria do vereador Roberto Simão (PT) trecho da CE152 no Distrito de Palestina do Cariri: a Rua Francisco Braz de Macedo. Essa homenagem não apenas celebra sua contribuição ao desenvolvimento econômico da região, mas também destaca a importância de sua família e seu papel como líder comunitário.
Seu legado, tanto no campo econômico quanto no âmbito familiar, ecoa até hoje, servindo como uma prova viva de que, mesmo nas regiões mais áridas, raízes profundas podem florescer com força e dignidade. A história de Chico Braz inspira novas gerações a valorizar o trabalho, a perseverança e o compromisso com a comunidade, mostrando que o verdadeiro sucesso se constrói com honestidade e amor pela terra.
Ultímos anos da vida de Chico Braz e Neném Gomes
Os últimos anos da vida de Chico Braz foram marcados por prosperidade e alegria, refletindo o fruto de seu trabalho árduo e de sua determinação ao longo dos anos. Mesmo já avançado em idade, ele nunca deixou de se dedicar ao trabalho, permanecendo ativo e envolvido nas atividades do campo.
Chico Braz faleceu a caminho da roça, às 8 horas da manhã do dia 15 de junho de 1977, vítima de um infarto fulminante. Sua partida deixou um vazio na comunidade que ele tanto amou e ajudou a prosperar. Após sua morte, sua esposa, Maria Gomes de Moura, mudou-se para a sede de Mauriti, onde também deixou este mundo em 16 de outubro de 1992. O casal está sepultado no jazido do cemitério de Palestina do Cariri, eternizando sua união e legado.
Erguido em 1932, o antigo casarão de Chico Braz resiste ao tempo, mantido com carinho e dedicação pelos descendentes de seu primogênito, Raimundo Braz Gomes, que faleceu em 27 de dezembro de 2014. A preservação dessa construção é um tributo à história da família e à memória de Chico Braz, simbolizando a continuidade de seus valores e a força de suas raízes na terra que tanto amou. A presença do casarão, das histórias e fotográfias e utensílios, assegura que a história de Chico Braz e Maria Gomes de Moura permaneça viva nas gerações que se seguem, inspirando respeito e admiração.
A Origem do Sobrenome Braz de Macedo
Acredita-se que Francisco (Chico Braz) tenha adotado o sobrenome "Braz de Macedo" em homenagem a um provável bisavô materno, prática que foi seguida também por seus irmãos Antônio Braz, Mariano Braz e Firmino Braz. Esse gesto serviu para marcar sua pertença a uma família específica, mesmo que seus pais tivessem sobrenomes diferentes.
Na época, era comum que um indivíduo adotasse o sobrenome de uma família para ser reconhecido como parte daquele clã.
Sabe-se que ele tinha traços de parentesco com a família Ignácio de Medeiros, Costa e Pereira do Pernambuco.