O fim de Fliolmo tem paralelo com o de Hundingo, cuja vida foi contada no Feitos dos Danos de Saxão Gramático, e Veraldur, citado na faroesaBalada de Veraldur na qual era um filho de Odim. Seu nome, por sua vez, aparece em várias obras distintas como um dos nomes de Odim.
Fliolmo era filho de Ínguino e pertencia à Casa dos Inglingos. No Livro dos Islandeses, que cita-o numa genealogia dos Inglingos ao fim da obra ([...] III Freyr. IIII Fjölnir. sá er dó at Friðfróða. V Svegðir [...]), morreu em Friðfróði (lit. Frodo, o Pacífico), nome nórdico do rei dinamarquêsFrodo III.[7] A História da Noruega, além de comentar sobre sua genealogia, indica que morreu afogado numa tina de hidromel:[6][16]
“
[...] Froyr uero genuit Fiolni, qui in dolio medonis dimersus est. Cuius filius Swegthir [...]
”
Segundo a Canção de Grótti, que estabelece que Frodo e Fliolmo governaram no tempo do imperadorAugusto(r. 27 a.C.–14 d.C.) e Jesus, Frodo visitou Fliolmo na Suídia (terra dos suíones e território original da Suécia). Em seu retorno, levou duas escravas, Fênia e Mênia, que eram grandes e fortes (gigantas):[3]
“
Sonr Friðleifs hét Fróði. Hann tók konungdóm eptir fǫður sinn í þann tíð er Augustus keisari lagði frið of heim allan; þá var Kristr borinn. [...] Fróði konungr sótti heimboð í Svíðióð til þess konungs, er Fiǫlnir er nefndr. Þá keypti hann ambáttir tvær, er hétu Fenia ok Menia; þær vóru miklar ok sterkar. [...]
”
Segundo a Saga dos Inglingos, Fliolmo era filho de Ínguino e Gerda, filha de Gimir.[17] Sucedeu seu pai como rei dos suíones em Upsália, era poderoso e seu reinado foi marcado pela paz e boas colheitas. À época, em Hleidra (atual Leire, na Zelândia), reinava Frodo III, o Pacífico, com quem mantinha amizade e convidavam um ao outro para celebrações. Em certa ocasião, Fliolmo foi visitar Frodo na ilha de Zelândia, onde enorme festividade foi feita e muitas pessoas de terras próximas e distantes foram chamadas. Frodo ordenou a construção de uma enorme tina, de vários ells de altura e reforçada por toras robustas, que foi colocada no piso inferior de um armazém, sobre a qual havia uma sacada com uma abertura no chão para que líquidos pudessem ser despejados e o hidromel misturado.[18]
À noite, Fliolmo e seu séquito foram levados a alojamentos em um sótão próximo. Durante a noite, saiu na varanda para encontrar um lugar para se aliviar, mas estava sonolento e bêbado. Na volta para os alojamentos, atravessou a varanda e entrou na porta errada do sótão, se desequilibrando e caindo no tanque de hidromel, onde se afogou. Ao falecer foi sucedido por seu filho Suérquero. Segundo Tiodolfo de Hvinir:[19]
“
Destino de morte,
onde morava Frodo,
cumprido foi,
sob o condenado Fliolmo;
e na medida espaçosa,
do hidromel
onda sem vento,
o guerreiro morreu.
”
Interpretações modernas
Para Claus Krag, ao analisar, em conjunto, as mortes dos primeiros quatro reis citados da Saga dos Inglingos depois de Ínguino (Fliolmo, Suérquero, Valandro e Visbur), é possível inferior que os escandinavos tinham conhecimentos da teoria clássica dos quatro elementos (fogo, água, terra e ar) nessa interpretação: segundo Claus, Fliolmo foi morto pela água (metáfora da tina de hidromel), Suérquero foi morto pela terra (metáfora da rocha), Visbur morreu pelo ar (metáfora do mora enviado para sufocá-lo) e Valandro morreu pelo fogo. Para John McKinnell, aplicando esse raciocínio a outras obras nórdicas cujas mortes poderiam induzir à mesma conclusão, é mais provável que representem a visão germânica das três forças destrutivas da natureza – mar, fogo e tempestade – em vez da ideia dos quatro elementos.[20] Svante Norr sugeriu que a teoria dos elementos, cristianizada de Platão por Agostinho de Hipona, chegou no norte da Europa via Beda e outros e deve ter alcançado a Escandinávia, mediante contato com os anglo-saxões, no final do século XI,[21] uma data que Rory McTurk concorda.[22]
Mckinell, por sua vez, concorda com a teoria de que Fliolmo e Suérquero representam opostos de fortuna: a morte de Fliolmo na tina de hidromel pode ser metáfora para morte por excesso, enquanto a morte de Suérquero engolido pela rocha seria metáfora para esterilidade.[23] Já Goeres lembra que estavam embriagados quando morreram[24] e Claus Krag pensou que as estrofes de Tiodolfo sobre a vida deles podem se referir, não a reis propriamente, mas Odim, vencedor do hidromel da poesia, como o deus era comumente referido. Stephan Grundy, assumindo que ele estava certo, sugeriu que talvez essa menção a Odim fosse uma convenção de invocá-lo no início de uma poema escáldico e que podia não ter havido motivos antes do tempo de Esnorro para assumirem Fliolmo e Suérquero como reis históricos.[25] Krag ainda sugeriu que Sucmimir fosse outro nome para Surtur,[26] dando mais ênfase à teoria da ligação dos reis com Odim, pois o gigante aparece na narrativa do hidromel da poesia.[27]
Paralelos e outras menções
No Livro I (8.27) do Feitos dos Danos de Saxão Gramático é relatada a vida de Hundingo, cujo fim tem paralelos com o de Fliolmo.[28] O mesmo se pode dizer da faroesaBalada de Veraldur registrada em 1840 e citada em 1973 por Georges Dumézil na qual Veraldur, filho de Odim, morre afogado num barril de cerveja numa visita a Zelândia.[29][30]
O nome de Fliolmo foi reutilizado em outros contextos como um dos nomes de Odim: em Ditos de Grimnir, quando o deus se revela para o gigante Geirrodo; no Ditos de Regino e numa citação aos Ditos na Saga dos Volsungos, quando está numa montanha de pé se dirigindo a Sigurdo e Regino; na Alucinação de Gilfi de Esnorro Esturleu é um dos 12 nomes dados a Odim e é novamente listado quando Esnorro cita os Ditos de Grimnir; aparece com regularidade na poesia escaldica.[31]
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